Danielle Trans, Evangélica – Capítulo 25 — Não pare de acreditar

Danielle Trans, Evangélica – Capítulo 25 — Não pare de acreditar

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— Que sorriso bonito, também ou é pra mim isso? — Fábio perguntou sorridente

Danielle desfez o sorriso 

— Eu só tô bem mesmo — Danielle colocou a caixa na gaveta debaixo voltando a se concentrar no trabalho 

— Você tá bem? — Fabio perguntou se estabelecendo no local de trabalho

— Tô sim — Danielle respondeu seca, mas em seguida percebeu que aquilo deixaria Fabio triste, não queria tratá-lo com indiferença, só queria que ele não se magoasse, parou de digitar e olhou para ele — E a festa da sua filha, como foi?

Fábio sorriu

— Foi boa, você devia ter ido, teve bastante comida, uns doces bacanas que compramos, só faltou você 

— Não trouxe nada pra mim? Nem um docinho? — Danielle perguntou para parecer simpática 

— Claro que trouxe! — Mexeu na bolsa e pegou uma caixinha com um tema infantil que Danielle não conhecia — Aqui está

— Ah bom — Danielle falou pegando a caixa e abrindo-a, vendo docinhos — Seria falta grave hein! 

— Falta grave? — Fabio perguntou sorridente

— Sim, Não trazer doce pra colega de trabalho é falta grave grave! — Danielle disse sorridente — Obrigadinha! — Disse animada

Danielle ouviu um barulho, parecia riso abafado e não soube identificar de onde havia vindo, Fábio fez uma careta e se sentou em silêncio.

Danielle tinha muitas coisas para fazer, resolveu focar no trabalho, perto do horário de almoço seu telefone vibrou, era Fausto

“Bom dia Cinderela, como vai?”

Danielle franziu o cenho, lembrou-se que Miriam havia chamado ela da mesma coisa

“Bom dia Chefinho, porque Cinderela?”

A resposta foi imediata

“Pelo sapatinho de Cristal? Mandei meus criados entregarem, se o sapato servir vai ser a minha princesa, serviu?”

Danielle sorriu satisfeita quando leu a mensagem

— Ta feliz hoje hein — Fabio perguntou curioso pelo que ela lia no celular

Sem graça Danielle virou a tela do celular para baixo

— Pois é, às vezes a vida me dá umas tréguas mesmo — Falou voltando a atenção ao computador, o celular vibrou novamente depois de alguns segundos, ela pegou o celular com cuidado para Fábio não notar.

Era Fausto novamente

“A Cinderela não está esquecendo nada não?”

Danielle pensou no que ele se referia, demorou alguns segundos, mas ela se lembrou, o Celular dele estava com ela.

“Sim, deixo na recepção para alguém pegar ou mando pra algum lugar? Onde você está hoje?”

“Estou aqui no escritório e achei o máximo essa blusa vermelha escura”

Danielle olhou para baixo, vestia uma blusa vermelha escura, leve, pois o ar condicionado do escritório era forte.

“Stalker!” — Respondeu

“Vem aqui no meu escritório me devolver” — Fausto respondeu

“Sei não, melhor deixar na recepção” — Danielle disse

“Seu namorado vai ficar com ciúmes? Eu entendo” — Fausto perguntou

“Meu namorado? Não perguntei, perae, deixa eu mandar uma mensagem pra ele e já te falo”

Fausto ficou decepcionado, mas alguns segundos depois recebeu uma mensagem de Danielle

“Tem um cara me chamando pra sala dele, ele é meu chefe, posso ir falar com ele ou você fica chateado?” 

