Capítulo 38 – Euforia
Era de dar dó a situação da Marcia, apanhou do namorado bandido e foi deixada para morrer à míngua.
Abri a academia cedo, não esperava que o Fe viesse, ele ficaria nesses primeiros dias com a Márcia, ele sempre foi super zeloso com todas as suas meninas.
Me enterrei em meus afazeres, eu queria mesmo é sair daquele balcão e aprender coisas novas, crescer e evoluir, construir uma carreira.
Antes eu não tinha perspectiva nenhuma, afinal eu era só um travesti enrustido.
— Bom dia — Ouvi uma voz masculina
Um rapaz branco, loiro dos olhos azuis
— Bom dia — Respondi normalmente e abaixei a cabeça para continuar a escrever o checklist do dia, percebi que ele continuou parado, olhei de volta para ele sem expressão
Ele sorriu animado e colocou o dedo na catraca, passou e continuou a me olhar nos olhos até entrar no vestiário.
\”Que estranho, será que nos conhecemos de algum lugar?\” — Pensei comigo mesma, voltei aos meus afazeres que eram responder e-mails, listar quem não estava vindo, atender telefone, fazer os cadastros, vender os itens da mini loja ao lado do balcão principal, entre outros.
Em determinado momento precisei conferir um equipamento e fiquei na pontinha do pé para pegar ele na prateleira de cima, quando olhei no espelho o rapaz loiro estava me olhando com cara de bobo, assim que nossos olhares se cruzaram ele desviou o olhar e continuou os exercícios.
Voltei para o balcão
Depois de algum tempo Carla chegou e entrou no balcão
— Oi Novinha! — Carla falou, sua voz estava cansada
— Oi Cah! — Dei um beijo na sua bochecha e um abraço sem me levantar.
Ela sentou do meu lado
— Ta tudo certo hoje aqui? — Carla perguntou de olhos fechados.
— Aqui ta tudo ótimo, nenhum problema nas outras filiais — Respondi rapidamente
— Você já foi nas outras? — Ela perguntou confusa
— Não, eu criei um grupo no WhatsApp com todos os responsáveis pelas academias, todo dia cedo se houver algum problema como equipamento quebrado, algo faltando eles já me falam
Carla levantou só uma sobrancelha
— Desde quando você fez isso?
— Comecei na semana passada — Respondi sem pensar
— O Fê sabe disso? — Carla perguntou surpresa
— Não… não sabe — Me deu um frio na barriga — Fiz merda?
Ela sorriu
— Claro que não, você tomou uma atitude para organizar tudo, aposto que ele vai adorar saber disso
Sorri aliviada
— Que bom! — Fiquei contente de fazer as coisas certas
— Bom dia, estou indo — A mesma voz masculina.
Olhei para ele, o mesmo rapaz loiro dos olhos azuis, acabei reparando nele, era bonito, tinha um pequeno calombinho no meio do nariz e tinha um sorriso largo e bonito, achei o sorriso dele tão bonito que por reflexo sorri também
— Bom dia, até amanhã! — Acenei e me preparei para voltar a escrever
— Como é seu nome? — Ele me perguntou ainda sorrindo
Fiquei desconcertada
— Dan…. Gabriela, por que?
— O meu é Fabio, prazer — Esticou a mão para mim
Para pegar na mão dele tive que me levantar, apertei sua mão
— Prazer Fabio — Fiquei esperando ele falar algo ou soltar minha mão, mas ele segurou-a e eu entortei a cabeça um pouquinho pro lado, involuntariamente — Fabio?
— O que? — Ele respondeu sorrindo
— Por que está segurando a minha mão?
Ele soltou
— Desculpe, desculpe — Ele bateu no bolso procurando algo, pegou a mochila e falou completamente atrapalhado — Eu, eu adorei o seu cabelo
— Obrigada — Respondi piscando os dois olhos
— Até amanhã, foi um prazer te conhecer Gabriela — Ele falou meio gago.
