Capítulo 97 — Embarque encerrado

O Segredo de Fernanda

Capítulo 97 — Embarque encerrado

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— Fala pra mim que você não sabe quem é Rosa.

Marjorie fez aquela pergunta e um filme passou na minha cabeça, como ela sabia da Rosa, o que ela sabia, o que Rosa teria falado para ela.

Resolvi não me rebaixar, chorar ou mentir, andei devagar até ela, sentei-me no banco do balcão em frente a tela, estávamos separadas apenas pelo Drywall do balcão e uma frigideira com um lanche recém feito e intocado dentro dele.

Olhando-a nos olhos eu perguntei

— O que você quer saber? — Tentei manter a calma

— Você está transando com essa Rosa a quatro anos?

Meu corpo gelou, senti um choque e senti um ímpeto de correr e fugir dali, eu não queria falar daquilo, não queria que Marjorie soubesse, não queria magoá-la, aquilo com certeza seria imperdoável e eu ia perdê-la, resolvi jogar com isso

— Sim, qual o problema? — Eu me sentia gelada, meu Nariz doía, minha cabeça latejava, minha perna repuxava

— Achei que fossemos casadas — A Face de Marjorie não mostrava nenhum reflexo, nem bom nem ruim, era impossível saber o que ela estava pensando

— Sim somos — Respondi

— E pensei também que pessoas casadas deviam respeito e lealdade umas as outras — Os dedos de Marjorie tamborilavam calmamente na mesa.

— Sim, devem, mas somos do Harém, aqui é diferente, transamos com varias pessoas, o conceito de traição é relativo

Ela fez um biquinho e confirmou com a cabeça

— Relativo, entendi, eu não sabia disso, me desculpe — A voz dela era perigosamente calma

Respirei fundo e a dor percorreu cada parte do meu corpo

— O que te falaram, por que está chateada? — Perguntei

— Recebi uma ligação do seu celular, era a Rosa, claro. Ela disse que vocês brigaram e estava no motel — Marjorie pegou o próprio celular e mostrou fotos tiradas em um motel, eu dormindo e Rosa fotografando o espelho no teto — E disse que você tentou impedi-la de me falar

Olhei a foto e senti medo

— O que mais ela te disse?

— Ela disse que vocês estavam juntas a quatro anos e que você não deixava ela terminar com você, e que você enlouqueceu quando ela tentou terminar.

Fiquei olhando firme para Marjorie

— Mas eu não acreditei, não é seu feitio correr atrás de ninguém, não é mesmo? — Marjorie perguntou sorrindo, usava um batom clarinho e havia delineado os lábios perfeitamente

— Sim — Respondi

— Ela disse também que você transou com a filha dela para magoá-la — Marjorie franziu a testa — A filha de dezesseis anos, é verdade?

— Não, eu não sabia que a filha era dela e ela tem dezenove anos — Respondi

— Entendo, bem, isso confirma que você teve um caso com essa Rosa e transou até com a filha dela. — Marjorie falou tranquilamente, sorrindo

Fiquei olhando-a atenta, sabia que ela não estava calma e aquilo era um comportamento extremo.

— E a Cris? — Marjorie perguntou entortando a cabeça

— O que tem ela? — Perguntei

— Aquele papo de você não gostar dela fazia parte do joguinho, você transava com ela quando eu não estava todas as vezes?

— Não — Respondi

— Só algumas vezes? — Ela perguntou?

— Isso importa? Ela é do Harém, você vai implicar com isso também? Daqui a pouco vai implicar com Carla, Márcia, Fernando, Mari, Paula, Gabi

— Não! — Marjorie interrompeu num tom mais alto, mas mesmo assim calmo — A Cris não faz parte do Harém, ela não passou pelo ritual e você sabe muito bem disso

— Mas ela vai fazer, ela mora aqui com a gente — Justifiquei

Marjorie torceu a boca e olhou para baixo devagar, mexeu no próprio dedo, parecia pensar e digerir a informação com cuidado.

Levantou a cabeça devagar com os olhos cheios de lágrimas

— Você ama alguma delas? — Me perguntou com a voz já trêmula

Quando eu ia responder Marjorie me respondeu

— Pelo amor de Deus, não minta para mim, ao menos nesse momento

Percebi que ela não havia acreditado em mim e tinha tirado suas próprias conclusões.

— Não, eu não amo nenhuma delas, foi apenas sexo, você é o amor da minha vida,eu amo você! — Falei segurando na mão dela, mas ela tirou a mão e as escondeu abaixo do balcão.