Fausto deu um sorriso satisfeito

“Engraçadinha” — Respondeu

Alguns minutos depois o telefone da mesa tocou

— Danielle, Líder Técnica da parte Web quer falar com o senhor, disse que tem agenda, mas não está aqui no meu Outlook, peço para marcar e voltar depois? — A voz era séria

— Não, pode deixar entrar, aqui é rápido — Ele disse 

— Certo — A voz feminina desligou

Danielle entrou na sala

Fausto se levantou e a olhou debaixo em cima, ela trazia uma pequena caixa nas mãos, usava um jeans apertado, uma blusa vermelha escura o cabelo longo preso no topo da cabeça, o pescoço branco exposto ele teve vontade de beijar

— Oi — Ela falou ao vê-lo, o sorriso dela era sincero

Ele se aproximou rápido e a pressionou contra a parede

— Fausto — Ela disse assustada

Mas foi calada pelo beijo forte dele, não resistiu, abraçou-o entrelaçando os dedos atrás da nuca dele, o beijo durou quase um minuto de silêncio apenas com estalos molhados, quando pararam ambos de olhos fechados sorridentes, ofegantes

— Como pode eu ficar com tanta saudade de alguém assim — Fausto disse encostando a testa na dela

Danielle acariciou o rosto dele

— Também queria te ver — Ela disse sincera — Toma — Deu a caixa para ele — Eu sou da Zona Leste mas eu não roubo nada não — Ela falou sarcástica

Ele pegou a caixa

— Desculpa por isso, foi sem querer — Ela disse preocupada

— Eu sei — Ele falou tirando o aparelho da caixa e pegando um ferro para tirar o chip do seu atual e trocar — Comprei outro achei que tinha perdido mesmo — Mostrou o modelo de celular de ultima geração — Mas gosto mais desse

Agora você tem dois

— Você disse que não roubava nada, mas você roubou meu coração — Ele disse indo em direção à cadeira da sua mesa

Ela revirou os olhos com ar de graça pelo romance

Ele se sentou na mesa e ela na frente

— Não, vem aqui comigo — ele disse quando ela se sentou

— A gente tá no escritório Faustinho, se verem a gente vai ser ruim

— Ninguém entra aqui sem avisar, pode vir. — Ele disse decidido

Ela olhou para a porta, depois para ele, indecisa, se levantou e foi até ele, Fausto abriu as pernas, Danielle sentou na coxa dele, sentiu a mão dele em suas costas, o rosto dela era sério, ela arrumou o cabelo

— Por que o rosto sério? — Ele perguntou curioso tocando as coxas dela

— Não sei, estou pensativa — Danielle disse

— Isso eu to vendo, sobre o que? — Ele perguntou curioso

Ela olhou pra ele

— É factível isso? — Ela perguntou

— Isso o que? — Ele franziu a testa

Ela apontou para ele e para ela, em seguida repetiu o gesto

— Isso — Se referiu aos dois

— A gente vai ter que descobrir — Fausto disse dando um beijo no queixo dela

Danielle parecia séria

— Você não quer? — Fausto disse — O que mudou

— Nada mudou, mas eu, eu… — Ela se conteve

— Fala, pode falar — Fausto encorajou

— To cansada de quebrar a cara — Danielle disse visivelmente frustrada

— Você acha que eu vou quebrar sua cara? — Fausto perguntou confuso

— Não, não sei, digo, não no sentido real — Ela respondeu tentando se explicar — Não acho que fisicamente você representa um perigo pra mim, não é isso

— Acha que eu vou te magoar? — Ele perguntou

Ela encheu o peito, olhou para ele, arrumou a postura e depois soltou o ar se curvando

— Acho — Respondeu sincera

— Por que acha isso? — Fausto tentava entender o que ela queria dizer — Estamos apenas no início

— Eu sei, e ta maravilhoso, a gente teve um encontro, me preocupo se eu sou o tipo de garota que você quer do seu lado, a gente transou no primeiro encontro, eu sou transexual, você é rico e eu pé rapada, você é mega bem sucedido e meu chefe, eu sou uma CLTzinha

Ele colocou a mão na boca dela

— Você deve ser a pessoa inteligente mais burra de todas — Ele disse sério

Danielle franziu a testa

— Me acha burra? — Ela perguntou ofendida

— Você é inteligente, mas está pensando em problemas que não aconteceram ainda, só deixa Dani, deixa rolar, vamos ver, vamos ser sinceros um com o outro, quem sabe dá certo

— E se não der — Ela perguntou

— A gente continua amigo — Fausto disse

Ela respirou preocupada, coçou a cabeça

— Você disse que ia dar uma chance, peço que me deixa te mostrar como eu sou, como pode dar certo, eu vejo futuro em você e eu

Ela olhou para ele preocupada, não sabia o que responder, pensou em Fábio em Armando, será que ela estava se freando? Era muito cedo para outro relacionamento

— Se você quiser eu vou lá na sua casa e peço você em namoro para seus pais

Ela se assustou

— Não — Ela disse quase num grito — Não! — falou num tom mais baixo, mas pensou um pouco — Você faria isso?