Eu apenas sorri e fiquei observando ele sair, antes de andar pela calçada em direção ao estacionamento ele me olhou e seu sorriso estava bobo, achei diferente.
Olhei para baixo e continuei a escrever
— Aaaeeee hein! — Carla me cutucou
— O que foi? — Perguntei sem entender
— O que foi? Como assim Gabi? Fala que você não entendeu o que aconteceu aqui
Eu não havia entendido nada, não tinha nada pra entender
— Entendeu o que Carla? — Perguntei com sinceridade
— Gabi — Carla se levantou — Pelo amor de Deus, o cara ta caidinho por você, não percebeu isso?
Eu parei e pensei nele de manhã me olhando, depois me olhando no espelho e segurando minha mão e depois saindo atrapalhado, eu não tinha ligado A, B e C.
— Oh, ele deu em cima de mim? — Fiquei tentando relembrar
— Claro que deu, ele tá afinzaço de você, tá totalmente na sua — Falou isso e me agarrou — Aeee gatinha, derretendo corações ein! — Me deu um beijo no pescoço.
Ta certo, eu queria virar mulher, estava no processo, tinha virado mulher já, as pessoas me viam como mulher mas eu nunca liguei tanto para os garotos. Creio que na minha cabeça eu tinha medo da rejeição e por isso ficava mais com meninas do que com os meninos.
Eu não havia pensado na real possibilidade de um homem me ver e sentir-se atraído por mim de alguma maneira, eu não sabia exatamente o que pensar disso mas isso fazia muito bem para o meu ego, talvez eu pudesse gostar disso.
— E ae, ele já te chamou pra sair? — Carla perguntou animada
— Não, falei com ele agora
— Ah, mas ele vai, tenha certeza!
— Vai, e o que eu faço? — Perguntei ingênua
— Ué, o que você quer fazer? — Carla perguntou colocando as mãos na cintura
— Não sei…nunca passei por isso — Respondi olhando para o chão
— Sério? — Carla sentou-se na cadeira de rodinhas e se aproximou de mim, colocou o joelho no meio dos meus joelhos e levantou minha cabeça — Ei, o que foi?
— Meu estômago está doendo — E Estava, revirando muito
— Você já namorou? — Carla perguntou curiosa
— Não, namorar só com o Fernando mesmo
— Quando você era o…outro… você ficava com meninos?
— Não muito Carlinha, só quando tinha essas festinhas meio perdidas, dei uns beijinhos mas sempre tive muito medo sabe
— Medo do que criatura?
— Ah sei lá, medo de apanhar na rua, medo da minha mãe descobrir que eu era viado, sei lá — Falei o que me veio à mente.
— Nossa, você é muito travada, puta que pariu — Carla jogou o cabelo para trás
— O que eu faço? — Perguntei ansiosa
— Espera, amanhã ele vai vir pra cá! — Carla falou tranquila
Me virei e fui no computador, vi o log de entrada e cliquei no nome dele, Fabio.
— De acordo com o Log aqui ele vem dia sim, dia não, ele não vai vir amanhã — Falei mostrando os dados à Carla
Ela riu
— Ah, tenha certeza, ele vem amanhã sim.
Não entendi bem a lógica dela
— Lembra que compramos um shortinho mais apertadinho pra você né?
— Lembro — Respondi devagar
— Amanhã você vai usar ele, bem apertadinho mas com uma sainha bem curtinha
— Por que? — Perguntei ainda tentando entender
— Por que você vai se mostrar pra ele, vai mostrar o que tem de melhor, o bumbum
— Entendi — Falei pensando no assunto — Sei lá
— Sei lá o que mulher? — Carla parecia indignada
— Ah, não sei, nunca fiz isso de seduzir, não sei fazer isso
— Seduzir meu marido pra dar pra ele você sabe né?
