É assim que eu me lembro 2 – Capítulo 14 – Recepção

É assim que eu me lembro 2 – Capítulo 14 – Recepção

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Já fazem dez dias, dez dias e ela ainda não acordou, venho para cá todos os dias, a operação foi um sucesso, conforme disse o médico, sempre que ela ficou inconsciente das outras vezes acabou demorando mais do que o previsto para acordar, o médico me disse que isso poderia estar acontecendo devido ao metabolismo dela. Eu revezei com Táta, Christiane, Steve, Rosana e com Kátia, o quarto particular permitiu que ficássemos cuidado dela. Eu particularmente lia para ela todas as noites, nada específico, pegava um livro aleatoriamente na prateleira de casa e lia para ela, durante a leitura de um livro um trecho fez ela reagir era justamente um que dizia o nome dela na versão original “Daniel” eu estava lendo e disse “Daniel, Daniel!, acorda, vamos jogar bola” ela tremeu na cama, como se reagisse ao chamado do livro, olhei-a atentamente e vi que houveram alterações cardíacas e mentais nos aparelhos, continuei a ler “Daniel, vem jogar bola” uma pequena alteração cerebral, segundo o médico, aquilo era normal, continuei lendo o livro, era uma historia sobre escolhas, a cada página eu olhava para ver se ela tinha alguma alteração, mas não percebi mais nada. Os dias se passaram e eu comecei a sentir uma dor no olho, acho que era pela posição em que eu ficava no hospital, sempre apoiado com a mão no olho, Christiane e Táta me intimaram me obrigado a ir até um oftalmologista, eu fui na manhã seguinte, e ela identificou um corpo estranho em meu olho, o suficiente para que eu sofresse uma pequena intervenção e tivesse que usar um tapa olho por uns dois dias.

A noite, era a vez de Táta ficar no hospital, Dona Kátia foi para casa exausta, eu a levei de volta e voltei ao hospital, estávamos num horário especial de visita, nós três olhávamos os álbuns de família e eu via uma foto de Danielle, quando era criança, ela havia feito uma pose com a mão na cintura, visivelmente afeminada, a cara de seu pai biológico era de decepção, achei engraçado, Christiane disse que o pai delas nunca disse nada sobre o comportamento afeminado de Dani, mas dava para perceber seu descontentamento.

