Capítulo 116 – Odnanref
Anos antes
Aproximadamente nove horas da noite, a rua estava escura e uma leve chuva começava a aumentar.
Fernando ouviu Flávia puxando malas pelo corredor, vestiu uma bermuda e saiu sem camisa para procurá-la ele sabia que ela iria fazer algo idiota, correu até a sala e a tocou
— Você não vai embora mesmo né? — Fernando segurou o pulso de Flávia quando ela tentava sair da casa com mochila e duas malas de rodinha
— Não encosta em mim! — Flávia falou em um tom autoritário
— Flávia, me deixa explicar
— Você me estuprou, eu não esperava isso de você. Eu disse não e você esperou um desmaio meu para fazer isso!
— Você não sabe o que está acontecendo, deixa eu te explicar
Flávia soltou a mão dele com força, jogou a mochila no chão e o guarda chuvas também
— Fala caralho, explica essa porra então, eu desmaio e acordo com meu cu rasgado por você, você sabia que eu tenho desmaios constantes e você se aproveitou disso, traiu minha confiança e maculou meu corpo, você me destruiu! — As lágrimas desciam dos olhos de Flávia
— Não, não existem desmaios! — Fernando falou desesperado — Você não entende
— Explica! — Flávia deu um berro, lembrou muito a expressão de Olivia
Fernando a olhou, ofegante e tomou ar para falar
— O que está acontecendo aqui — Dr. Fernando, o pai de Fernando e Flávia apareceu
— Seu filho, Dr. Fernando, como sempre ele está causando problemas — Flávia respondeu limpando as lágrimas
— O que aconteceu dessa vez? — O pai perguntou
— Pai, ela acha que tem desmaios, ela perde a consciência, mas não sabe o que acontece, conta pra ela pai! — Fernando suplicou
Flávia olhou para o pai confusa
— Contar o que? — Flávia perguntou olhando para o pai.
De cabelos grisalhos, barba mal cuidada por fazer e olheiras marcadas, o velho Dr. Fernando se aproximou de Flávia, ela sentiu o odor de Whisky caro.
— Filha, você tem alguns problemas, uma leve epilepsia com problemas hiperglicêmicos, são essas coisas que causam seus desmaios, já falamos sobre isso nas nossas sessões
— Mentiroso! — Fernando gritou justamente quando um raio iluminou a sala fazendo Flávia se assustar
— Como é que é meu jovem? — O Pai pergunto olhando por cima dos óculos redondos
— Conta pra ela pai, fala da Olivia, fala que você tá usando ela, não eu! — Fernando gritou em desespero — Para de mentir, não deixa ela ir embora!
Dr. Fernando se aproximou e deu um tapa no rosto do filho, a mão era grossa e áspera, acertou Fernando na bochecha e na têmpora ao mesmo tempo fazendo-o tontear e seu sangue ferver.
Dr. Fernando apontou para o filho
— Eu sou seu pai, me respeite, seu moleque! — Dr. Fernando parecia irritado, passou a suar de repente.
Flávia olhava de um lado para o outro confusa
— Que mentira? — Flávia cruzou os braços e olhou para o pai — Ao que ele está se referindo?
Dr. Fernando a olhou de cima embaixo, Flávia usava um sobretudo impermeável que ele havia comprado para ela em Londres anos antes, era uma peça surrada, mas ela adorava
Dr. Fernando olhou para os filhos, Flávia com cara de assustada e com o rosto vermelho cheio de lágrimas e Fernando encostado na parede com uma mão no rosto.
— Flávia — Dr. Fernando a encarou — Há um problema que eu carrego em mim, e a culpa é minha é minha, eu passei algo para vocês
— Passou o que? — Flávia franziu o cenho, não fazia ideia do que o pai falava, então ele continuou
— Geneticamente eu tenho alguns problemas mentais e desde jovem tomo medicamentos para controlar essas alucinações, essas coisas são indubitavelmente genéticas, e quando você nasceu eu percebi que você tinha esse problema, depois notei também que os problemas também se repetiam com o Fernando — Apontou para o filho
— Eu não tenho nenhum problema mental — Fernando berrou — Flávia, ele está mentindo, pergunta pra ele sobre a Olivia!
Dr. Fernando respirou fundo, o suor desceu pela testa, ele apontou para Fernando
— Você não é um homem de verdade, se você não tem a sua palavra você é só um rato, e eu não tenho filho rato, você vai para um internato amanhã
— Eu não vou ficar longe dela, eu a amo! — Fernando suplicou
— Não Fê! — Flávia impediu que o irmão continuasse
Outro raio dessa vez acompanhado de um trovão iluminou a sala
O Pai olhou para os dois, seus olhos os examinavam, primeiro Flávia, depois Fernando, ele viu como eles se olhavam e entendeu
— Não, você não — Ele se deteve, não queria aceitar aquilo — Vocês, vocês?
