É assim que eu me lembro 2 – Capítulo 06 – Acorde!

É assim que eu me lembro 2 – Capítulo 06 – Acorde!

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Acordei quase uma hora depois, com o telefone celular, era Christiane que perguntou se estávamos bem, eu disse que estava e que já iríamos embora pois Dani estava dormindo. Acordei e me espreguicei, vi Dani dormindo, linda e jogada na cama,  seu cabelo espalhado como uma flor aberta, suas perninhas juntas viradas para o lado oposto do troco, seu narizinho apontava para mim, cutuquei-a “Olá narizinho” ela não se mexeu, cutuquei com mais força “Dani, acorda” ela não se mexeu, insisti pegando em seu ombro e sacudindo-a “Dani, acorda, vamos embora” sacudi mais forte, não ouve nenhuma reação, balancei mais forte e nada, ela nem se me mexeu, estava mole, ajoelhei na cama e cheguei perto de sua boca para escutar a respiração, não senti nada e me apavorei, peguei-a pelos ombros e sacudi com força “Dani acorda”, ela não respondia mas deu uma respirada mais forte que o normal, ao menos estava respirando, vesti minha roupa rápido, ainda estávamos sujos de porra mas não me importei, puxei-a para  mais perto da cama e peguei o telefone da recepção, me atenderam do outro lado “Recepção, boa noite” e eu disse com uma voz assustada “Por favor, chama o resgate para mim, minha companheira desmaiou” e ela respondeu “Já estou chamando senhor”, desligou o telefone e eu tentei reanimar  Dani, a sacudi por alguns momentos e chamei o nome dela, vi seus olhos e mexerem semi serrados, coloquei o dedo na frente de seu rosto e movi de um lado para o outro, ela seguiu meu dedo com os olhos, estava consciente, mas não se mexia.

Vesti-lhe a roupa com cuidado, mas com rapidez, o telefone do quarto tocou, dessa vez uma voz masculina “Alô, senhor, esta tudo bem por ai?” e eu disse “Não, você chamou o resgate?” e ele disse “Já chamamos, eles estão indo para o quarto agora, devem estar chegando” ouvi uma batida na porta da garagem do quarto, fui atender e eram 3 homens com roupas semelhantes a de bombeiro e uma maca na mão além de uma mochila grande com medicamentos, fiz um sinal para eles, que entraram rapidamente no quarto, colocaram a maca e um deles tentou ouvir a respiração dela e disse “Está fraca”, imobilizaram-na na maca e um deles me perguntou “Senhor, o que aconteceu?” e eu disse “Estávamos dormindo e ela simplesmente não acordou” dois saíram levando Dani e eu fui atrás, o outro bombeiro me parou e questionou “Senhor, vocês fizeram sexo, correto?” eu confirmei com a cabeça e ele disse “Ela demonstrou alguma fraqueza ou algo do tipo? Dor de cabeça ou etc?” e eu disse “Não, não demonstrou nada” ele pensou e disse “Ok, venha conosco”. Colocaram Dani dentro da ambulância, ela estava paralisada, deixei meu carro no motel e fui com Dani, o carro balançava e ela olhava para cima, seu olhar estava perdido, seu corpo mole balançava com o sacolejo da ambulância eu perguntei para o enfermeiro que media sua pressão e que fazia alguns exames rápidos “Como ela está?” ele me olhou e parecia confuso “Não sei dizer, a pressão está normal, a respiração também está ok”, se eu não conhecesse uma pessoa desmaiada eu diria que está fingindo”, colocou uma luz no olho de Dani e vi suas pupilas mudarem de tamanho mas permaneceram estáticas, então ela me olhou e eu quase consegui ouvir seu pedido de socorro, me aproximei e passei a mão em sua cabeça dizendo “Calma querida, vai ficar tudo bem” ela manteve o olhar fixo em mim. O enfermeiro começou a guardar as coisas e me disse “Ela está estável, vamos chegar tranquilos até o hospital, lá o médico vai saber o que fazer. Vocês são casados?” e eu respondi “Ok, não, não somos” o enfermeiro me olhou, em seguida desviou o olhar, pegou uma gase e foi até o pé de Dani, passou a gaze suavemente na palma de seu pé, como por reflexo ela mexeu o pé e ele disse “Ela está perfeita, não entendo”.

