Capítulo 117 – Patrimônio
Fernando chegou suado, havia corrido a manhã toda, estava preocupado com diversas coisas, tinha olheiras fundas e seu couro cabeludo estava escamando, entrou na sala sem camisa e usando uma bermuda, todas as meninas incluindo a equipe de Jéssica estavam lá e algumas crianças.
Elas o olharam com admiração e preocupação
— Tudo bem aí Fê? — Carla perguntou preocupada
Fernando olhou para elas, seus olhos percorreram todas, uma por uma
— Mães e Grávidas no Harém em meia hora.
Deu as costas e subiu as escadas, as meninas se olharam preocupadas, esperaram ele sair para conversar
— Ele está muito estranho — Mari falou para todas ouvirem
— Ele é meio estranho mesmo — Flávia falou colocando sua filha Carlinha no chão — Vai lá pra fora brincar amor. — Ordenou à filha.
— Acho que algo errado está acontecendo e ele não quer nos Falar — Márcia se levantou e se encostou na parede, parecia aflita
— O que você acha que é? — Carla arqueou as sobrancelhas e questionou também parecia preocupada
— Não sei, mas ele anda muito estranho — Márcia retrucou
Gabi se levantou, estava de braços cruzados, tinha frio.
— Bem, eu fui excluída desse papo de todas as formas possíveis, já que não engravido e não posso ser mãe. — A Voz dela parecia magoada
— Ah Gabi, deixa de ser dramática, você pode adotar ou fazer um filho ainda! — Fernanda falou levantando-se com dificuldade devido a barriga
Fernanda saiu em direção ao seu quarto.
— Que coisa, eu não o conheço tão bem assim, achei que ele era assim mesmo — Jessica comentou — E além do mais Gabi, eu posso ter filho e você vai criar ele como se fosse seu!
— Ah eu sei Jessy, mas não é a mesma coisa, deixa esse assunto pra lá
— Bem, eu vou tomar um banho, está quase na hora de eu ir — Cris falou e foi em direção ao seu quarto, discretamente Priscila a seguiu.
Heather ficava apenas observando.
No sofá, Mari estava ao lado de Flávia, queria abraçá-la, sentar em seu colo e beijá-la, mas Flávia era reservada demais, envergonhada demais e com travas demais, além do mais Mari ainda tinha um certo receio de Olivia perder o controle com ela.
Conversaram por cerca de vinte e cinco minutos e os últimos minutos foi dedicado ao silêncio, constrangedor de certa forma, faltando um minuto para as meninas subirem Mari falou
— Será que ele não gosta mais da gente? Será que vai desfazer o Harém?
As meninas se entreolharam e como se fosse combinado elas explodiram em riso, uma risada nervosa que deixou Mari encabulada, ela cruzou os braços e afundou no sofá.
Flávia se levantou
— Ta bom gente, vamos ver o que a fera quer — Flávia se dirigiu à escada e Fernanda saiu do quarto.
Márcia e Carla também as seguiram subindo as escadas.
Abriram a porta biométrica e entraram
Fernanda foi a primeira, viu Fernando sentado de frente para elas, estava sentado em posição de flor de lótus com olhos fechados, uma música calma tocava e ele fazia movimentos lentos com as mãos, parecia algum tipo de ritual ou movimentos de calma, algo parecido com tai chi chuan.
Carla colocou o dedo na boca pedindo silêncio a todas e se ajoelhou de frente para ele na cama que tomava quase todo o quarto.
As quatro ficaram lado a lado o olhando enquanto ele fazia gestos devagar, estava limpo, seu corpo ela forte, másculo e todas elas o admiravam como homem e amante.
Cerca de dois minutos depois ele abriu os olhos, parecia cansado, a barba por fazer e as olheiras fundas.
— Você não tem dormido direito — Fernanda falou assim que os olhares se encontraram
— Obrigado por vocês virem aqui — Fernando ignorou a fala de Fernanda.
Ele as olhou por alguns segundos, parecia esperar algo.
— Fala Fê, estamos aflitas — Carla pediu
Fernando a olhou, parecia estudá-la levantou e se aproximou, ajoelhou-se na frente dela
— Minha Carla — Colocou as duas mãos na barriga da esposa e se inclinou pedindo um beijo nos lábios, ela correspondeu — Você está bem? Como vai nosso filho?
Carla sentiu as mãos quentes dele e se sentiu bem, sorriu
— Estamos bem! Minha preocupação é com você — Carla respondeu
Fernando passou a mão no rosto dela de forma suave, seu polegar rodeou a bochecha, parecia testar se algum tipo de tinta cobria o rosto dela.
Levantou-se de novo e se ajoelhou na frente de Fernanda, assim que a olhou ela lhe deu um abraço
— Fala o que está acontecendo, eu estou muito aflita — O Abraço era caloroso e apertado, ele a abraçou também.
— Tenha paciência, por favor, eu vou acertar tudo
— Tudo o que? — Fernanda falou desfazendo o abraço
— Eu posso dar conta! — Fernando retrucou
— Pode mesmo? — Flávia falou petulante — O que está parecendo é que o que está acontecendo é pesado demais pra você, não tá ajudando você andar como um Zumbi pra lá e pra cá, eu te conheço você não sabe o que fazer.