— Faria — Ele disse — Se esse é o preço vou lá e falo com eles

Ela ficou observando-o

— É isso? Quer que eu vá lá? Posso ir até pra sua igreja também se você quiser.

— Não brinca comigo por favor — Ela disse em súplica

Ele a agarrou e a beijou novamente, dessa vez ficaram por mais tempo, ele juntou as pernas e ela ficou sentada no colo dele abraçada, ambos se acariciando, conversando.

— Eu preciso ir — Ela disse se levantando — E não

— Não o que? — Ele perguntou

— Eu não quero que você vá me pedir em namoro para os meus pais — Ela disse

— Acha que eu não sou seu cara? — Ele perguntou sério

— Não é sobre o que eu penso — Ela disse arrumando o cabelo que Fausto havia soltado — Eu não quero você exposto àquele ambiente que é extremamente tóxico para mim e com certeza será para você

— Então sai desse ambiente Dani, como você vai se curar das feridas se fica abrindo as cicatrizes diariamente? — Fausto falou de maneira sincera

Danielle piscou forte, olhou para ele com admiração, era realmente algo a se pensar

— Quer vir morar comigo? — Ele perguntou

— Não — Ela balançou a cabeça — Eu não posso

— Por que não? — Ele perguntou curioso enquanto ela se levantava do colo dele

— Eu não vou morar junto com ninguém, só quando eu me casar perante Deus, aí sim eu vou assumir o compromisso e serei a companheira do meu Marido.

— Tipo se a gente casar agora a gente pode morar junto? — Fausto disse como uma piada

— Não, a gente precisa namorar, se conhecer, aí nossas famílias vão se conhecer e isso não importa tanto, mas se a gente se gostar mesmo a gente vai noivar e aí sim a gente vai casar para só então morar juntos

— Entendi — Fausto disse pensativo — É um processo né não adianta acelerar

Ela sorriu e se aproximou num selinho

— Sim é, não sou uma pessoa fácil e se você quiser persistir nesse seu erro você vai descobrir — O Beijou

— Eu não acho que é um erro — Ele disse confiante

Ela sorriu e deu as costas

— Assim você é linda também — Ele disse observando a bunda dela

— Tarado! — Ela falou sorridente

— Estou saindo para um almoço de negócios, quer jantar comigo? — Ele perguntou

— Quero, onde? — Ela parou com a mão na maçaneta da porta

— Mando alguém te pegar — Ele disse

— Não senhor, eu tenho pernas e sei ir sozinha pros lugares Fausto, pode parar — Ela disse decidida

— Ah, maldita mulher independente! — Ele juntou os punhos em sinal de ofensa — Naquele restaurante do meu prédio — Ele disse

— Você gosta mesmo de lá né? — Ela perguntou

— Gosto, e meu apartamento é em cima da para a gente escapar

Ela riu alto

— Malandro! — Falou se preparando para sair

— Ah, espera — Ele mexeu na gaveta e pegou uma caixa, pegou o aparelho que estava com ele — Tó, isso é seu

— Não é — Ela olhou para o celular novo

— Sim, eu comprei, não vou usar, vi que o seu é de uns anos atrás, fica com esse pra você

— Fausto, eu tenho já, obrigada — Ela empurrou recusando o presente

— Eu sei, mas realmente eu não quero dar para ninguém que não mereça e não quero que seja dinheiro jogado fora, então pode ficar com você — Ele mexeu no aparelho — Só um instante — Danielle observou — Pronto, está limpo, pode colocar seus dados — Ele colocou o aparelho dentro da caixa.

— Sei não — Ela disse pensativa

— Pega, é um celular legal — Ele disse insistindo

— Eu sei que é legal, é o mais foda de todos — Ela disse preocupada

— Eu tenho dinheiro vai Dani, não to te comprando, para de frescura! — Ele disse demonstrando falta de paciência

Ela pegou, arredia

— Vai se acostumando, estando comigo vai ter coisa boa e cara, quando casar comigo vai ter carro blindado e mansão de luxo para criar nossos filhos

Ela não pode evitar sorrir de maneira sincera, colocou o aparelho junto ao peito e girou a maçaneta

— Tchau — falou sorridente

Ele sorriu e deu as costas voltando para a mesa.