De repente, o peito de Danielle se inflou, dobrou de tamanho, ela respirou bem fundo, fazendo barulho como se acabasse de sair debaixo d’água e estivesse retomando o fôlego, o monitor cardíaco disparou, olhamos assustados para ela, vi que ela estava de olhos abertos olhando para cima, ela nos olhou sem expressão e disse “Me lembro de tudo” levantei-me e fui em sua direção, segurei seus ombros e disse “Dani você está bem?” seu sorriso se abriu, ela levantou a mão e segurou meu rosto dizendo “Meu amor, eu estava com tanta saudades!” me puxou e nossos lábios se encontraram, deixei que me beijasse, foi muito bom, eu tinha saudades daquilo, o beijo deve ter durado cinco segundos, abaixei-me até ela e a beijei na testa, vi que seu cabelo havia sido todo raspado, o couro cabeludo estava avermelhado, possivelmente pela tinta do cabelo, ela fechou os olhos e disse “Eu me lembro de tudo, eu te amo” e eu sussurrei “Eu também te amo” Christiane e Táta deram a volta na cama e seguraram as mãos dela, ela puxou Táta e lhe deu um selinho, depois puxou Christiane com violência e lhe deu outro selinho, abraçou a e enfiou a cara em seus cabelos, ouvi ela dizer “Eu lembro de tudo Chris, lembro de tudo!”, Christiane a abraçou forte, uma enfermeira entrou correndo e disse “Pessoal, por favor se afastem, deixem ela repousar” Dani  protestou “Moça eu estou bem”, a enfermeira respondeu rígida “Não interessa, enquanto o médico não falar que você pode, você não pode” Dani sorriu e voltou a se encostar no banco dizendo “Sim senhora” quando a enfermeira se virou, Dani bateu continência, vi quando Christiane pegou o celular e ligou, saindo da sala, Tata fez o mesmo, me aproximei da cama, segurei as suas duas mãos e eu disse “Do que você se lembra?” e ela disse “De tudo, desde o começo, antes do tiro, depois do tiro, lembro de termos ido para um motel e ter desmaiado e voltado depois, me lembro de tudo” seu sorriso estava radiante e ela disse “Cadê minha mãe e o Steve?”, eu disse “Eles ficaram aqui com você hoje, mas já devem estar voltando” apontei para Christiane que falava ao celular, ela sorriu e fechou os olhos “Eu  nem acredito, é com se minha cabeça estivesse sobrecarregada, tenho a memória de várias vidas” eu disse interessado “Varias vidas?” e ela me disse “Sim, vi minha vida de outras maneiras, com outras escolhas, vi minha vida sem você” e eu perguntei “Sem mim?” ela confirmou com a cabeça, sorrindo, passou a mão em meu rosto e disse “Não gostei, uma vida sem você não teria a menor graça”, sorri e peguei em sua mão com minhas duas mãos, beijei suas mãos, estava de noite, o médico já havia ido embora, e voltaria apenas para emergências, a enfermeira disse que ela ter acordado não era uma emergência e sim um fato previsto, então teríamos que esperar até de manhã para falarmos com ele,  e tentarmos a alta do hospital, Dani me perguntou ainda passando a mão em meu rosto “O que houve com seu olho?” e eu disse, um cisco, precisei tirar o que havia dentro, estava coçando e eu nem conseguia abrir o olho, ela pegou no meu queixo e disse “Tadinho, se eu estivesse acordada eu mesmo tirava pra você” nesse momento Christiane entrou e falou “Falei com a mãe, ela tá vindo pra cá” olhou para a mão de Dani e disse “Pelo visto você esta bem né?” ela sorriu e disse “Estou ótima, e como está meu sobrinho mais novo?” Christiane passou a mão na barriga e disse “Espero que esteja bem” Dani falou “Como assim” e eu disse “É uma gravidez de risco Dani, e com o stress que passamos nessa semana..” ela se assustou, vi suas narinas se abrirem “Gente, vocês estão fazendo acompanhamento médico direitinho né?” Christiane e eu respondemos juntos “Estamos” ela serrou os olhos e falou “Vou ficar de olho em vocês” Christiane disse “Meu, você não cuida nem de você mesma”

Dani fechou a cara e disse “Ah é, você vai ver” e eu disse “Galerinha, chega né” as duas me mostraram a língua, eu ri.

Táta se aproximou da cama e abraçou Dani falando “Tia eu tava tão preocupada com a senhora” e começou a chorar, Dani falou “Não chora, você está linda, vai te borrar inteira” Tatá riu, Dani a abraçou novamente, puxando-a com força e perguntou “Táta, tem como você arrumar um lenço grande pra tia?” Táta soltou o abraço e fez uma careta dizendo “Tem, mas pra que?”, Dani passou a mão na cabeça, sentindo a careca e  disse com pesar na voz “Eu já esperava por isso”, Táta pegou sua bolsa e disse “Tem um mercado 24 horas aqui pertinho, eu vou lá comprar e já volto” Dani sorriu e fez que sim com a cabeça e Táta acrescentou “Ah! Tia,  eu me apoderei do seu carro tá?” e Dani falou “Coisa feia, eu nem esfriei e vocês já estão dividindo meus bens?” e todos da sala riram, mas Dani disse “Ah, melhor ainda, no porta luvas tem um lenço grande, tipo uma bandana, pega ela pra mim” Táta disse “Tá, esperai” e saiu porta a fora o tempo que levou para voltar Kátia e Steve chegaram, foi aquela choradeira esperada, Dani posicionou o pano na cabeça de forma que parecesse uma cabeleira longa que lhe caia pelo ombro. Tudo acertado para o fim da noite, fui embora com Christiane, Tatá ficou com a Tia, voltamos na manhã seguinte, Táta e Dani conversavam animadas com o médico, deixei Christiane na clínica e fiquei de ligar assim que algo ocorresse, assim que Dani me viu abriu os braços e disse “Olha o meu amor ali” o médico me olhou e disse “Senhor Alberto, ela esta ótima, como já havia lhe dito, ela tem um tempo de resposta mais lento fisicamente” Dani enfatizou “Só fisicamente ein” o médico riu e falou “Inteligência não tem nada haver com metabolismo”, lembrei que Danielle sempre demora muito para gozar, e ela sempre diz que é culpa dos remédios, os hormônios que toma para modelar seu corpo, eu perguntei ao médico “Doutor, quanto tempo para ela sair daqui?” e ele disse “Conversei com elas e me falaram que da ultima vez que liberei vocês nos hospital vocês transaram” fiquei envergonhado e disse “Sim”, minha voz quase não saiu, e ele falou “Isso é um grande esforço, ela poderia ter apagado na hora, então, já que não conseguem manter o cuidado e a calma, ela vai ficar aqui mais dois dias em observação” como ele era o médico apenas concordei, apesar de ter ficado muito encabulado, ele foi saindo da sala e parou na porta falando “Vou deixar as instruções de medicamento com a enfermeira, qualquer alteração, qualquer coisa diferente, fale com ela imediatamente” concordamos e ele disse “Tenham um bom dia” e saiu da sala.