— Sabe qual é a maior ironia nisso tudo? — As lágrimas desceram pelo rosto branco e perfeitamente desenhado dela

— Qual? — Perguntei

— Eu realmente te amei, realmente acreditei em você, realmente me doei para você mesmo meu irmão não confiando em você, mesmo com ele dizendo que você iria me magoar por que você não prestava

— Ele falou isso de mim? — Aquelas palavras me magoaram mas eu não estava em posição de reivindicar mágoas

— Sim, ele tinha uma opinião bem especifica sobre você, por isso ele te largou mas eu acreditei em você, eu queria ficar com você. Eu confiei em você, ele nunca confiou — Ela colocou as duas mãos no meio da pernas, parecia sentir frio.

— Ele deixou o Harém comigo Marjorie, como ele não confiava em mim? — Perguntei tentando chamá-la para a realidade

— Não Fê, eu deixei você no comando do Harém por que eu te amava e não queria você mais machucada, queria ve você crescer na sua vida e você precisava disso.

Olhei intrigada para ela

— É uma pena, foi tempo perdido aqui. Você me traiu com uma recém saída da adolescência e com a irmã da Carla e pelo que sei foi coisa pouca uma foda ou outra

— Foi só química — Respondi

— Isso eu posso perdoar — Ela falou fazendo sinal de positivo com a cabeça

— Obrigada

— Mas quatro anos com outra? Me traindo dia após dia. Você ficava comigo lá em Minas e vinha semanalmente para cá, então dormia com ela. Isso é uma traição que eu não vou conseguir perdoar, peço desculpas para você mas é demais pra mim.

Fiquei quieta

— Eu faço o que você quiser amor, juro lealdade pra você — Estiquei a mão e toquei seu rosto — Ela se afastou para trás

— Não, não perdoo. Eu vou embora daqui, você nunca mais vai me ver — Marjorie falou e fechou os olhos sorrindo

— Não Má, por favor, me deixa explicar

Ela abriu os olhos

— Explique! — Falou fechando a cara

— Eu, eu…é…. — Gaguejei e não tinha o que dizer

— Imaginei, os sinais estavam aí, todos me alertaram sobre você, meu irmão, minha mãe, meu pai, até as meninas do Harém, só eu não vi que você era uma vagabunda traidora safada

Olhei para ela e vi fúria no seu olhar, ela pegou a frigideira e bateu em minha cabeça com tudo, caí para trás e bati a cabeça no chão, minha visão sumiu por um segundo.

Quando abri os olhos Marjorie olhava para mim com uma faca de cabo branco, a lâmina era do tamanho do braço dela, erguei a faca e contraiu os lábios descendo a Faca em minha direção com tudo

Estiquei o pé e consegui segurar no peito dela empurrando-a

— Fernandoooo — Gritei desesperada rezando para que ele estivesse em casa

Consegui me sentar no chão e rastejar para trás mas ela veio novamente com a Faca tentando me golpear, me levantei e puxei uma cadeira e a contive como um domador contém um leão ao ser domado.

Ela atirou a faca em mim, pegou no meu ombro e fez um corte passando por mim e batendo na parede atrás de mim

— Nem pra morrer você serve, sua inútil — Marjorie esbravejou

Pegou o banquinho pesado de madeira do balcão e começou e usou como um tacape tentando bater em mim, eu tentando me defender com a cadeira

— Fernandooooooo — Gritei de novo desesperada, minha voz era de choro e medo

Ela batia com força, minhas mãos estava doendo de tando segurar o impacto então a cadeira se quebrou e voou da minha mão, recebi um golpe do banco com muita força, andei de costas e acabei encontrando o sofá, me joguei por cima dele com o braço latejando pela pancada e cai no chão toda desengonçada.

Olhei para Marjorie e na mão dela apenas um pedaço da perna do banquinho

— Quando eu terminar com você, se você estiver viva nem um rato vai querer olhar pra você sua traidora, demente, maldita, desgraçada

Ela veio pra cima de mim e eu passei por cima do sofá

— Calma Marjorie, se acalma, você ta nervosa, vamos conversar

Ela largou o pedaço de Pau e pegou uma caixa de Som da estante, arrancou-a da tomada e jogou em mim

— Maldita, vagabunda — desviei da caixa

— Calma amor, fica calma

Ela pegou a outra caixa e me acertou, rebati com as mãos e senti um dedo meu torcer.

Em seguida foi a vez da TV, ela arrancou a TV de 65 polegadas da estante com fúria, tentou levantar mas não conseguiu então só jogou no chão.

