Capítulo 62 — Só a verdade

O Segredo de Fernanda

Capítulo 62 — Só a verdade

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Depois de ter falado com a Carla acho que não consegui esconder a minha insatisfação com a situação.
Realmente eu estava com inveja, eu tinha total e completa inveja das nascidas mulheres pois elas podiam em sua maioria carregar a vida em seu ventre. Isso era coisa que eu imaginava desde criança, colocava um vestido da minha mãe e depois colocava um travesseiro na barriga fingindo estar grávida.
A minha tristeza foi pela lembrança que eu tive pois um dia minha mãe me pegou vestida assim, ela me bateu, me ofendeu e me humilhou dizendo que eu jamais iria ter um filho por que eu era homem e homens não carregam filhos no ventre, isso me deixava triste por que eu sabia que era verdade.
— Ta tudo bem com você mocinha bonita? — Fernanda se aproximou de mim me questionando
Olhei para ela, rosto cumprido, um barrigão falso, ela estava linda, era plenamente capaz de ser mãe, era uma das mulheres mais bonitas que eu conhecia, até sua voz era linda.
— Estou sim — Menti começando a tirar a barriga e me dirigindo ao vestiário
Fernanda pegou na minha mão e andou na minha frente me puxando para dentro .
— Ai Gabi, eu já fui adolescente também, eu sei quando é verdade e é mentira — Ela falou colocando as mãos na cintura
— Eu não sou adolescente mais, sou maior de idade! — Reclamei franzindo a testa
Ela se aproximou e pegou minha mão esquerda e deu um beijo
— Eu sei mulher, mas é que você é tão novinha e bonitinha — Falou sorrindo
Dei um sorriso forçado e dei um respirada funda, me virando e pegando minha roupa no armário.
— Ih, tem bem mais coisa aí do que você ta me falando né? — Ela perguntou se inclinando para me procurar meus olhos.
Olhei para ela e ela estava com as duas mãos para trás equilibrada em uma perna só inclinada para o lado tentando me olhar nos olhos, estava fofa.
Não pude evitar e sorri, ela sorriu de volta
— Ah, que bonitinho um sorriso.
Se aproximou de mim e me prensou no armário
— Não franzi a testa não — Passou a mão no meu cabelo, senti seu bafo quente — deixa marca nesse rostinho lindo.
Eu inclinei o rosto e dei-lhe um beijinho nos lábios, já me virando para o armário, eu estava sorrindo.
— Eu vou embora, preciso ir ver meu pai, vamos almoçar — Falei enquanto abria meu armário.
Assim que olhei dentro um envelope de papel pardo, alaranjado, peguei e li o que estava escrito
\”Para Gabi, abra somente junto com seus pais, isso interessa a todos vocês — F\”
— O que é isso? — Fernanda perguntou curiosa
— Um envelope do Fê, ta falando pra eu abrir somente junto com os meus pais
— Seus pais? — Ela pegou da minha mão — Deixa eu ver!
— Não abre, ele falou pra eu abrir com eles! — Falei lembrando ela do que estava escrito.
Fernanda sorriu pra mim e afagou minha cabeça me devolvendo o envelope
— Que escravinha obediente hein! — Fernanda soava engraçada
— Sou mesmo — Falei tentando se séria enquanto Fernanda saia do vestiário.
Olhei para o envelope, estava curiosa, o que seria aquilo e a quanto tempo estava ali, fazia mais de uma semana que eu não olhava o armário.
Coloquei o envelope na mesinha e peguei um pacote de roupas limpas no armário
\”Perfeito\” disse pra mim mesma ao ver o conjuntinho, um micro shortinho com uma camiseta vermelha e azul bem fininha, tinha também uma calcinha pequena e um sutiã preto que ficaria perfeito na transparência.
comecei a tirar a roupa e fiquei apenas de sutiã branco e calcinha amarela, quando notei, Fernanda estava na porta, encostada me olhando com um sorriso malicioso
— O que foi? — Perguntei tomando um susto
— Nada ué — Fernanda falou ainda encostada na porta, estava de braços cruzados, já não estava com a barriga de grávida
— Vou trocar de roupa — Falei esperando que ela saísse.