Danielle voltou para sua mesa de trabalho escondendo o aparelho, sentou e jogo-o dentro da mochila

— Estávamos esperando você, onde estava? — Fábio disse

— Eu? é, eu tava… no… administrativo… — Danielle gaguejou — Por que? — Resolveu cortar a resposta

— Vamos almoçar? —  Fabio perguntou já ao lado dela

Ela se levantou, olhou para ele, algumas pessoas olhavam para ela atentos

— Vamos — Ela pegou a bolsa e saiu andando

Fabio a alcançou na recepção, um grupo de pessoas estavam indo e eles se juntaram, iriam almoçar fora. Danielle participou dos papos, mas tentou manter distância de Fábio de propósito, Carol tentava se aproxima dela a todo custo e isso ela permitiu

Quando voltaram ao escritório Fábio disse baixinho

— Preciso falar com você, tem um minuto?

Danielle achou que só ela tinha ouvido

— Depois da DR eu te procuro para falar sobre o projeto novo tá — Carol falou passando atrás dela

Danielle olhou para ela e depois pra Fábio

— Fala — Disse severa

— Vamos lá na escada, para conversar — Ele disse apontando uma direção conhecida

— Não, vamos no café — Danielle disse e andou devagar até o lugar esperando ele.

Não havia ninguém no lugar

— Me desculpa por sexta-feira — Fábio disse — Peguei pesado com você

— Se é isso, pode esquecer, já passou — Danielle falou tentando ser rápida — Eu sei que sujei seu carro, passei do limite mesmo, mas eu fiquei nervosa com você, mas já to bem, estou disposta a esquecer esse assunto

— Entendi — Ele disse — Não importa o que sujou, estou preocupado com você, hoje senti você distante aqui no escritório e no almoço senti que você está se afastando de mim — Fabio tocou o braço dela

Danielle se esquivou

— Aqui é trabalho, eu não posso ser vista com ninguém aqui, você viu, de manhã deram risada quando eu te chamei de amigo e a louca lá falou que a gente tá tendo uma DR

— Me parece uma DR mesmo — Fábio disse — Acho que é

— Claro que estamos “Discutindo nossa Relação” aqui, mas é isso que eu não quero! — Ela falou severa

— Não quer discutir? — Ele perguntou confuso

— Não, não quero uma relação — Ela falou — Não agora!

— Comigo né? — Ele perguntou ofendido — Eu sou o problema

Ela revirou os olhos

— Não é você, sou eu, eu não quero namorar com ninguém, eu to cansada de relacionamento eu quero ficar um tempo sozinha — Danielle disse — Quero ter um tempo só meu

— E foi encontrar o Fausto no fim de semana por que você é amiga dele? — Fabio disse direto

Danielle engoliu seco, não sabia que ele tinha aquela informação

— Você vai ficar tentando podar as minhas amizades? — Ela perguntou

Quando ele abriu a boca para falar ela o cortou

— Ou vai ficar me espionando? — O rosto dela era visivelmente ameaçador — Ninguém me controla não tá, eu não devo nada pra ninguém

— Eu não to te controlando — Fabio disse

— Você me dá uma informação dessa que eu não contei pra ninguém e acha que eu iria reagir como? — Ela perguntou nervosa

Dois homens entraram na sala, eram conhecidos, mas não trabalhavam juntos, se dirigiram à máquina de café

— Você acha que eu me senti como quando fiquei sabendo? Me trocou pelo milionário — Fábio disse ignorando os homens

Danielle ficou irada

— Eu não troquei porra nenhuma, você sabe se eu fiquei com ele? — Ela perguntou se aproximando de forma ameaçadora olhando-o nos olhos — Viu, não sabe, não faz ideia se eu fui lá a trabalho, prestar consultoria ou dar o cu pra ele

Danielle não se importava mais com os homens que ouviam sem falar nada esperando o café ficar pronto

— Você podia ter me falado, eu fiquei preocupado com você não me respondendo, por que estava nervosa comigo, eu mereço algum tipo de respeito — Fábio disse severo

Ela deu risada

— Que respeito meu? Eu te desrespeitei? Eu to vivendo minha vida, eu não sou sua namorada não viaja! — Falavam abertamente na sala de café sem se importar

— Um mínimo Dani, você não é minha namorada ainda — Ele disse esperançoso

— Pelo visto não vou ser né, me tratando assim igual uma cadela na coleira — Danielle disse nervosa, estava exagerando pois não queria mais questionamentos sobre Fausto.