Então começou a atirar pequenos objetos, vasos, estatuas, videogames e tudo o que encontrava, eu peguei a frigideira e tentei desviar, estava num canto, acuada, ela pegou o pedaço de pau e falou

— Eu vou te concertar, vou te corrigir, nem falar você vai poder mais, eu devia ter te escravizado de verdade, te amarrado no porão por que é lá que os ratos moram.

Tentei sair do canto e ir para a cozinha mas ela bateu com o pau na parede fazendo um buraco

— O que está acontecendo? — Fernando surgiu na escada acompanhando de Mari

— Me ajuda, ela ta tentando me Matar! — Gritei

Mas ao falar isso Marjorie avançou para cima de mim me batendo com o pedaço de pau, segurei com o braço que quase se quebrou, ela me deu duas paulas mas na terceira Fernando a segurou por trás

— Calma Marjorie, Calma — Ele a imobilizou

— Calma nada, essa vadia filha da puta tava me traindo — Marjorie se debatia — Ela tem um caso de quatro anos, transou com uma menina e depois com a Cris! — Marjorie Berrava

Fernando me olhou e ficou em silêncio, por uns segundos tudo ficou calmo, então o silêncio foi quebrado pela gargalhada de Marjorie

— É claro que você sabia também — Ela riu descontrolada parecia uma louca — Você sabia e não fez nada, você é um péssimo mestre.

A Mão de Marjorie ergueu e nela havia outra faca, uma pequena de ponta e serras e ela fez um corte fundo na mão de Fernando

Ele soltou e se levantou indo para trás vendo o sangue jorrar

Mari pegou o telefone e começou a chamar a policia, eu estava no chão assustada e Marjorie olhou pra mim com cara de psicopata

— Vou fazer um M na sua testa com essa faca e um em cada bochecha, você vai ficar linda Maria!

Ela engatinhou até mim mas algo a fez parar, num movimento bruto a cabeça dela foi puxada para trás, quando entendi o que estava acontecendo vi Cris com a cara franzida.

Cris puxou-a pelo cabelo e a segurou pelo pescoço, em seguida torceu o braço de Marjorie para que ela soltasse a faca.

Cris fez Marjorie se levantar e então ela começou a se debater

— Me solta sua lésbica imunda, traidora nojenta, desgraçada!!! — Cris apertou o pescoço dela e ela começou a se mexer de vagar, e devagar até apagar.

— Não mata ela Cris — Fernando gritou

Marjorie apagou e Colocou-a no chão devagar

— Ela vai acordar já já

Fernando pegou o pano de prato e enrolou na mão contendo o sangramento e pegou Marjorie no colo, levaram ela para o quarto

— A Policia já esta vindo — Mari falou se aproximando de mim.

Mari tentou colocar a mão em algum lugar em mim mas parecia com medo de encostar em algo e machucar mais

— Meu, você ta toda machucada! — Mari falou aos prantos

— É tudo superficial, vou ficar bem — Falei tentando me levantar.

Mari me levou para o quarto de Fernando e me fez deitar, eu estava exausta, mas sabia que as coisas estavam sob controle, eu havia me dado mal, muito mal mas não corria mais perigo de danos físicos.

Deixei meu corpo descansar e fechei os olhos, parecia que eu pesava uma tonelada, tudo doía, Mari falava algumas coisas e então lembrei da roupa dela, ela usava uma lingerie cor de rosa

— Adorei a Lingerie — Falei de olhos fechados

— Obrigada — A voz dela era de preocupação — Precisamos te levar ao médico, você está péssima

Eu não ouvi muito mais do que ela falou e apaguei.

Acordei com alguém sentando na cama ao meu lado

— Fernanda, vamos ao médico, você não está bem

— E a Marjorie ?— Tentei levantar e não consegui

— Ela está bem, juntou uma mala e foi embora, não queria que ninguém a seguisse

Tentei levantar novamente e Mari me ajudou, já estava vestida, um vestido

— Quanto tempo dormi? — Perguntei

— Uns vinte minutos — Cris respondeu, estava na porta de braços cruzados

Me levantei de uma vez

— Eu tenho que falar com ela, ela não pode ir embora, é minha esposa

— Ela esta transtornada Fernanda, não acho uma boa ideia, não, eu vou explicar pra ela, é só a raiva dela passar, preciso ir atrás dela.

Eles conseguiram me levar para o carro, eu chorava muito, queria ir atrás de Marjorie. No caminho Mari foi comigo atrás, Fernando e Cris no banco da frente.