Chegamos ao hospital, com cuidado os enfermeiros levaram Dani para dentro, uma outra equipe a pegou e levou a uma sala, não quiseram me deixar entrar, mas ignorei as ordens e fiquei com ela, as enfermeiras começaram a tirar a sua roupa, e eu ajudei, no momento de tirar a calcinha a enfermeira foi mais rápida e puxou de uma vez, quando viu o membro mole de Dani, caído de lado se assustou e disse “Gente, o que é isso?” e eu falei “Ela é um homem, a senhora pode ser mais discreta?” ela me disse “Desculpa, eu não sabia”, a cobrimos e o médico entrou em seguida, fiquei acariciando seu cabelo e tentando reconfortá-la, seus olhos agora estavam fechados, não sabia se podia me ouvir o médico olhou para mim e disse “Boa noite, o que houve com a moça?” a enfermeira disse “Doutor, é, bem” e eu disse “É um homem doutor”, ele me olhou  por cima da armação dos óculos e franziu a testa, se aproximou de Dani e levantou o pano que a cobria discretamente, e fez uma expressão de compreensão e olhou para mim “E o que aconteceu?” e eu disse “Ela dormiu hoje, tentei acorda-la para irmos para casa e ela simplesmente não acorda, chegou a abrir os olhos um pouco e me seguiu com o olhar, mas não tem reação, o doutor pegou uma agulha e espetou o dedo de pé dela, ela tirou o pé como por reflexo, ele fez anotações em uma prancheta e me disse “O que vocês fizeram antes de ela dormir” me envergonhei, olhei para as duas enfermeiras que perceberam a minha vergonha mas não fizeram nada, eu respirei e disse “Estávamos em um motel doutor, transamos antes dela dormir” o médico sem mudar sua expressão ou vacilar nas palavras me perguntou “Ela bateu a cabeça em algum lugar?” e eu disse “Não, ela dormiu primeiro que eu” e ele disse “Antes disso, ela levou alguma pancada forte na cabeça ao ponto de fazê-la desmaiar?” eu pensei e disse “Não, que eu saiba, ela está no Brasil a pouco tempo” o médico continuou a fazer anotações e disse “Bem, vamos coloca- la em observação” então eu me lembrei do incidente, do tiro e disse “Doutor, houve uma pancada sim, mas faz um sete anos” ele me olhou por cima da armação do óculos e perguntou “E o que houve?” eu disse “Foi um tiro” dei a volta na cama e virei a cabeça dela mostrando a cicatriz atrás da orelha, ele se aproximou para ver e deu um murmúrio, fez um sinal de positivo com a cabeça e disse vamos fazer alguns exames. Colocaram equipamentos de monitoração em Danielle, para respiração se necessária, batimento cardíaco, pressão e tudo mais, sai e fui fazer a papelada, meu telefone tocou, era Christiane “Alo, amor, ta vindo pra casa?” e eu disse “Oi amor, não, houve um problema” e ela disse “Que problema, aonde você esta?” e eu disse “Estou no hospital, o mesmo que ficamos da vez do incidente” ela ficou em silêncio “O que houve?” e eu disse “A Dani, ela, ela… não acorda” ela ficou muda por alguns segundos e me perguntou “Ela faleceu?” e eu disse “Não, sua saúde esta perfeita, mas ela não acorda, vão fazer alguns exames nela, vou fazer a ficha no hospital.” Ela disse “Estou indo para aí agora” e eu disse “Não amor, vai no motel, aquele perto de casa e pega meu carro, paga a conta também, não deu tempo, vim na ambulância com Dani” ela concordou e desliguei.