— Eu não estou te tratando assim! — Fabio disse nervoso, começando a suar

Os homens saíram da sala andando rápido

— Porra Fábio, que merda — Ela cerrou os punhos e virou de costas — Você estragou tudo! — Falou nervosa voltando pro escritorio.

Quando saiu as pessoas olhavam para ela assustados, ela encarou Carol e ela desviou o olhar, os outros fizeram o mesmo.

Ela andou pisando duro e sentou-se na cadeira, colocou os fones de ouvido e aumentou o volume. Viu quando Fábio voltou à mesa minutos depois, mas não olhou para ele, permaneceu focada no trabalho o dia todo.

Quase no fim da tarde o celular vibrou, ela olhou para a tela, era uma mensagem de Fábio, ela olhou para ele e ergueu o aparelho, desligando-o sem ler a mensagem, fez questão que ele visse. Voltou ao trabalho.

Quando algumas pessoas levantaram-se para ir embora é que ela viu que 

já havia passado do horário.

Pegou sua bolsa, deixou o notebook na mesa e ligou o celular, ele começou a vibrar, sem olhar em volta caminhou até o elevador, estava nervosa, enraivecida, não falou com ninguém, passou por Carol e lembrou que haviam marcado de falar sobre o projeto, mas a raiva havia feito ela esquecer a garota, parou.

— Carol, amanhã a gente fala, hoje eu tive um dia cheio — Danielle falou para Carol

— Tá bom chefa, até amanhã — Carol disse prestativa

Danielle forçou um sorriso

— Chega, não faz careta, vai marcar — Carol apontou para o rosto dela

Danielle desfez a careta e acenou positivamente com a cabeça, deu as costas indo em direção ao elevador

— Perae Dani — Ouviu a voz de Fábio, apertou o botão com a esperança de se teletransportar dali, mas não deu certo — Espera! — Ele falou se aproximando

Ela se virou ameaçadora

— O que você quer? — O celular vibrava, algumas vezes, eram mensagens chegando

— É você que me mandou um milhão de mensagens? — Danielle perguntou

— Não sou eu não, deve ser outra pessoa — Fabio disse com um tom levemente sarcástico

Danielle olhou na tela, era Fausto

— O que você quer? — Perguntou nervosa

— Quero me desculpar, me acertar com você, vamos conversar vai, não quero terminar o dia assim — Ele disse carinhoso

Ela respirou fundo

— Eu fiquei chateada com você sim — Ela disse — Mas eu não quero falar sobre isso hoje, só quero sair daqui e — Ela pensou — e me desconectar desse lugar, amanhã vai ser outro dia

Ele fiz que sim com a cabeça

— Eu gosto de você tá, não fica chateada comigo — Ele falou quase num tom de súplica

Danielle apertou o botão do elevador de novo

— Como você sabe que eu fui no Fausto? Quem te disse? — Ela perguntou

— Os arquivos de despesas passam pelo meu sistema, eu vi por acaso — Ele falou inseguro

— Por acaso? — Ela perguntou ouvindo a porta do elevador abrir

— Sim — Ele falou ainda inseguro

— Eu vou olhar o código amanhã, se tiver algum alerta com meu nome ou outro nome que não esteja autorizado a gente vai trocar uma ideia séria.

— Não tem — Ele disse desviando o olhar

— É bom que amanhã não tenha também — Ela falou quando o elevador fechou a porta, Fábio não a seguiu.

Danielle foi olhar as mensagens, Fausto mandava algumas coisas para ela, perguntando do horário e tudo o mais e depois preocupado por que ela não havia respondido.