O mesmo transito que me segurou segurou-os, passamos muito tempo parados

— Mari, empresa seu celular — Pedi

Mari prontamente destravou ele e me deu

Entrei no e-mail da Marjorie, haviam passagens de avião o aeroporto era perto dali, o horário também, meu coração bateu rápido

— Tenho que impedir ela — Falei baixinho

Olhei para frente e o transito estava andando devagar, era uma Blitz, o Policial pediu para Fernando encostar. Ele encostou

Haviam muitos policiais, e quatro cavaleiros da polícia Montada, quatro cavalos imensos.

Os policiais pediram para sairmos do veículo, uma policial feminina veio até mim e perguntou o que houve, eu expliquei que havia brigado com a minha namorada e com outra mulher e que estava indo para o hospital e depois iria fazer o Boletim de Ocorrência, apenas contra Rosa, óbvio.

Os policias inspecionaram o carro e eu olhei o horário, faltavam vinte minutos para Marjorie decolar, vi um avião subir ao lar, o aeroporto ficava a uns dois quilômetros dali em linha reta atravessando um campo isolado para recuo do aeroporto, de carro dava quase oito quilômetros.

Olhei em volta os cavalos amarrados e os quatro policiais do outro lado.

Fernando conversando com o Policial junto de Cris que falava algo, Mari mexendo no celular.

Me aproximei devagar do cavalo e soltei a rédea dele de onde estava amarrado. Pisei no estribo e me lancei em cima dele, meu corpo doeu e cobrou o preço do esforço físico, senti o sangue escorrer da minha perna, eu ainda estava com o vestido amarelo mas dessa vez todo sujo e rasgado.

Puxei a rédea e o cavalo não se mexeu

— Ei, sai daí de cima, isso não é brincadeira — Um policial apontou pra mim

Abracei o cavalo e chorei

— Me ajuda, por favor

Assim que falei isso o cavalo andou para trás e bateu a bunda no carro de Fernando, as pessoas fizeram barulho e saíram do caminho dele, cutuquei ele com os pés e ele avançou, meu coração bateu forte, fiz a volta e os policiais sacaram a arma

— Não atirem, vão acertar o cavalo! — Um deles gritou

— Fernanda, Desce daí agora! — Fernando ordenou

— Desculpe! — Gritei para ele e mandei o cavalo avançar

E deu certo, ele avançou entre os carros, o transito estava fechado, corri por uns quinze metros e um carro estava atravessado fechando o caminho, mandei o cavalo pular e ele pulou, pisou no caput e caímos de lado em cima de carro, minha perna foi ralada entre o cavalo e a lataria.

Ele caiu no chão mas levantou e eu não saí de cima dele, a estrava estava livre

— Vamos! — Gritei instigando-o a correr

Ele começou a correr, rápido, parecia que ia voar, olhei para trás e os três policias a cavalo vinha atrás de mim mas estava ficando longe, eu era muito mais leve e eles grandes e pesados.

Não conseguia achar uma abertura no Guardrail então acelerei o cavalo e desejei que ele pulasse.

Cavalos precisam ser ensinados no comando de saltar os objetos, não é de uma hora para outra. Mas como se minhas preces fossem atendidas aquele cavalo conhecia o comando.

Dei um toque pare cima jogando o corpo para cima e ele me acompanhou, saltou o Guardrail pousando na pista na contramão.

Devido à blitz também estava tudo parado, atravessei pelos carros e desci do outro lado da Pista, olhei para trás e os policiais tentavam dar a volta. Desci pela ribanceira e vi uma alambrado.

Contornamos o alambrado, aquele cavalo era muito veloz e forte, meu vestido enroscou na grade e rasgou mais um pedaço deixando minha perna exposta com a ferida da faca, contornando o terreno cruzei mais pistas e estacionamentos e cheguei até na entrada principal do aeroporto.

Ouvia sirenes e vi gente correndo atrás de mim, entrei com o cavalo através da porta automática e fui direto ao portal de embarque, mas fui cercada por dezenas de policiais, o cavalo se assustou e eu tentei acalma-lo

Olhei no painel e vi o numero do Voo de Marjorie

\”Embarque encerrado\”

Era um voo para a Europa.

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Rafaela Khalil é Brasileira, maior de idade, Casada. Escritora de romances eróticos ferventes, é autora de mais de vinte obras e mais de cem mil leitores ao longo do tempo. São dez livros publicados na Amazon e grupos de apoio. Nesse blog você tem acesso a maioria do conteúdo exclusivo.

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