Fui até o guichê, eu estava sem reação, não me sentia nem feliz nem triste, na recepção estava a enfermeira que tirou a roupa de Danielle, ela disse “O Senhor tem a identidade do paciente aí?” eu peguei a bolsa de Danielle que trouxe comigo e abri, encontrei seu passaporte, a identidade havia ficado no motel. A Enfermeira olhou no documento, preencheu os dados, eu disse “Moça, o nome social dela é Danielle” e falei endereço e tudo mais, ela imprimiu a ficha e me passou, estava escrito Daniel no nome completo, e no campo “Nome Social” não havia nada, eu devolvi o formulário e disse “Está errado, o nome dela é Danielle” a mulher pegou o formulário e disse “O Senhor escreve a caneta o nome que quiser” me deu uma caneta e empurrou o formulário, eu não queria briga, não queria nada, queria apenas que tudo voltasse ao normal, devolvi delicadamente o formulário para ela e disse “Preencha o nome correto no sistema, por favor, então vai sair certo na ficha”, ela me devolveu a caneta e disse “Senhor esse não é o procedimento do hospital”, minha irritação passou de zero para um milhão, dei um soco no balcão e gritei “Foda-se que o procedimento não é esse, preenche esse caralho certo sua preguiçosa” ela arregalou o olho para mim e disse “Não posso imprimir outra via se essa está correta”, o segurança se aproximou e perguntou “Algum problema senhor?” eu disse “Sim, essa mulher não está preenchendo a ficha direito, o senhor por favor poderia me chamar um responsável, quero fazer uma reclamação” e ele pegou no meu braço e disse “Vamos conversar ali senhor, o senhor está muito exaltado” puxei  o braço e ameacei “Não encosta em mim de novo, ta ouvindo?” ele me olhou assustado e eu disse “Chama a porra do caralho da direção dessa merda” um outro homem uniformizado se aproximou e eu percebi que era um policial militar, ele colocou a mão na arma e me perguntou “O que está acontecendo?” e eu disse “Essa filha da puta não quer preencher a ficha certo, ta morrendo de preguiça” e o policial disse “Tá, fica calmo, vamos conversar” e me indicou uma sala mais a frente, entrei na sala ele ficou com a mão na arma e disse “O que ela fez?” e eu disse “Estou com minha cunhada aqui, ela esta desmaiada, é um travesti, se chama Daniel, mas todos a chamam de Danielle, falei para a atendente colocar o Nome Social dela, como Danielle e ela se recusa” chegou um parceiro do policial e ficou ao seu lado, o policial que falava comigo disse “Um momento” saiu da minha visão e o outro falou “Fique calmo senhor, está tudo bem”, me sentei na cadeira que tinha na sala, menos de um minuto depois o policial voltou, falou algo para o outro que guardou tirou a mão da arma e me disse “Pode vir senhor, está tudo bem” saí da sala, uma outra mulher, de cabelos  brancos, estava no balcão preenchendo as fichas e disse “O senhor falou Danielle né?”, eu confirmei e ela disse “Desculpe, essa enfermeira é nova aqui e não esta acostumada aos procedimentos do hospital” e eu disse “Vou fazer uma reclamação formal” peguei a ficha e assinei, o nome estava certo, ela seria tratada como ela queria, como Danielle.

Aguardei por quase uma hora na recepção, Christiane e Táta chegaram e se juntaram a mim, contei o que havia acontecido e Christiane disse que já havia pegado o carro e pagado a conta, agradeci por ela ser tão compreensiva, aguardamos por mais 1 hora, a cada 10 minutos Táta, Chris ou eu íamos  pedir notícias, então o médico veio até mim e disse “Senhor Alberto, posso falar com o senhor em particular?” e eu perguntei “Como ela está?” ele disse “Não ouve alterações no quadro da paciente, por favor me acompanhe”, entrei na sala do médico, Christiane e Táta entraram logo atrás de mim, o médico olhou para elas e em seguida para mim, eu disse “Minha esposa e minha sobrinha doutor, tudo bem” ele fez que sim com a cabeça e me mostrou um exame que parecia uma radiografia, colocou contra o quadro de luz que estava fixado na parede e nos mostrou dizendo “Esse é raio x da cabeça de Danielle. Fizemos alguns exames e chegamos a essa conclusão” pegou uma caneta e apontou para a lateral da cabeça dela, apontando minúsculos pontinhos brancos e disse “Esses são fragmentos do acidente que ela teve a alguns anos, esse pontos claros são pedaços do osso que foram reabsorvidos, não vão fazer mal, mas esses mais fortes são algum tipo de metal que o organismo não vai absorver” ficamos em silêncio e o médico nos deixou pensar e eu disse “Por que isso só apareceu agora? Sete anos depois?” ele disse “Sempre esteve aí, talvez estivesse muito inchado na área para saber, mas três ou quatro meses depois de ter ocorrido já daria para ver, não sei se os exames foram feitos corretamente ou com atenção suficiente” olhei para o médico, ainda estava tentando entender a situação “Doutor, logo após o ocorrido ela foi para o Canadá e ficou lá esse tempo todo, não sabemos nada” o médico fez uma anotação e eu continuei “Mas por que ela apagou agora? Por que não meses ou anos depois do tiro?” e ele me disse “Algo diferente ocorreu hoje Senhor Alberto, algo que não havia ocorrido nos últimos sete anos, e isso disparou uma cadeia de eventos que não a permite acordar mais” vi quando Táta encostou a cabeça no peito de Christiane, chorando, passei a mão em sua cabeça e perguntei ao médico “Isso pode ser corrigido?” ele fez que sim com a cabeça e disse “Temos duas possibilidades, a primeira é deixar como está e ela poderá ter uma vida saudável, porém não sabemos se isso pode afetar a memória dela de alguma maneira” apontou para os estilhaços no raio x e continuou “essa é a área da memória, está interferindo justamente aqui, não sabemos nesse momento como está a memória dela, ela pode ter esquecido algo, ou simplesmente tudo” o terror me veio aos olhos de novo.