— Ah é, eu vou também — Falou entrando.
Tive o instinto de me cobrir, não sei o que me deu, acho que foi intimidação por um mulherão daquele estar perto de mim, comparei mentalmente nossos corpos e vi que faltava muito para eu atingir à perfeição.
Ela veio andando em minha direção e tirou o vestido, usava apenas uma calcinha por baixo. Seus seios grandes balançaram devagar, ela parou e tirou a calcinha, notei que ela não tinha nenhum pelinho, não pude conter um sorriso.
— O que foi? O que é engraçado — Ela perguntou com as mãos na cintura fazendo uma cara falsa de brava — Estou gorda?
— Não, claro que não, está linda! — Respondi com sinceridade
Ela se aproximou de mim
— Gabizinha, você parece uma atriz de cinema, já te falaram isso né?
— Já sim, e isso me irrita a cada dia, a tal da Fantástica não sei o que né?
— Sim, mas olha pra você, olhos perfeitos, nariz empinado, boca perfeita, sobrancelha perfeita, você parece a…
— Marjorie? — Respondi interrompendo ela
Isso fez ela quebrar a postura inclinada e se corrigir, percebi que ficou sem jeito
— É, a Marjorie — Se dirigiu ao próprio armário procurando algo para vestir.
— Vamos pra piscina? — Ela me perguntou mostrando um biquíni preto com detalhes metálicos, ta um solzinho.
— Não posso, vou ter que ir pra casa
— Ah é, seu papai né? — Ela falou olhando dentro do armário.
Tirei o sutiã e depois a calcinha, ficando completamente nua também.
Ela me olhou rápido e sorriu balançando a cabeça de forma negativa
— O que foi? — Perguntei cismada
— Nada não — Ela respondeu quase rindo
— Fala, o que foi? — Perguntei mais severa
— É que você é uma mulher linda, tem um corpo torneado e vai melhorar, você chama atenção dos homens, é poderosa, inteligente e ainda por cima tem um pau — Apontou para meu pau que estava meia bomba.
Olhei pra baixo
— O que tem ele?
Ela se aproximou
— Por que ta durinho assim? — Se abaixou na altura dele
— Não sei — Falei um pouco assustada olhando pra ela
Ela olhou pra mim, debaixo para cima
— Gabi, se eu tivesse um pau no meio das pernas eu tinha dominado o mundo já, você tem o poder de seduzir e subjugar ao mesmo tempo, isso é maravilhoso
Não sei se entendi muito bem o que ela estava dizendo
— E eu to numa seca de pau ultimamente… — Ela falou sorrindo pra mim mostrando os dentes e fechando os olhos
— Ah não Fê, eu não posso, o Fê mandou eu me guardar
Mas antes de eu terminar ela abocanhou meu pau e deu três chupadas, a cada mamada ele pulsava e ficava cada vez mais duro.
— Hmmm, que gostosinho tá todo babadinho por que? Ta com tesão?
— Não…. é… não sei — Estava, fiquei com tesão vendo ela nua  e sensual
— Ficou molhadinha me vendo pelada é?
Eu não respondi, mas era isso mesmo.
Ela então chupou de novo, eu empurrei a cabeça dela
— Fê, não, não posso, to me guardando, o mestre que mandou!
Ela torceu o lábio
— Ai Gabi, relaxa vai, você não pode gozar, é isso? — Ela perguntou meio irritada
— É, ele falou pra guardar pra ele
— E como você está fazendo com o namorado? — Enquanto ela falava massageava minhas bolas e me punhetava devagar.
— Eu to só no boquete pra ele e na punheta né, ta foda! — Falei em desabafo
— Por isso que você ta nervosona, tem que gozar. Goza comigo, eu engulo tudo e o Fê nem vai saber! — Ela falou voltando a mamar meu pau
Fechei os olhos e respirei fundo, era delicioso, os lábios dela subiam e desciam e dentro sua língua acariciava. Então saí dela de lado e disse
— Não Fê, para, por favor, não é certo
Ela se levantou
— Ai, ta bom, sua cadelinha chatinha.