Fiquei vermelha e olhei pra baixo
— Ah…eu… eu…
— To brincando, não precisa ficar com vergonha, você é mulher está no seu DNA também saber seduzir, instigar, deixar o cara doido.
— E como eu faço isso? — Perguntei interessada
— Não é difícil, o cara ta gamadinho em você, o que você tem que fazer é se mostrar pra ele, sorrir, mexer no cabelo, piscar, mostrar a linguá de forma sensual, eu te ensino.
Carla me deu uma aula de trejeitos sensuais e simples para fazer.
No dia seguinte segui o plano dela, coloquei o shortinho apertadinho, me incomodava um pouco por que apertava muito e entrava totalmente no bumbum, ele era da cor verde musgo, coloquei a sainha branca e um top também verde musgo.
Eu há havia esquecido do garoto quando ele chegou
— Bom dia Gabriela — A voz masculina animada
Levantei a cabeça e meu sorriso foi involuntário, talvez por saber que ele estava afim de mim, meu ego estava lá em cima, era uma sensação nova, boa, era quase como fazer amor.
— Gabi! — Respondi
— O que? — Ele perguntou confuso
— Gabi, você pode me chamar de Gabi — Arrumei meu cabelo e sorri
Os olhos dele brilharam
— Gabi, que bonito, combina com você.
— Obrigada, bem vindo!
Falei e abaixei a cabeça para escrever, mas fiquei olhando ele sair de canto de olho, ele saiu animado.
Em determinado momento, tive que conferir equipamentos e fiz como a Carla falou, esperei ele estar de frente para a prateleira e me estiquei virando meu bumbum para ele, pelo cantinho do espelho vi ele parando o exercício e me olhando.
Fingi então não conseguir pegar o peso do alto da prateleira, ele veio rápido e pegou para mim.
— Pronto, é isso que você quer? — Me entregou o peso
— Peguei ele na mão — Sorri pra ele e pisquei os dois olhos, estava segundo o roteiro da Carla
Vi quando as narinas dele se abriram, respirava pesado.
— Você trabalha aqui a muito tempo Gabi? — Ele perguntou
— Não, acho que uns três meses só, por que?
— Eu fiz academia aqui durante um tempo e parei, voltei agora
— Que bom, se manter em forma é importante — Olhei para ele e seu braço era forte — Não que você precise — bati com a caneta no seu músculo.
Ele sorriu desconcertado e coçou a cabeça
— Coloca de novo lá pra mim, ta tudo certo — Devolvi o peso para ele
Fabio colocou no lugar e eu fiquei parada abraçada com a prancheta olhando pra ele
— Gabi, que horas você sai daqui, digo, do trabalho? — Sua voz parecia nervosa, mesmo sem exercícios ele estava suando, vi que estava nervoso
Comecei a escrever na prancheta, fingindo desinteresse
— Por que? — Falei enquanto escrevia meu telefone e meu endereço num pedaço de papel
— É que eu estava pensando, da gente sair, se você quiser, tem um restaurante muito legal aqui perto
Olhei para ele com uma expressão sincera e ele sorriu, deve ter gostado da minha cara, tentei analisar ele por um segundo, creio que meu sorriso pareceu malicioso ou sexy.
— Saio as 18 hoje — Respondi balançando meu corpo de um lado para o outro devagar enquanto abraçava a prancheta, isso foi involuntário, não planejado
— E onde eu te pego?
Dei o papel pra ele, o endereço era da Casa da Carla e do Fê
— Me pega nesse endereço — Dei o papel para ele
— As nove da noite está bom? — Ele perguntou meio nervoso
— Está ótimo! — Respondi satisfeita — Me liga quando chegar ok?