Dois dias depois chegou a hora de Dani ter alta, fui buscá-la em seu próprio carro, pois era um modelo gigante, ela fazia fisioterapia diariamente, a clínica onde estava era excelente, mesmo assim ela estava com dores no corpo, estava toda dolorida, andava com dificuldade no momento de sair da cama ela disse “Me ajuda aqui” eu a peguei no colo, coloquei a no chão e disse “Você não saiu da cama pra nada?” e ela falou “Claro que eu sai, ontem eu e a Táta até tomamos banho” ela me olhou e colocou a língua pra fora sorrindo, Táta logo disse “Foi só banho,  juro”, Dani se arrastou até o carro, metade era verdade e metade é manha dela. Abri a porta de trás e Dani entrou, Táta foi para o banco de trás também, Dani a abraçou dizendo “Eu tinha tanta saudade de vocês, ficar só nós sabe, amo tanto vocês gente” e eu disse “Ih, lá vem o choro” olhei pelo retrovisor e ela estava com cara de choro mas disse “Não vou chorar não seu besta” e olhou pra fora engolindo o choro, ouvi Táta sussurar “Pode chorar, eu também te amo” Dani virou e deu um beijo na testa de Táta dizendo “Você é meu amorzinho” e apertou-a falando “Aonde vamos?” eu disse, “Para casa ué” e ela disse “Que dia é hoje?” eu pensei e Táta respondeu antes de mim “Sexta-feira, por que” e Dani disse, “Só para saber” fez-se um silêncio e Dani disse assustada “Gente não tem uma festa de recepção pra mim não né?” eu ri e disse “O que você acha?” e ela lamentou “Ah, sabia que a mãe não tinha vindo por que estava preparando algo” minutos depois passamos em frente ao apartamento e Dani disse “Ei, ei, você passou, não é aqui que a gente mora?” eu disse “Aí? Nunca moramos aí?” Dani fez uma cara de pânico e me olhou pelo espelho retrovisor, Táta disse “Que besta, para com isso, ela tá assustada” eu ri e disse “A festa vai ser na minha casa Dani, não no apartamento” Dani se emburrou e olhou para fora sem dizer nada, apenas virou a cabeça e deu um beijo na testa de Táta dizendo “Obrigada fia”.

Chegamos em frente a minha casa a rua estava cheia de carros, parei na frente do portão e me lembrei do dia que tia causado todo o problema na cabeça de Dani, olhei pelo espelho e tanto ela como Táta estavam estáticas, provavelmente também se lembravam de tudo e Dani disse “Foi aqui né, foi aqui que tudo começou” Táta disse “Tia, tudo bem?” e ela disse “Tudo bem sim, pelo visto o maior trauma disso não foi em mim, foi em vocês né?” eu respirei fundo e não disse nada, peguei o controle remoto, apertei o botão e o portão abriu, para cima, Dani soltou uma exclamação “Ah, você trocou o portão!” eu olhei para ela e disse “Claro, aquele estava me dando alguns problemas” e sorri.