— Sim, estamos juntos, eu a amo como minha mulher! — Fernando bradou enfrentando o pai
Outro trovão e as luzes se apagaram, acima das portas fracas luzes de emergência se acenderam, a casa era grande e bem planejada, Dr. Fernando era um fã de segurança, mesmo que houvesse deixado a prudência de lado nos últimos meses.
— Vocês são irmãos, vocês não podem fazer isso, vocês não fizeram isso fizeram? – Dr. Fernando perguntou incrédulo olhando para Fernando
Fernando tinha um olhar desafiador
— Vou me casar com ela, eu a amo!
O pai olhou para Flávia, devagar, preocupado, querendo que ela desmentisse tudo
— Flávia, isso é verdade? — Ele perguntou sentindo sua mão esquerda tremer
Flávia abaixou o olhar e virou o rosto sem responder
— Flávia! – Dr. Fernando gritou chamando a atenção da filha
Ela olhou para ele assustada e as lágrimas brotaram novamente nos olhos
— Sim, nós dormimos juntos
Dr. Fernando se aproximou dela e toco-lhe o queixo, ela o olhava atenta, com medo e com respeito, sentia um profundo arrependimento por decepcionar o pai. Então em um segundo o pai a agarrou pelo cabelo e a puxou com violência
— Aaaaiii — Flávia gritou de medo e dor
— Larga ela — Fernando voou nas costas pai e levou uma cotovelada direto na boca, caindo de costas
Dr. Fernando olhou e viu o filho no chão, virou-se para Flávia ajoelhada
— Por que? Você é a mais velha, você sabe o que está fazendo, falamos disso na terapia, em que ponto você perdeu o controle? — O pai estava irado
— Para pai, está me machucando! — Flávia chorava e gritava
— Fala pra mim, vagabunda! — Dr. Fernando gritou no ouvido dela e ela sentiu a saliva dele molhar seu rosto junto com o tímpano tremer pelo berro
— Eu gosto dele pai, ele é bom comigo!
— Ele é seu irmão! — O pai berrou novamente — Desde quando isso está acontecendo?
— Desde que a mamãe morreu, a alguns meses, eu fui consolar o Fê… — Flávia se deteve — O Fernando e acabamos nos envolvendo
— Se envolvendo? — O pai empurrou a cabeça de Flávia em direção ao chão fazendo a bochecha dela tocar no assoalho de madeira
Ela apenas chorava sem gritar
Fernando então pulou no pescoço do pai agarrando-o, o pai se levantou e tentou tirar Fernando das costas
— Larga a minha namorada! — Fernando gritava desesperado, mas o pai tinha mais força
O pai arrancou Fernando de suas costas e o segurou pelo braço, jogando-o em cima de Flávia
Dr. Fernando passou a mão no rosto, seu rosto estava molhado de suor, usou o suor para jogar o cabelo grisalho para trás
— Eu não sei o que eu fiz para merecer vocês dois, dois cabeça de vento, filhos incestuosos
Fernando tentou se levantar, mas Flávia o parou
— Não! — Flávia suplicou
Mas Fernando não escutou, largou a irmão e se levantou em Fúria
Dr. Fernando cruzou os pulsos
— Eu não queria fazer isso — O pai falou com os olhos cheios de lágrimas — Me desculpe, mas era necessário
— O que é isso? O que era necessário? — Fernando perguntou confuso
— Odnanref! — O pai falou o nome de Fernando ao contrário, junto ao símbolo do pulso e uma postura corporal específica
Fernando parou, parecia sonolento, se ajoelhou e se deitou no chão caindo em um sono profundo instantâneo
— Nãããããooooo, O que aconteceu? — Flávia engatinhou até o irmão — O que você fez? Por que ele desmaiou
O pai olhou para Flávia e fez um triângulo com as mãos e antes que ela pudesse falar algo ele bradou
— Olivia!
Flávia se ajoelhou e em seguida se levantou, os olhos completamente violetas
Dr. Fernando deu as costas para ela e foi em direção ao consultório
Olivia tirou o sobretudo, usava uma roupa simples por baixo, calça Jeans e camiseta preta, colocou o pano impermeável sobre Fernando e seguiu o pai.
Assim que entrou na sala ele estava sentando na poltrona costumeira, Olivia sentou-se devagar na poltrona e a porta se encostou devagar com o vento.