Fernando sentou-se de lado, apoiou-se na mão e olho para Flávia, ela estava do lado oposto à Fernanda.
— Minha irmã bocuda e imprudente — Ele sorriu
Flávia revirou os olhos
Com um movimento de joelhos, sem se levantar, Fernando se aproximou de Marcia e deu-lhe um beijo nos lábios, ela também o abraçou, mas não disse nada, o abraço foi bom para ambos e Fernando o desfez depois de algum tempo.
Passou as mãos no rosto de Marcia e sorriu olhando para seus olhos castanhos quase negros
— Você é linda, adoro esses seus olhos puxados
Ela sorriu e segurou a mão dele
— Estamos com você amor! — A voz de Márcia era fina, delicada e acolhedora
— Eu sei que estão! — Fernando se levantou ao falar.
Andou ao longe e cruzou os braços atrás das costas.
— Minha preocupação é justamente com vocês quatro e a responsabilidade que eu tenho sobre vocês
As meninas se olharam, Flávia cruzou os braços
— Eu vou te pagar tudo, só preciso de mais um tempo pra me organizar — A Voz dela era trêmula
Fernando levantou a mão com o punho fechado
— Ouça — Ele respondeu — O que você ganhou ao chegar aqui é seu e de seus filhos, meus sobrinhos, você não me deve nada e é livre para ir e vir. Mas eu gostaria que ficasse.
Flávia abriu a boca para falar, mas não sabia o que dizer, se calou.
Fernando manteve a pose, com os braços cruzados para trás, as meninas olhavam-no apreensivas e se entreolhavam cheias de dúvidas.
Então, Fernando caminhou até a mesa no lado oposto da sala e voltou com quatro envelopes, de um para cada uma.
— Abram — Ele ordenou
Elas abriam e dentro havia uma carta com o timbre de um famoso banco, um cartão de crédito
— Cartão de Crédito? — Carla perguntou confusa — Já temos os nossos
— Eu sei, mas o cartão de vocês vai parar de funcionar, vocês terão que usar esse cartão agora.
Elas se olharam sem entender muito bem o que havia acontecido.
— Explica pra gente Fê — Carla levantou o cartão e mostrou para ele, parecia confusa — Você não chamou a gente aqui nesse tom de fim do mundo só pra dar um cartão de crédito. As meninas lá embaixo estão curiosas, e nós também, fala com a gente, por favor.
Fernando a olhou apreensivo
— Fê, amor, eu te amo, e todas as meninas aqui partilham o seu amor — Fernanda falou sensata — Fala com a gente, explica o que está acontecendo, somos mulheres inteligentes, jovens, tenho certeza que várias cabeças pensam melhor que uma só, você não tem que carregar fardo nenhum sozinho.
Fernando parecia confuso
— Fê, eu vou te seguir até o fim do universo, nossa filha e eu te devemos tudo, mas se podemos ajudar, ajudaremos!
Fernando encarou Márcia e abriu a boca para falar algo, inicialmente não saiu nada, mas depois de pigarrear ele disparou
— É minha obrigação cuidar de vocês! — A Voz dele parecia receosa
— Ah meu! — Flávia se levantou — Para com essa porra! — Ela se aproximou e pegou nas mãos dele — Fala, o que está acontecendo, deixa a gente ajudar, divide com a gente isso.
Fernando a olhou nos olhos, ficaram se encarando, ele gostava da harmonia dos olhos dela, tinha um rosto agressivo para a maioria das pessoas, parecia uma mulher brava, mas Fernando conhecia os confins daqueles encantos.
— Desculpe pelo que fiz com você — Fernando sussurrou para a irmã
— Esquece isso, é algo bem confuso pra mim, prefiro não pensar — Flávia desconversou
— Eu te devo desculpas — Fernando reafirmou
— Você não me deve nada, somos família, nos ajudamos porque nos amamos
Fernando virou o rosto, desviando o olhar
Flávia pegou o rosto dele
— Olha pra mim! — Ela ordenou fazendo os olhos dele se focaram nos dela — Fala pra gente, confia na gente, você não confia nas pessoas dessa sala?
Fernando soltou as mãos da irmã e deu um passo para trás
— Não é isso! — Ele olhou em volta — Confio em todas as minhas meninas, sei que vocês dariam a vida por mim se lhe fosse pedido
— Então? — Flávia perguntou
Ele respirou fundo e soltou o ar, foi uma respiração pesada e carregada de angústia e aflição, ele fechou os olhos e juntou as mãos com muita força parecendo estar em oração.
Quando abriu os olhos as quatro estavam em volta dele
— Fala, vamos te ajudar, juntos podemos! — Carla completou
Ele fez um gesto positivo com a cabeça e olhou para cada uma delas, respirou fundo novamente e disparou
— Aconteceu algo — Seu olhar era distante, perdido.