Entramos e nossos familiares estavam nos esperando, assim que entrei vi Ana Paula em um canto da sala, tinha uma taça na mão e olhava tudo sem muita expressão, Dani se aproximou de mim e falou, você devia ter me levado pro apartamento, para eu trocar de roupa e eu disse “Tenho uma surpresa, vamos morar aqui de novo, eu mesmo trouxe todas as suas coisas pra cá, estão lá em cima no seu quarto” ela sorriu pra mim e passou a mão no meu rosto e disse “Eu te amo” eu sorri para ela e então me lembrei que estavam todos olhando, tive a impressão que Dani percebeu no mesmo momento, algumas pessoas estavam estáticas nos olhando, sorri sem graça, e Dani também ficou sem jeito, Ana Paula agora estava do nosso lado, ela tinha se aproximado não sei em que momento, tinha uma expressão enigmática no rosto, me viu e levantou a taça levemente como comprimento, eu acenei com a cabeça.

Dani foi conversar com Rosana, meu irmão Michel, e minha irmã Amanda, se aproximaram eu estranhei e disse “Vocês? Tudo bem?” minha irmã se aproximou e me abraçou “Oi gatinho” e eu também a abracei, fazia tempo que não a via, ela mora perto de minha casa, mas não a via a mais de um ano, ela trabalha com Marketing e é uma daquelas pessoas loucas por trabalho, que fica depois do horário para compensar o atraso das horas extras, coisa de maluco. Cumprimentei meu irmão, ele trabalha na prefeitura de São Paulo, nunca entendi exatamente o que ele faz, mas é algo com sua formação, engenharia civil.

Dani se aproximou e eu disse “Dani, esses aqui são meus irmãos, Michel e Amanda” Dani olhou para Amanda e disse “Ah!, você é a Amanda, que linda” e deu um abraço e um beijo nela falando “O Beto fala muito de você, você é a musa inspiradora dele sabia?” ela disse “Foi eu que criei ele, tudo que ele sabe foi eu que ensinei” Dani deu um sorriso  e não disse mais nada, se aproximou de Michel e cumprimentou-o com um beijo no rosto, e disse “A Genética dessa família é boa ein” ele corou, Dani olhou pra ele e disse “Você é casado?” e ele levantou a mão mostrando seu anel de ouro, Dani fez uma cara de desanimada e disse “Eu tinha que tentar né?” ela sorriu e ela foi saindo então disse “Vou subir, e trocar de roupa tá, volto já”.

Assim que ela saiu Michel disse “Que mina é essa?” e eu disse “É a irmã da Christiane, a que estava no Canadá” Amanda disse “Que amor né? Tão meiguinha” Michel levantou a sobrancelha para mim e disse “Esquisita ela ein?” e eu disse “Esquisita por quê?” ele disse pensativo “Não sei, algo estranho” e eu disse “Ela voltou de uma cirurgia na cabeça, esta careca por baixo daquele pano” e ele disse “Não é isso”, Amanda disse “Para com isso Michel, não tem nada estranho com a menina” Michel olhou em volta e falou “E aquele irmão da Christiane ein?” Amanda apontou, está ali, eu olhei e falei “O Roberto? O que tem?” Michel disse “Não, não, esse ai não, aquele mais novo, o caçula”, senti um choque percorrer o meu corpo, ele era esperto, estava sondando mas já tinha a resposta do próprio questionamento, eu perguntei “O que tem ele?” e ele perguntou “Ele tá por aqui?” eu fiquei sério e olhei para Amanda, durante os anos em que Danielle havia voltado para o Canadá, minha irmã servia para meus desabafos, contei para ela a história que havia acontecido, Amanda disse “Michel, quer parar?” eu mostrei a palma da mão para Amanda e disse “Deixa Manda, quero ver aonde ele quer chegar” Michel sorriu e falou “E então, cadê o moleque?” e eu disse “Não está aqui” Michel cruzou os braços e olhou para cima tentando se lembrar de algo, e perguntou “Como é o nome dessa menina que falou com a gente agora?” e eu disse “Danielle” ele disse sem expressão no rosto “O Moleque é Daniel né?” confirmei vagarosamente com a cabeça e ele disse “Ele teria o que, uns vinte e seis anos agora?” eu confirmei com a cabeça e ele perguntou “Quantos anos tem essa Danielle” e eu disse “Uns vinte e seis agora” eu não sabia a idade exata de Danielle, isso sempre foi um segredo absoluto mas tinha uma ideia e ele disse “Olha só, é gêmea do Daniel?” eu disse também sem expressão “Não, não é” ele ficou sério e me disse “Vai me dizer que o moleque está no Canadá?” Amanda interrompeu, dando um tapa no peito de Michel “Mi, para agora” eu disse para Michel “Conclua” e ele disse “Essa Danielle é o tal do Daniel?” eu afirmei positivamente e ele riu, pegou o celular e disse “Eu tenho que tirar uma foto dela, ninguém vai acreditar” peguei ele pelo colarinho e disse severo “Você não vai se aproximar dela, não vai olhar pra ela de maneira diferente, não vai falar dela para ninguém, nem ridiculariza-la de maneira nenhuma, não vai expô-la ou sequer insinuar algo sobre ela para ninguém, inclusive para ela mesma” poucas pessoas que estavam perto de nós viram, falei em tom severo, porém baixo, Amanda nos puxou pela mão para fora Michel falou “Que porra é essa, por que tá protegendo esse traveco?”