— Combinado! — Ele respondeu satisfeito
Voltei para o balcão com o coração na mão, e querendo pular de alegria. Havia um homem desconhecido caidinho por mim, querendo namorar comigo, ter algo comigo, ter uma vida comigo a sensação era a melhor do mundo, acho que somente agora eu consegui sentir o que é ser uma mulher de verdade, o poder de dar felicidade ou frustração imediata para uma pessoa, estava tudo na minha mão eu comandava!
Quando ele entrou no vestiário, eu esperei um pouco e fui mexer na lojinha do lado do balcão, Carla chegou nesse momento, ele saiu do Vestiário e passou pom
— Gabi, então tchau, te pego as nove então
— Sim, as nove, até mais
Ele se aproximou para me cumprimentar com um beijo e eu me inclinei, ele beijou minha bochecha, um beijo estalado bem baixinho, dei uma risadinha e ele saiu flutuando.
Assim que ele saiu da vista senti Carla me agarrando por trás
— Aaeeee sua safadonaaaa — Me apertou — Vai namorar hojeeee!
Eu ri e segurei as mãos dela, esperei o abraço
— Ai Carlinha que medo, o que eu faço?
— Seja você ué, deixa ele te levar, fala com ele sei lá, se você não for você e ele gostar você não vai conseguir manter uma mentira pra sempre.
— E você acha que eu…. — hesitei por um instante
— Você o que? Deve transar com ele hoje?
— Não, não, transar não!
— Não quer transar? — Carla perguntou surpresa
— Claro que eu quero transar, mas não é isso que eu quero saber, quero saber se você acha que eu falou do meu…do meu negocio…
— Ah Sim Gabi, quando entrar no carro dele você fala \”Será que seu pau é maior que o meu?\”
Eu achei que isso seria um absurdo, falar isso seria totalmente fora da realidade e iria espantar o cara, fiquei pensando por uns segundos
— Gabriela — Carla bateu com a palma da mão na minha testa — Deixa de ser tonta, to brincando, não vai falar disso né sua louca
— Não entendi
— Gabi, não fala nada, só se chegar no assunto e ele insistir, se chegar próximo de sexualidade, transexualidade e etc você circula, tenta circular umas duas vezes, se ele voltar pro assunto quer dizer que ele sabe e quer saber mais, aí você pede para ele ir direto ao ponto.
— Ta bom, obrigada, vou tentar
— Mas tem uma coisa
— O que? — Perguntei confusa
— Você falou para o Fê que ia hoje a noite no hospital ver a Marcia
— Ai meu Deus! Verdade! Caramba! — Coloquei as mãos na cabeça, eu havia me esquecido completamente — E Agora?… já sei, vou pegar o telefone do Fábio no sistema e ligar pra ele pra cancelar.
Saí em disparada ao Balcão mas Carla me segurou pelo braço
— Oh minha filha, faz assim, sai mais cedo, umas três horas, vai para o hospital e fala com o Fê, depois você sai e vai no encontro, simples.
— Carla, tem um problema
— Qual?
— Eu dei seu endereço pra ele
— Meu endereço, por que?
— Por que eu moro muito longe, e meio que ele é playboyzinho…. sei lá, entrei em pânico tá, eu não sabia o que fazer, nem sei se anotei o numero certo do meu telefone
— Ai Gabi, você é muito cabaça, parece uma adolescente, ficou congelada foi?
— Eu não tive uma adolescência igual a sua tá, desculpa — Fiquei magoada com o comentário e me virei cruzando os braços
Carla veio e me abraçou
— A gatinha ta magoada, tadinha dela — Começou a me beijar e me apertar e eu comecei a rir
— Não to! — Respondi rindo
— Vai la pra casa, você vai com um vestido meu fantástico o cara vai ficar loucão!
— Eu vou ficar gostosa? — Perguntei insegura
— Ah vai, deixa comigo! — Carla falou animada
Meu coração bateu forte, meu estômago estava virando e eu estava suando
\”Será que o Fê vai aprovar isso\” eu tinha excitação e medo uma mistura que me deixava eufórica.
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