Fernando sentia seu corpo pesado, abriu os olhos e lutou contra a paralisia, nunca havia sentido aquilo, o corpo formigava, quanto mais ele tentava se mover mais a dor e a formigação aumentava, era insuportável
\”A quanto tempo estou aqui?\” — Fernando pensou, se esforçava
Olhou em direção à sala de consulta do pai e ouviu vozes, se esforçou mesmo com dor, rastejou até a porta e viu seu pai sentando, projetado para frente na poltrona com os cotovelos apoiados nos joelhos.
No sofá da frente Flávia estava sentada com os olhos arregalados, parecia ter uma expressão distante
O pai olhou para Fernando no chão e cruzou os pulsos, com as palmas das mãos abertas
— Fernando! — Ele falou quase num sussurro
Fernando sentiu seu corpo acalmar, se soltar e parar de doer, sentou-se na beira da porta, cansado e observou o pai
— Flavia, fale, o que aconteceu?
— Eu o amor — Flávia falou com a voz quase robótica — Nós fazemos amor e eu tenho muito carinho por ele
Dr. Fernando olhou para o filho, decepcionado
— E por que você está indo embora? — O pai perguntou parecendo cansado
— Vou embora pois estou machucada, Fernando me machucou — Flávia falava sem expressão, mas as lágrimas brotavam de seus olhos
— O que seu irmão te fez?
— Ele esperou eu desmaiar e me estuprou, fez sexo de forma violenta no meu ânus
Dr. Fernando respirou fundo e colocou as duas mãos no rosto
Fernando estava se levantando, estava de pé
— Você tem consciência da Olivia? — Fernando perguntou à irmã
Flávia nada respondeu, ficou olhando através da parede
— Ela só responde a mim, o pai disse. — Em seguida se dirigiu à Flávia — Você sabe quem é Olivia?
— Não — Flávia respondeu rápido
Dr. Fernando se levantou
— Você a estuprou? — O pai sacudia a cabeça negativamente — Como você pôde?
Fernando deu passos para trás conforme o pai dava passos para frente
— Não, não foi eu, foi a Olivia
— Ela apareceu? Ela não deveria aparecer sozinha agora, só daqui a décadas
— Eu a chamei! — Fernando falou corajoso
— Você a chamou por que? — O Pai parecia confuso
— Eu queria fazer amor com todas as partes da Flávia, inclusive com a Olivia
O Pai parecia decepcionado, sua respiração era pesada
— Você queria novas experiências? Estava entediado? — O Pai perguntou parecendo sarcástico
— Não, eu só a amo além de tudo!
— Você destruiu o ânus da sua irmã, ela teve que ir ao médico, e vocês tentaram esconder isso de mim!
— Eu não fiz de propósito foi a Olivia, ela forçou isso para me incriminar
O pai encostou na porta, fez um movimento para se virar de costas ao filho, mas sem dar sinais ergueu o punho e deu um soco com toda a força que possuía no rosto de Fernando, o choque fez Fernando apagar imediatamente e bater no chão com força.
Acordou minutos depois com o rosto em chamas, e sem conseguir respirar direito, o pai estava abaixado olhando para ele, quando ele recobrou a consciência
— Como você pôde, ela era sua irmã, você é um homem, você deveria cuidar dela com sua vida, não transar com ela como uma vagabunda qualquer
— Eu a amo! — Fernando respondeu
— Ama nada, você a deseja, só isso! você é um moleque irresponsável e a culpa é minha de te dar confiança, o poder que eu te dei foi grande demais, esperava que você fosse responsável, fosse macho de verdade, mas você se aproveitou dela
— Eu não a estuprei
— Você usou uma vantagem sobre ela, aquilo era para controlar a mente dela, não o corpo dela!
— Eu não usei o corpo dela com isso
— Acabou Fernando
O pai fez novamente o sinal com os pulsos e bradou
— Odnanref!
Fernando apagou e acordou na manhã seguinte.
Tudo o que ele sabia é que sentia ódio de Flávia e que não queria mais vê-la, ela havia falado para todos que ele a havia estuprado e por isso ele teria que mudar de cidade, de escola e de vida, e por causa daquela desgraçada, e por isso o namorado dela havia lhe dado um soco no rosto.
Flávia acordou na casa da tia Eunice, sabia apenas que Fernando havia a estuprado, mas não tinha provas disso, lembrava-se apenas do irmão rindo e a segurando, fazendo sexo à força, enquanto ela implorava clemência sobre seu corpo.
Anos depois Dr. Fernando faleceu, vítima de um ataque cardíaco.
Publicar comentário