Me deu um beijo de língua e eu correspondi, senti uma pontada, estava quase gozando, empurrei ela e segurei meu pau.
Ela riu
— Nossa, eu senti isso hein — Continuou a gargalhar
Eu vesti a calcinha e o shortinho, Fernanda veio me ajudar
— Assim ó — Puxou o shortinho pra cima fazendo ele ficar mais enfiado na minha bunda e as poupinhas aparecendo
Olhei no espelho e achei bem safado
— Não da pra sair assim na rua — Falei pra ela
— Claro que dá, não é da conta de ninguém, e além do mais está super na moda.
Olhei de novo no espelho
— Você acha? — Perguntei insegura
— Super acho! — Ela pegou minha camiseta transparente — Sutiã preto nessa né?
— Sim — Mostrei o Sutiã
— Ótimo, vai ficar linda!
Terminei de me vestir ela me avaliou, disse que eu estava maravilhosa e me encorajou
— Olha Gabi, se alguém mexer com você, mete a mão na cara! — Colocou as mãos na cintura como se fosse uma super heroína — Seja empoderada.
Eu sorri
— Tá bom, vou chamar meu carro pra ir então.
— Você já andou safada assim de Ônibus e Metro? — Ela me perguntou enquanto eu mexia no celular
— Não, não andei — Respondi pensando no que ela tinha falado
— Então anda, faz a experiencia — Ela falou satisfeita
— Que experiencia? — Perguntei curiosa
— Os olhares Gabi, os homens e as mulheres te olhando, curiosos, te desejando, babando por você. Homens excitados coçando o pau, mulheres excitadas apertando as pernas e os seios com os braços — Ela juntou os braços fazendo os seios ficarem maiores — Mulheres bonitas como nós despertamos interesse em todos, seja pro bem ou pro mal.
— Gabi, eu meio que preciso de um pau amigo sabe, as vezes fora daqui, pra sair um pouco de ambiente, você conseguiria me ajudar com isso algum dia desses? — Fernanda perguntou cortando o assunto.
— É — Pensei por um segundo — Sair só nós duas?
— Sim, só a gente, beber um pouco, conversar e depois fazer amor — Falou como se fosse pedir um copo de água. — Aí você me fala o que te incomoda tanto com essa besteira de gravidez.
— Ah, ta bom, a gente faz sim, mas e a Marjorie? — Perguntei preocupada — Ela não vai ficar com ciumes?
— Vai sim, te chamo depois tá, obrigada — Passou por mim e me deu um beijinho.
Achei interessante o que ela tinha falado sobre empoderamento,  eu ia chamar um táxi mas resolvi cancelar, ia testar o que ela me disse.
Peguei minha bolsa, coloquei o envelope dentro e saí, Fernando dormia na cama com Carla e Paulinha.
As outras meninas assistiam TV e conversavam com a irmã da Carla, a Cris.
Falei um tchau baixinho e saí, Fernanda provavelmente estava na piscina.
Na rua um homem passou por mim e me mediu inteira, quando se aproximou sussurrou
\”Caramba hein\”
Não me senti ofendida, não foi invasivo, foi quase como um auto comentário dele para ele mesmo, mas fiquei satisfeita.
Arrumei a postura e empinei a cabeça, fui ao ponto de ônibus.
Demorou uns quinze minutos para ele chegar, não estava cheio. Entrei e passei o bilhete, haviam algumas pessoas, todos os bancos da janela estavam ocupados. 
Percebi que todos me olhavam, minha postura estava alta, o queixo levantado, eu havia lido sobre isso, era uma postura que demonstrava superioridade. Me sentei ao lado de uma mulher, o ônibus encheu um pouco e notei que vários homens vinham ficar perto de mim, alguns roçavam em mim, outros só ficavam perto, mas notei que em volta de mim começou a se aglomerar pessoas.
Estava chegando no meu ponto então eu me levantei, eu já estava de fone de ouvido, ouvia um podcast sobre economia e administração de empresas. O olhar dos homens foi no minimo cômico, todos procuravam meus olhos tentando me encarar de toda maneira, não encarei ninguém, mas fui encochada e tive que me roçar em vários homens.