fechei o punho com força, sabia como ela odiava ser chamada assim, mas ele não sabia, estava totalmente por fora da historia, apenas respirei fundo e fiz sinal de negativo com a cabeça, Amanda me abraçou e falou “Mi, chega disso, deixa isso pra lá” ele olhou confuso para Amanda e disse pra mim em voz baixa, quase um sussuro “Cara, você ta pegando ela?” eu disse “Eu sou casado cara” ele insistiu, mas mudou o sentido da pergunta “Você já teve algo com ela?” a minha demora em responder me denunciou, ele colocou a mão na boca e falou “Caraca, você é gay?” eu respondi rápido “Claro que não” e ele falou “Mas ela não tem mais o pau né?” Amanda interveio de vez “Agora chega, para com essa porra” Michel olhou pra ela e disse “Eu só quero saber” Amanda falou “Sim, Michel, ele já teve algo com ela, mas agora não tem mais, agora se você quer saber se ela tem algo no meio das pernas é melhor você arriscar e descobrir sozinho” Michel levantou as mãos falando “To fora”, nesse momento Dani apareceu na porta e me puxou pela mão “Anjo, você ta aí, vem aqui” me deixei ser puxado e vi o olhar recriminador do meu irmão Michel, vi também quando Amanda pegou ele pelo braço e puxou mais para o fundo do quintal, provavelmente teria uma conversa séria com ele.

Dani parou embaixo da escada, vi seus olhos marejados e perguntei “O que foi?” ela falou “Ta todo mundo aqui para me ver e eu estou horrível” olhei para ela, e trajava um vestido preto, tomara que caia, que delineava seu corpinho, sapatos sem salto também pretos, usava brincos de estrela e pulseiras prateadas eu ri e ela se irritou ainda mais “Esta rindo do que?” eu a puxei pela cintura, ela fez uma cara de dor, devia estar com o corpo doloria, eu a abracei e disse em seu ouvido, você está maravilhosa, linda do jeito que sempre foi. Ela me empurrou e apontou para a cabeça, usava um pano preto com caveirinhas brancas e disse “Mesmo assim?” e eu disse “Eu te amo de qualquer jeito sua besta”, ela sorriu e falou “Sua besta é?” e se aproximou para me dar um beijinho, alguém vinha se aproximando e nos largamos rápido, era meu irmão, Michel, ele viu a cena e ficamos os três nos olhando, com um clima ruim, Dani disse “Com licença” e saiu andando com dificuldades olhei para Michel com fúria, e ele fez um V com os dedos e falou “Calma cara, paz e amor” perguntei ríspido “Teve a confirmação da sua dúvida agora?” e ele disse “Eu não vi nada” fiquei quieto, não sabia o que dizer, me entreguei de novo e ele disse “Cara, deixa isso pra lá, me desculpa por falar mal dela, se você gosta dela eu te respeito, aceita minhas desculpas?” eu olhei para ele desconfiado e ele me esticou a mão, eu apertei e falei “Se você quiser saber algo sobre ela, eu te falo, não fique especulando e falando com ninguém sobre isso” e ele falou “Tá, só uma coisa… você tem algo com ela ainda?” eu disse “Sim, temos” ele disse “E a Christiane, sabe?” eu disse “Não era só uma coisa?” ele passou a mão na nuca e falou “Ta certo, depois a gente se vê” e foi saindo, eu falei “Sabe” ele parou e se virou para mim “E o que ela acha?” eu disse “Ela entende, somos uma família… diferente eu diria, mas uma família” ele disse “E por que você escondeu isso de mim mas falou para a Manda?” senti ciúmes e inveja em sua voz, tentei contornar, ele estava se sentindo excluído “Foi uma época difícil, a Manda vinha sempre aqui me visitar depois do tiro, ficou preocupada, você trabalha longe, e nem vinha aqui” ele ficou quieto alisando a própria nuca, depois de uns segundos Amanda apareceu “Tudo bem aí?” e eu disse “Ta sim” ela falou, “Vamos comer gente, tem carne e bebida pra gente, a mãe e o pai vão vir para cá” concordamos e fomos para perto da churrasqueira.