Ela poderia ter esquecido tudo? De novo? Voltaríamos a estaca zero? Não sabia o que fazer, meu coração acelerou, Christiane abraçou Táta e as duas começaram a chorar, guiei-as para fora da sala e uma enfermeira as levou para o banco, voltei para falar com o médico “Qual a segunda opção?” e ela disse “Vamos operá-la, vamos retirar o máximo que pudermos os estilhaços sem Danificar o seu cérebro” eu perguntei “Quais são os riscos?”  e ele me disse “Não vou mentir para o senhor, os riscos são variados, ela pode perder permanentemente a memória se algo der errado, pode inclusive morrer por causa disso” e me senti muito mal e questionei-o “E qual a possibilidade de isso ser resolvido?” ele me disse com seriedade “Creio que a possibilidade é de 50% mas eu não sou nenhum especialista para afirmar isso, liguei para um conhecido meu, ele é neurocirurgião e virá aqui amanhã cedo para avaliar o caso dela, vamos aguardá-lo” concordei com ele e agradeci.

Voltei para o corredor e parecia que todas as pessoas incluindo Táta e Christiane me olhavam, parecia que o mundo inteiro sabia da decisão que teríamos que tomar. Me aproximei das meninas e perguntei “Kátia e Steve sabem o que houve?” Christiane disse que não sabiam, liguei para Kátia imediatamente, informei que estávamos no hospital, ela e Steve chegaram em minutos, expliquei a situação e eles falaram novamente com o médico, os dois ficaram Naturalmente arrasados, não mais que eu.