— Percebemos! — Fernanda falou sorrindo e segurando a mão dele — Explica o que foi
Fernando também sorriu
— Estamos com problemas financeiros — Fernando foi direto
— Que tipo de problemas? — Carla disse — Somos saudáveis, podemos cortar coisas e trabalhar
— Eu posso voltar a clinicar em um estalo de mão, mesmo grávida — Fernanda respondeu
— Eu posso dar aulas de Japonês online, até eu me formar, aí posso arrumar algo em um escritório! — Márcia falou fazendo planos
— Eu posso aumentar o conteúdo dos meus canais, acho que a Mari me ajuda a fazer mais coisas, dá pra ganhar mais pra gente — Flávia completou
Fernando olhou para todas e sorriu, seus olhos se encheram de lágrima.
— Eu sabia que essa seria a reação de vocês, não esperava algo diferente, mas não quero que vocês trabalhem, não agora. Vocês têm responsabilidades aqui, e essas responsabilidades se chamam filhos
— Eu tenho certeza que nenhuma das outras meninas vai ter algo contra sobre contribuir financeiramente pra cá — Carla falou sempre sensata e teve a concordância imediata das outras meninas.
— Eu também sei disso — Fernando respondeu pesaroso — Fiz minhas contas e meus planos, se tudo der certo vamos recuperar tudo, podemos ficar com a reserva durante um tempo ainda.
— Vamos fazer cortes! — Carla falou enérgica
— Não Carla, não precisa agora — Fernando retrucou
— Claro que precisa — Márcia se exaltou — A quantidade de mulher que tem aqui, tem três babás, faxineira, arrumadeira, limpador de piscina, para com isso Fê!
Flávia colocou a mão no ombro de Fernando
— Viu, todas podemos ajudar, vamos cortar tudo o que não precisar, colocar dinheiro aqui dentro.
Fernando empurrou a mão de Flávia e se afastou, ficou de costas pra elas
— Eu não quero a esmola de vocês, tão pouco que trabalhem para me sustentar — Ele parecia nervoso, bravo
Elas se olharam confusas
Carla se aproximou
— Fê, calma, estamos só sugerindo as coisas — Ela o abraçou pressionando seu barrigão contra as costas dele — O que aconteceu para ficarmos assim? Os empreendimentos pararam de dar dinheiro?
— Não, tudo está de vento em polpa, mas da noite para o dia eu não sou mais o dono legal
— Não é mais o dono legal? — Fernanda perguntou confusa se aproximando junto com as outras — Como assim?
— Como se tivesse vendido tudo? — Márcia perguntou
— Sim, vendi tudo por duzentos reais — Fernando falou rindo
— Como é? — Flávia perguntou sem entender
Ele se virou devagar para não machucar Carla
— Pilhas e pilhas de papéis com a minha assinatura, reconhecida em cartório e com testemunhas, as academias, os valores investidos, os carros, as casas — Ele parou para respirar — Tudo, ou seja, nada é mais nosso
Elas se olharam confusas
— Como isso? — Carla perguntou — Você vendeu tudo isso? — Ela estava confusa assim como todos
— Eu sei tanto quanto você, nesse momento estou colocando minhas forças para descobrir quem fez essa fraude, mas parece ter sido muito bem arquitetado, quem fez isso vem fazendo anos e sem ninguém perceber, fez no silêncio, na surdina, é um golpe.
— Mas um golpe precisa ter um idealizador, correto? — Fernanda perguntou — Quem é?
— Não sabemos, advogados, ex funcionários, funcionários, pode ser qualquer um
— Pode ser uma de nós — Flávia falou, todas as olharam — Talvez alguém que tenha um passado sombrio com você, que declaradamente te odeie que esteja magoada com você
Os olhares se voltaram para ela, Flávia entendeu rápido
— Não foi eu gente, eu nem teria cabeça pra fazer algo desse tipo, pelo amor de deus! — Ela se defendeu
— Também não foi seu ex — Fernando respondeu
— Você o investigou? — Flávia perguntou surpresa
— Sim, de ponta a ponta, ele é só um imbecil.
Ela mordeu a bochecha por dentro, um cacoete, e apenas concordou com a cabeça.
— Você está dizendo que não tem mais nada no seu nome, nem esse lugar é seu? — Fernanda perguntou franzindo a testa
— Sim, esse lugar já não é meu no papel a dois anos.
— Dois anos! — Todas disseram juntas
— Sim, isso foi arquitetado, tudo o que estava em meu nome sumiu, desapareceu, meu patrimônio foi diluído.
Elas se olharam confusas
— E de onde você tirou essa reserva de agora? Estava no banco? — Flavia perguntou curiosa
— Não, minhas contas no banco foram fechadas, minha dívida como pessoa física soma sessenta milhões de reais, eu não posso ter uma conta no banco, esses cartões de Crédito — Apontou para o cartão que estava na mão de Carla — Servem principalmente para eu provar um ponto.
— Que ponto? — Carla perguntou curiosa
— Os cartões estão nos nomes de vocês, individuais, e todas vocês assinaram os documentos, reconheceram firma e tem as meninas lá de baixo como testemunhas
Flavia piscou forte
— Eu não lembro de ter assinado nada
— Pois é! — Fernando falou e sorriu de forma diabólica e entristecida
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