Fui interceptado por Táta no meio do caminho, ela me abraçou e falou “Aonde você tava? não te vi por aqui em lugar nenhum” e eu falei “Táta, esse aqui é meu irmão o Michel, e essa é minha irmã Amanda” os dois cumprimentaram Táta e eu disse “Essa é a Thamires, sobrinha da Christiane”, Amanda falou “Já a conhecíamos” e Táta disse “É, já nos conhecíamos” e eu falei “E por que deixaram eu apresentar vocês de novo?” Amanda disse “Você estava tão bonitinho sendo formal” e os três riram, fiz uma careta e falei “Ta bom” e fui comer.

Christiane e Dani se juntaram a nós, fizemos uma rodinha e ficamos conversando besteiras da vida, o celular de Amanda tocou e ela pediu licença para atender, voltou segundos depois e falou “Pessoal, vou dar uma saidinha, vou ter que buscar minha mãe” e eu perguntei “O Pai não vem?” ela disse “Ele disse que teve uma emergência, vai demorar umas duas ou três horas, pediu para eu ir buscá-la. Isso era típico do meu pai, não se atar a compromissos pessoais, a sua profissão vinha sempre em primeiro lugar, ele era dentista e tinha junto com um amigo uma clínica 24 horas, por isso sempre saia no meio de jantares, desmarcava compromissos em cima da hora, e pelo visto isso não havia mudado, Dani tomou a frente e perguntou “Aonde ela está?” Amanda falou “Na casa dela, a uma meia hora daqui, eu vou rapidinho” e Dani disse “Não, pode deixar eu pego ela lá” olhou pra mim e disse “Beto, vem comigo?” olhei para Christiane e ela fez que sim com a cabeça Amanda concordou e antes de me virar e sair Dani pegou em minha mão e me puxou, vi o olhar sarcástico- incriminador do meu irmão para mim.