Fui ao quarto ver Danielle, ela dormia como um anjo, sem expressão, tranquila, parecia que ia acordar a qualquer momento, ficamos todos ao lado dela, até que a enfermeira nos avisou que teríamos que sair e que apenas um de nós poderia ficar, dona Kátia disse “Podem ir, eu fico” eu disse “Não, todos podem ir descansar, eu ficarei” Kátia olhou para mim com fúria e disse “Eu sou a mãe dela,  eu fico” olhei para Kátia sem expressão e disse “Eu fico” não sei se pelo tom de voz, ou pela falta, ou excesso, de sentimento que passei naquela pequena frase, mas ela não disse mais nenhuma palavra, beijou Dani na testa e saiu. Todos foram embora, fiquei ao lado da cama de Dani a noite toda, observando-a, em alguns momentos seus olhos se mexiam e ela sorria, em outros fazia uma expressão de terror, imaginei que suas memórias estivessem em colapso, devia ser por volta das três horas da manhã, eu falava com Táta e com Christiane através de mensagens de texto do celular, elas não estavam dormindo também, estavam em casa deitadas para tentar descansar um pouco a cabeça. Em determinado momento da noite, o cansaço me pegou, sentado ao lado da cama, encostei a cabeça na cintura de Dani e adormeci, acordei de repente com alguém acariciava minha cabeça de leve, levantei sorrindo e olhei para Dani na cama do hospital, ela sorria, mas estava ainda de olhos fechados, percebi que sua mão acariciava agora a  cama, ela estava sonhando. Peguei sua mão com as duas mãos e beijei, ela abriu os olhos e gritou levando as mãos ao rosto, se encolhendo na cama, segurei em suas mãos e disse “Calma Dani, calma é o Beto, calma, ta tudo bem” ela me olhou e percebi que seu olhar estava diferente, não era igual ao que vi horas antes no restaurante e no motel ela pegou minha cabeça com as duas mãos e perguntou “Beto!, você está bem?” e eu disse “Sim, estou bem, claro que estou” ela me puxou pelo colarinho e passou a mão em meu peito, cintura, olhou para meu corpo como se procurasse desesperadamente por algo, apertava e levantava minha e eu  disse “Calma meu amor, calma, o que você está procurando?” e ela disse assustada “A Táta, cadê a Tatá? Ta tudo bem com ela?” eu peguei suas mãos e a encostei na cama novamente dizendo “Ela está ótima, calma” ela se encostou e disse “Eu vi, eu vi eles atirando na gente amor” as  lágrimas brotaram do seu rosto “Eles atiraram em você e depois em mim” ela só podia estar falando do incidente que tivemos, aonde tentaram nos executar e eu disse “Dani, calma, já passou” ela respirou fundo e agarrou minha mão com as duas mãos e disse “Acho que eu estava sonhando, o tiro pegou na sua mão” e me fez abrir o punho, nele a cicatriz da bala ainda era visível, ela olhou para mim incrédula, seu olhar parecia não compreender o que estava vendo, e ela disse “O que, o que é isso?” e eu disse “A Cicatriz Dani, o tiro pegou aqui e na minha perna” ela começou a ofegar e disse “Não pode ser” começou a passar a mão freneticamente no próprio rosto procurando por algo, eu peguei sua mão e posicionei delicadamente atrás da orelha esquerda, ela passou suavemente os dedos e tirou num movimento de repulsa, como se tivesse medo do ferimento, seus olhos estavam arregalados e me disse  chorando com a voz embargada “O que está acontecendo? Não estou entendendo nada” então eu percebi, ela havia perdido a memória de novo, e alguma coisa estava faltando, então eu disse “Dani, você sabe que dia é hoje?” e ela disse “Sei sei sim, é o seu aniversário” e eu disse “De que ano?” ela me falou uma data de sete anos atrás, dessa vez minhas pernas ficaram bambas, abaixei a cabeça, respirei fundo e olhei para ela falando “Dani, não é mais essa data” ela me olhou franzindo a testa e disse “A quanto tempo estou aqui?” e eu falei “A Algumas horas” ela me olhou sem compreender e disse “Já é um dia depois?” e sorriu, vi novamente o sorriso da minha Danielle, o meu anjo que havia morrido a tantos anos, não consegui conter o meu próprio sorriso e minha voz quase não saiu, ela passou a mão na minha cabeça olhando meus cabelos e disse “Acende a luz” eu acendi e ela me olhou com estranheza dizendo “Nossa, o que aconteceu?” eu perguntei “Por que?” ela  disse “Você está diferente, estranho, cabelo branco” passou a mão em meu rosto, seu polegar tocou dois centímetros abaixo de meus olhos e ela sussurou “Rugas”, fechou os olhos por alguns minutos, me preocupei e perguntei “Tudo bem?” ela disse “Amor, a quanto tempo estou aqui?” e eu disse “Você está aqui, no hospital a algumas horas” e ela fez sinal de negativo com a cabeça, então, ainda sem abrir os olhos, perguntou “A quanto tempo tentaram nos matar a tiros?” eu respirei fundo e disse pausadamente “Sete anos” ela abriu os olhos, seu olhar era desafiador, estavam vermelhos de lágrimas e ela me perguntou “Estive dormindo esse tempo todo?” eu respondi rápido “Não, você estava acordada, viveu uma vida inteira” ela sorriu e falou “Com você?” eu fiz que não com a cabeça e disse “Não, você voltou para mim a alguns dias, teve sua vida própria com sua mãe e com o Steve no Canadá” ela se encostou na cama de novo, pensando no que eu havia dito e repetiu “Sete anos” colocou as duas mãos no rosto como sempre fazia quando estava preocupada ou triste, ouvi o barulho do monitor cardíaco disparar, apertei o botão para chamar a enfermeira e ela chegou em alguns segundos, o corpo de Dani ficou mole, ela desmaiou, a enfermeira a viu amolecendo e a ajudou, colocamos ela deitada novamente, os batimentos cardíacos se acertaram.

Ela abriu os olhos e me disse devagar “Você está bonito, tiozão” e sorriu, também sorri e respondi “Você também está, HQ” ela franziu a testa e disse “HQ?” e eu me dei conta da besteira que falei, ela não iria lembrar das tatuagens, peguei seu braço embaixo da coberta e o tirei, ela arregalou os olhos e disse “O que é isso?” tirou os dois braços e se olhou com surpresa, viu que estava toda tatuada, eu disse “Você que fez, lá no Canadá, no tempo que esteve fora” ela me olhou e perguntou “Você gosta?” e eu disse “Eu amo você de qualquer jeito” ela sorriu e pediu um beijo, eu a beijei como não o fazia a anos, era um beijo diferente, o meu beijo estava de volta.

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Rafaela Khalil é Brasileira, maior de idade, Casada. Escritora de romances eróticos ferventes, é autora de mais de vinte obras e mais de cem mil leitores ao longo do tempo. São dez livros publicados na Amazon e grupos de apoio. Nesse blog você tem acesso a maioria do conteúdo exclusivo.

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