Continuei séria e desci. No ponto a mesma coisa, era algo que eu não havia percebido antes de Fernanda falar, a sensação de poder que eu tinha sendo mulher, ser o centro das atenções. Eu tinha a sorte de ser uma transexual bem feminina, estava radiante e confiante.
Resolvi então pegar um táxi até em casa, pois achei que o caminho ali iria demorar demais e também por que fiquei com medinho pois a galera desse ônibus seria um pouco mais barra pesada, resolvi não arriscar.
Cheguei em casa e meu pai me esperava, assim que entrei ele se aproximou de mim
— Nossa você está linda! — Ele falou enquanto me dava um abraço apertado e um beijo estalado
— Você gostou? — Adorei ele ter gostado, dei uma voltinha — O que achou?
— É, pra mim ta um pouco demais, olhando agora — Ele se referia à poupa da minha bunda
— Ah pai, é moda, já já eu coloco algo mais decente — Respondi divertida
— Você está radiante, que gostoso ver você assim, sua mãe vai odiar — falou e riu
Rimos juntos
— Pai, olha, meu…. — hesitei em falar — … meu amigo me deu isso — tirei o envelope para fora, ele examinou, fiquei apreensiva
— O que será hein, vamos abrir? — Ele perguntou me devolvendo
— Ta escrito aí que é pra esperar a mamãe
Ele revirou os olhos e entrelaçou as mãos na nuca
— Ta bom, mas duvido que ela torne isso em algo agradável.
— Pai, por que o senhor não separa e vai logo embora, vamos morar nós duas!
Ele torceu o lábio e depois acariciou meu cabelo
— Ai Gabi…Gabi…Gabi…— Ele se balançava nervoso no sofá
Fiquei olhando ele parecia ter emoções conflitantes, então ele falou
— Você está linda, e eu adorei ver você assim esbanjando essa feminilidade toda, mas coloca uma roupa mais apropriada, por favor.
— Pelo senhor ou pela mamãe? — Perguntei com um sorriso sincero no rosto
— Por mim, prefiro você elegante do que gostosa — A Fala dele me surpreendeu.
— Paaaiii — Falei repreendendo ele — Ta bom, eu me visto.
Subi e peguei uma bermuda Jeans bem mais comportada e uma camiseta sem ser transparente.
Assim que desci minha mãe tava na sala falando algo com ele, contando uma história que eu não me interessei, quando me viu veio me cumprimentar
— Ah, eu não sabia que você estava aqui, tudo bem? — A raiva dela parecia estar se abrandando conforme os dias passavam, mas jamais me chamava de Gabriela ou me tratava no feminino, não de propósito, mas uma vez ou outra escapava algo assim.
— Ótimo que a senhora está aqui — Ignorei a pergunta dela sobre o meu mau estar — Tenho isso pra gente abrir, mostrei o evelope e me sentei no sofá ao lado do meu pai
— O que é isso? — Minha mãe perguntou
— Não sei, senta aí mãe, vamos ver.
Ela se sentou no sofá à nossa frente.
Olhei em volta e percebi que a casa onde eu cresci era humilde comparada às casas do Fernando e até mesmo ao escritório simples e pequeno.
Peguei o envelope e rasguei a parte de cima com cuidado para não rasgar o conteúdo, eu sabia que tinha bastante coisa por que era pesado.
Então vi vários papéis dentro, o primeiro que abrir achei estranho, era eu mas de cabelo cumprido e de vestido, devia ter uns cinco anos de idade, estava com um sorriso mostrando os dentes falhados.
Fui tirando os papeis de dentro e entregando pro meu pai, ele em seguida entregava pra minha mãe, todos examinamos sem entender direito, fotos minhas de diversas épocas e idades com vestidos, roupas de balé, mas era roupas que eu não vestia nessa idade pois minha mãe me fez ser menino, e os lugares também pareciam ser em outro país, havia gelo e muito frio e varias fotos.