Pegamos o carro de Danielle, ele era bem grande, Táta tinha mandado lavá-lo estava cheiroso e impecavelmente limpo Dani insistiu em dirigir, saiu com cuidado, parecia uma iniciante, deu a volta no quarteirão e estacionou embaixo de uma árvore, tirou o cinto tranquilamente e veio para cima de mim, devagar, não tive nenhuma reação, se ajoelhou em minhas pernas, tomando cuidado para o vestido não subir muito e pegou meu rosto com as mãos “Seu irmão desconfiou de algo?” e eu disse “Não, ele não desconfiou” ela respirou aliviada e eu completei “Ele tem certeza” ela me olhou assustada “E aí?” eu falei “E aí nada, ele não tem nada com minha, digo, nossa vida” suas mãos escorreram pelo meu pescoço e ela me abraçou “Estou com saudades de você, parece que não nos vemos a anos” eu a abracei e apertei-a contra meu corpo, ela disse “Eu te amo tanto, sabia?” eu disse “Eu também te amo, mas como estão suas lembranças?” ela não saiu da posição, estava gostoso, sua pele era quente, ela respirava no meu pescoço e ela disse “Eu me lembro de tudo, tudo o que aconteceu antes de eu vir para cá, depois de eu chegar aqui, antes, durante e depois dos tiros, de tudo” e eu disse “E por que diz que não nos vemos a anos?” ela me deu um beijo no pescoço “Para mim, é como se essas lembranças não fossem minhas, elas estão na minha cabeça como se fossem um filme que me passaram, eu vi tudo, sei tudo de cor e salteado, mas não me lembro das experiências, a única coisa que sinto sobre você é que eu te amo” entendo o por que dela ficar repetindo tanto isso desde que saiu do hospital, ela me deu outro beijo no pescoço, endireitei seu rosto na frente do meu e a olhei nos olhos ela disse “Eu to feia né? juro que vou melhorar, vou ficar gatona pra você” diferente das outras vezes Dani não usava muita maquiagem, não tinha nada cobrindo-lhe a pele do rosto, apenas um leve lápis de olho e um batom cor de rosa, puxei o pano que lhe cobria a cabeça, ela se assustou e tentou me impedir e falou “Não!” eu continuei olhando-a e apenas puxei, ela deixou e eu vi sua cabeça, já começavam a nascer alguns cabelinhos, eu passei a mão e senti a textura e disse “Parece camurça” ela riu e falou “Vou te mostrar a camurça” e me deu um tapa na cara devagar, sem intenção de machucar, segurei sua mão pelo punho e a beijei, vi ela fechar os olhos antes de mim, senti o gosto do batom, o cheiro do seu perfume e o calor de sua língua me invadirem, abracei-a e ela ofegou, entrelaçou os braços em meu pescoço, nosso beijo prosseguiu por vários minutos até que ouvimos uma batida no vidro do carro, sem nos desgrudarmos olhamos ao mesmo tempo, era um policial, pedia que abaixássemos o vidro, nos desgrudamos, Dani continuou no meu colo e girou a chave do carro no contato, para em seguida abaixar os vidros elétricos o policial disse “Boa tarde, o que vocês estão fazendo” antes que eu pudesse responder Danielle disse “Conversando” e ele disse “Acho que está parecendo mais que uma conversa, por favor saiam do carro” Dani olhou para mim, fez uma cara de chateada e sussurrou “Desculpe por isso” eu sorri e ela abriu a porta, saiu, estava descalça, assim que desceu vi o policial a medindo e olhando para a sua cabeça careca, peguei seu lenço em meu colo e saí em seguida entregando-a a ela, ela o pegou e colocou na cabeça o policial disse “Quem é o condutor?” Dani  disse “Sou eu” ele pediu os documentos, ela voltou no carro e pegou, ele revistou o carro e antes de nos deixar ir embora nos deu um pequeno sermão dizendo que a região era perigosa e que uma rua para cima um casal saia de uma casa e foi assaltado, como resistiram acabaram sendo baleados e os dois foram mortos. Dani me olhou assustada, era a nossa história, já estava contando-a com um final alternativo, tínhamos virado uma lenda, verdadeiros fantasmas.

Fomos até a casa da minha mãe, ela não tinha visto Dani acordada, apenas no hospital, se entrosaram rápido, acabei virando o motorista da volta, as duas vieram conversando no banco de trás animadas e minha mãe me disse “Olha, se você não tivesse casado com a Christiane podia casar com essa outra irmã” eu disse “Mãe, que é isso?” ela disse baixinho para Dani, mas eu pude ouvir “Você é mais bonita que ela” Dani riu e vi seus olhos brilharem pelo retrovisor, minha mãe tem esse dom, de fazer as pessoas se sentirem confortáveis mesmo que estejam em uma prisão de alumínio na Sibéria, levamos praticamente uma hora e meia para voltar a festa, como sempre minha mãe se entrosou rápido, meu pai chegou três horas depois, algumas pessoas já haviam ido embora, eu estava exausto, não por aquele dia, pois ele havia sido animador, mas pela vida que vinha levando, estava cansado dos problemas que envolviam Danielle, mesmo que jamais falasse isso para ela, cansado de me preocupar com o que as pessoas acham de mim, cansado de esconder meu relacionamento aberto com Christiane e meu amor por Dani e por Táta, cansado da cobrança de trabalho na minha empresa, precisava dormir por dias e dias, semanas, meses, precisava de umas férias. Resolvi então tomar algumas bebidas, não estava acostumado a nada alcoólico, fiquei com muito sono.

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Rafaela Khalil é Brasileira, maior de idade, Casada. Escritora de romances eróticos ferventes, é autora de mais de vinte obras e mais de cem mil leitores ao longo do tempo. São dez livros publicados na Amazon e grupos de apoio. Nesse blog você tem acesso a maioria do conteúdo exclusivo.

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