Capítulo 35 — O Segredo de Marcia
Adoro ficar junto com a galera, considero eles minha família de verdade e agora com a proposta de Fernando eu fiquei eufórica, mas eu não sabia dizer se era por medo ou se por alegria.
Voltei para casa de madrugada, entrei em casa e comecei a esvaziar meus bolsos, era uma mania, encontrei o cartão que Fernando me deu no bolso de trás da minha calça, era bonito, de metal e guardei novamente.
Meu pai apareceu e me encarou:
— Você é mulher da vida agora? Onde estava?
Meu é um Japonês e tem sessenta e dois anos, foi criado em uma colônia japonesa e não falava português até seus doze anos de idade.
— Pai, eu avisei a mamãe estava na casa da Paulinha.
— Mentirosa, você é mentirosa, seu noivo não sabia onde você estava!
— Que noivo pai, eu não tenho mais noivo terminei com ele na semana passada
Saí andando pela casa tirando os brincos e indo ao banheiro tirar a maquiagem
— Filha minha não vai ser vagabunda não, não vai ficar saindo de noite e voltando de madrugada.
Olhei para ele incrédula, eu devia respeito àquele homem mas não a minha vida, eu tinha o direito de ser feliz com que eu quisesse.
A Minha vida toda eu vivi nessa familia e fui humilhada, desde adolecente sempre tive os seios fartos e as coxas grossas, mas sempre tive orgulho de ter uma cintura filha e controlar meu peso. Mesmo assim era taxada de gorda pelas outras mulheres japonesas e principalmente por meu pai e meu noivo.
Desde os onze anos de idade eu fui prometida como noiva desse rapaz que eu nunca gostei e confiei.
— Pai, entenda, aqui não é o Japão, eu não vou casar com quem eu não gosto e me bate!
— Se ele bate em você é por que você fez alguma coisa errada
— Como é? — Respondi incrédula
— A mulher é fraca, não tem cabeça pra esse mundo, é dever do Homem corrigir e endireitar a mulher toda vez que ela faz alguma besteira
— Isso é ridiculo, não tem nada haver isso que o senhor está falando
— Não tem? Você largou um noivado de dez anos da noite para o dia, você merece uma surra — Ele puxou a cinta da calça e me deu uma cintada rapida.
— Pai! — Gritei tentando me desvencilhar
— Não criei mulher por mundo, se precisar eu te mato na porrada até você aprender
Ele me deu outra cintada pegou no rosto e encostei na parede, assustada, tentei abrir o olho e ele não abriu, olhei nas mãos e vi sangue, olhei para ele assustada, a cara dele também era de susto, acho que ele não queria acertar e tirar sangue, queria apenas me assustar.
— Você desfigurou meu rosto! — Gritei e voei no pescoço dele com as duas mãos e ele caiu no chão, sentei em cima tentando esganá-lo — Eu não tenho nada nessa porra dessa vida, fui criada igual uma cadela para o abate, sou ridicularizada e humilhada o tempo todo, não posso fazer nada que eu quero e agora você tinha a unica coisa que eu tenho orgulho, minha beleza!
— Marcia, Marcia! — Ouvi vozes gritando, minha mãe e meus irmãos desceram correndo
Senti alguém me pegar pela cintura e me puxar com força, era meu irmão mais velho, ele sentou-se no sofá e me segurou. Eu queria levantar e e continuar, queria matar o velho de qualquer jeito, estava louca de ódio.
— Ei, calma, calma, calma! — Marcio, meu irmão falou no meu ouvido me abraçando — Quietinhavv calma, por favor!
— Eu vou matar esse velho! — Gritei
— O que é isso menina — Minha mãe me olhou com terror
Vi minhas duas irmãs me olhando assustadas e uma delas vinha com um pano em minha direção
— Tá Mámá, coloca no olho
Peguei e o pano estava molhado e gelado, coloquei no meu olho e aliviou a dor.
Meu irmão me puxou pela mão e me levou para o andar de cima, no quarto dele. Ele vestia apenas um short de seda, então ele colocou uma camiseta e uma calça Jeans
— Vamos pro Hospital, isso aí vai ficar feio se não cuidar.
Na descida ele me puxando pela mão minha mãe veio em minha direção gritando
— Você quase matou ele sua imunda, vagabunda!
Fiquei assustada, meu pai ainda estava deitado no chão falando com a minha irmã que estava abaixada.
— Chama a ambulancia para o papai — Meu irmão falou pegando o telefone da parede e entregando à minha mãe — Vou levar ela ao hospital pois o pai machucou ela sério, ela pode perder o olho.
Minha mãe pegou o telefone e me olhou paralizada.
Entrei no carro do meu irmão ele earrancou em direção ao hospital, não estava doendo tanto
— Marcio…. — Falei baixinho — Você acha que eu vou perder o olho?
Ele riu
— Não, claro que não, pegou no seu supercilio.
— E por que você falou aquilo pra mamãe? — Perguntei confusa
— É por que ela achou que você atacou o papai sem motivo, assim ela ficou mais preocupada com você do que com ele
— Entendei — Fiquei uns segundos em silêncio — Obrigada.
Chegamos no hospital e eu fui medicada, levei 1 ponto apenas o médico disse não ficaria feio pois foi bem dentro da sobrancelha.
Como eu havia relatado pancadas na cabeça eles estavam me deixando em observação e queriam chamar a polícia para agressão doméstica, por mais que eu dissesse que não queria.
Então, o médico apareceu por volta de umas 9 da manhã e disse que os exames estavam OK, e que me daria alta.
Assim que o médico saiu da sala o Takeshi entrou, meu ex noivo com mais cinco caras. Meu irmão entrou na frente mas eles mostraram as armas pra ele.
— Takeshi, o que foi? — Empurrei meu irmão — Pode deixar — Falei em sussuro.
— O que aconteceu? Você tenta me dispensar, sai de madrugada e bate no seu pai? O que você está querendo da sua vida Saiury?
— Meu nome é Marcia, você sabe.
— Não, seu nome é Saiury, você é a unica pessoa no mundo que tem vergonha de ser Japonesa
— Eu não tenho vergonha e eu não sou Japonesa, eu sou Brasileira a minha vergonha é de tipinhos nojentos como você.
Ele se aproximou e e deu um tapa na cara. Meu irmão avançou mas eu segurei com um grito
— Não! — coloquei a mão no peito dele.
Eu sabia que se o Marcio fizesse algo os imbecis com o Takeshi atirariam.
— O que você quer de mim? — Implorei por uma resposta
— O que eu quero de você? Só o que eu tenho direito, você é minha, foi prometida pra mim e vai ser minha mulher.
— Eu não sou uma mercadoria! — Falei enérgica
Ele riu
— Você é o que eu quiser
— A polícia está vindo, vou denunciar meu pai por ele ter me batido — Blefei.
Ele se aproximou e sacou arma, eu estava sentada na maca e ele colocou a arma na minha coxa, sem apontar para mim.
— Você vai fazer exatamente o que eu falar, se não as consequencias serão inimagináveis para você.
Ele pegou no meu braço e me puxou
— Deixa eu dar um abraço no meu irmão! — Falei em desespero — Só um
— Eu não vou te matar, não precisa se despedir
— Não, não é por isso, é por que ele me trouxe aqui
— Ta bom, anda.
Me virei e abracei meu irmão, ele estava suado, ofegante com a situação, sussurrei no ouvido dele
\”Liga para o Fernando\” e coloquei o cartão de metal no bolso de trás da calça dele.
Takeshi me levou em seu carro com seus amigos imundos.
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