Então uma foto comigo já adulta, bem produzida e sorridente com um vestido maravilhoso e brilhante, olhei então no peito e eram seios grandes, um decote generoso e apertado.
Apontei para os peitos
— Eu não tenho isso, essa não sou eu
Meu pai parecia examinar tudo com cuidado
— Não, não é — As palavras dele eram pronunciadas devagar
Abaixo dessa ultima foto estava escrito:
\”Jessica Simons From Boston\” e então com uma caneta vermelha \”Danielle\”
Olhei para minha mãe e ela não emitia um som ou fazia um movimento, seu rosto estava vermelho e parecia que ela não respirava.
— Mãe? — Perguntei mas seu olhar estava distante, não me respondeu
Meu pai olhava os documentos também em silêncio, comecei a olhar e via algo escrito, algumas coisas em inglês e meu inglês não estava bom, identifiquei coisas como \”documentos de adoção\”, vi o nome da minha mãe em alguns papéis e a assinatura dela.
— Mãe? — Ela ainda estava estática
— Pai? — Olhei pra ele e seu olhar estava estranho, parecia meio vidrado, Frenético, levantei a cabeça dele e fiz ele olhar pra mim, seus olhos estavam vermelhos e cheios de água, assim que ele me encarou vi a lágrima se formando e descendo — Pai o que foi?
Ele se levantou em fúria e jogou um bolo de papel na minha mãe
— Eliéte! — Ele berrou como eu nunca havia ouvido, o berro foi alto e forte e me assustou, fiquei paralizada — Eu vou te dar só uma chance de explicar o que é isso, se você mentir pra mim agora eu juro que mato você, vou preso mas mato você. Eu quero só a verdade!
Minha mãe parecia assustada, fez menção de sair da sala mae ele foi em direção a ela, segurei na mão dele
— Pai não, calma!
Olhei então para os papeis que estavam na mesinha de centro e nele tinha três fotos lado a lado, 1 minha de homem escrita \”Daniel\”, uma minha de mulher escrito \”Gabriela\” e outra minha de mulher escrita \”Danielle\”
Soltei a mão do meu pai
— Espera ae, essa é a tal da atriz de cinema que todo mundo fala que parece comigo — Meu cérebro demorou para processar, na verdade eu acho que entendi bem rapido mas não queria aceitar — Essa da foto não sou eu, não é uma montagem me colocando com um corpo melhor e com peitos, ela é a minha irmã Gêmea!
Falei esperando uma resposta de alguém, mas meu pai encarava minha mãe com fúria no olhar
— Eliéte! — Ele gritou
Minha mão abaixou a cabeça, então ela levantou o queixo, parecia orgulhosa, olhou para mim e olhou para meu pai
— Ela é sua irmã sim — Minha mãe falou olhando pra mim — E sua filha — falou olhando pro meu pai.
Tanto eu como meu pai ficamos catatônicos em silêncio, eu não conseguia dizer nada, lembrei do Fábio com o choque que ele havia levado quando revelei minha transexualidade para ele, eu não podia ficar daquele jeito, eu era mais forte, então minha mãe continuou.
— Mas olha só — Falou olhando pro meu pai — Você fez meu filho virar sua filha, parabéns — Apontou pra mim com desdém.
Fui consumida por uma tristeza gigantesca, tive vontade de morrer, eu tinha uma irmã Gêmea e sequer sabia daquilo, como alguém podia fazer isso, eu ia abrir a boca para perguntar mas meu pai foi mais rápido
— Por que Eliéte, por que? — Sua voz era branda e pacífica, quase uma súplica. — Me diga, por favor
— Eu não queria uma filha, você acha mesmo que eu ia ter filha vagabunda, eu via as filhas das outras pessoas crescendo nesse bairro, nesse local, com um pai ausente sempre se tornavam vagabundas e eu não iria conseguir cuidar de duas crianças, preferi focar no menino para ele não se tornar um vagabundo também.
A respiração do meu pai era ofegante
— Tem que ter algo mais, não pode ser só isso — Ele falou devagar
— Eu não queria uma menina, é simples assim, dei ela pra adoção sim, você é um pai tão relapso que nem se interessou em saber, se quisesse saber mesmo tinha ido atrás e resolvido, mas não, preferia se omitir e enfiar a cabeça nesse seu mundo de fantasia aí.
— Mãe, a senhora deu minha irmã pra adoção, pra quem deu?
— Um casal dos Estados Unidos adotou ela, me prometeram nunca mais voltar aqui.
Eu não conseguia falar mais nada, eu queria o Fabio, o Fê, a Fê, a Carla, a Paula, a Marcia e até a Marjorie…Queria todas comigo para me ajudar, mas eu não tinha ninguém, só meu pai.
Me aproximou do meu pai e toquei sua perna, mas assim que encostei nele vi as mãos dele entrando debaixo da mesa de centro que era de madeira e vidro e ele a jogou em cima da minha mãe.
Minha mãe se encolheu no sofá e o vidro se estilhaçou em volta dela fazendo centenas de pequenos cortes.
Meu pai então avançou para cima da minha mãe
— Eu vou te matar! — Ele gritava insano
— Pai, não! — Eu correi e puxei ele pela cintura, mas ele me empurrou e eu caí em cima dos estilhaços de madeira da mesa, senti um corte na perna mas me levantei e pulei em cima dele de novo
Ele pulava comigo nas costas e eu agarrei o pescoço dele
— Pai, não, não vale a pena, para, não vale a pena, por favor para! — falava no ouvido dele tentando persuadi-lo — Por favor pai, para, deixa essa vaca aí
As palavras ofensivas à minha mãe saíram sem pensar, era era uma Vaca com toda certeza.
Em um minuto de sanidade meu pai conseguiu parar, deu dois passos para trás e se sentou no sofá comigo pendurada nas costas dele. Aproveitei e entrelacei minhas pernas na sua cintura, fiquei de lado agarrada com ele.
— Calma pai, calma, não vale a pena, se acalma por favor.
Ele me olhou e eu nunca vi seu rosto assim, estava contorcido, vermelho. Então ele passou as mãos no rosto e vi suas próprias unhas arranharem seu rosto, e ele começou a chorar soluçando.
Vi minha mãe se levantar, seu rosto e seus braços sangravam, e ela correu da casa pedindo socorro.
— Ela acabou com a gente Gabi, como ela pôde fazer isso com a gente, ela separou vocês, separou eu de vocês — Ele falava enquanto chorava, eu o abracei mais forte
— Calma pápi, to aqui com o senhor, esfria a cabeça por favor, vamos pensar nisso tudo.
Ficamos alguns minutos assim quietinhos e percebi que ele balançou a cabeça devagar, era como se tivesse voltado do transe, ele passou a mão na minha perna, estava rasgada e sangrando na canela
— Eu machuquei você? Desculpa, eu não queria te machucar, nunca! — Ele falou se sentindo culpado — Vem, vamos fazer um curativo
Ele parecia dentro de sua sanidade, eu deixei ele se levantar e em seguida alguém entrou correndo
— Zé, o que aconteceu? — Era meu tio Romildo, ele entrou em casa e sua camisa estava suja de sangue, ele olhou pra mim — O que aconteceu aqui?
Me levantei devagar e disse
— Tio, nada que não possamos lidar, a verdade é que minha mãe é uma vaca, ela deu minha irmã Gêmea para adoção. — Falei e fui para a cozinha, peguei um copo de água e trouxe para meu pai
Quando voltei os dois se encaravam, assim que entrei na sala ouvi meu pai falando
— Gabriela, o nome dela é Gabriela agora
Meu tio não falou nada apenas me olhou de cima embaixo assustado. Dei o copo de água para meu pai e ele bebeu, me apoiei no ombro dele e o abracei.

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Rafaela Khalil é Brasileira, maior de idade, Casada. Escritora de romances eróticos ferventes, é autora de mais de vinte obras e mais de cem mil leitores ao longo do tempo. São dez livros publicados na Amazon e grupos de apoio. Nesse blog você tem acesso a maioria do conteúdo exclusivo.

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