Pegou o celular e ligou para ele, ele atendeu de primeira

— Dani, tudo bem? — Fausto perguntou preocupado

— Sim, eu tava com um problema, estava compenetrada, desculpe não atender — Respondeu de imediato

— OK, pedi para a secretaria ver se você estava no escritório, como ela disse que estava eu não me preocupei

Danielle se sentiu incomodada, mas não falou nada

— Estou saindo daqui, vai rolar nosso encontro ou não? — Falou deixando o tato de lado

— Vai sim, quer que eu passe aí para te pegar? Cheguei em casa agora, vou só tomar um banho

— Não, deixa eu pego um carro de aplicativo e te encontro no restaurante — Ela disse — Mas faz um favor

— Faço sim, que favor? — Ele perguntou curioso

— Não toma banho — Ela disse enquanto caminhava pela calçada, não queria pegar um carro na frente da empresa

— Por que não? — Ele perguntou sem entender

— É que eu não tomei, não é justo, trabalhamos o dia todo e você vai estar cheiroso e bonitão e eu uma plebéia — Ela falou parando na entrada de um hotel onde sabia que era melhor para chamar o carro

Fausto riu

— Você é uma plebéia! — Falou e gargalhou — Cinderela!

Ele gargalhou

— Vai se fuder! — Ela respondeu e desligou o telefone

Recebeu uma mensagem no celular em seguida

“💗💗💗”

Deu um sorriso quando viu

Chamou o carro e foi até o restaurante, Fausto estava na porta esperando-a, quando a viu se aproximou e a abraçou tirando-a do chão.

Não eram comuns gestos públicos de afeto com ela, muito mais alguém  tirar do chão sendo uma mulher grande, ela o abraçou também, ele deu-lhe um beijo na boca rápido

— Oi — Ele disse sorridente

— Oi — Ela respondeu também sorridente quase envergonhada

Entraram no restaurante

— Uma coisa — Fausto disse — Aqui a gente não vai falar de trabalho só de nós

— Combinado — Danielle respondeu

E foi o que fizeram, falaram deles, Fausto contou as histórias de escola com os amigos, Danielle riu, eram engraçadas ele era um homem divertido, com cuidado ela contou sobre coisas dela, tinha vergonha

— Vai eu sei que quando você era adolescente você deveria ser diferente — Fausto disse

— Eu era um menino né, um menino cheio de problemas, pelo visto se a gente estudasse na mesma escola você faria Bullying comigo — Danielle disse 

Fausto olhou para cima pensativo

— Bem possível — Ele falou — “Daniel viadinho” algo assim né?

Ela piscou forte

— Algo assim — Falou com o rosto vermelho

— Verdade, seu nome era Daniel? — Ele perguntou curioso

— Não e isso é algo que eu não quero falar, se você quiser me pesquisar, como eu acho que já fez, é só procurar no RH mesmo, vai saber

Ele ergueu as mãos

— Opa, calma aí, entendi, ultrapassei uma barreira aqui, desculpe — Ele disse

— Tudo bem — Ela falou incomodada

Os outros assuntos foram mais leves haviam se passado duas horas, Danielle passou a mão nos ombros e estalou o pescoço

— Cansada? — Fausto perguntou bebendo um gole de vinho

— Um pouco, ainda é segunda, mas foi bem tenso — Ela disse

— Eu posso ajudar? — Ele perguntou sincero

Ela olhou para ele com reprovação

— Tá bom, tá bom, não tá mais aqui quem falou — Disse erguendo a mão e pedindo a conta

Danielle pegou a bolsa e a carteira

— O que você tá fazendo? — Ele perguntou 

— Pegando meu cartão pra gente dividir a conta — Ela respondeu simplória

— Mulher minha não divide a conta — Fausto disse sério, mas com um ar jocoso

— Eu não sou sua e não sou mulher — Ela disse num tom sério

— Ah não Dani, eu chamei, eu pago, nem vem com essa ideia aí vai — Ele disse

— Não é justo, eu insisto — Ela disse insistente

— Quando você marcar o rolê você paga, aqui eu chamei — Ele disse confiante

Ela guardou o cartão, o garçom se aproximou com a maquininha, ele passou, Danielle viu o valor, era astronômico para ela

— Ok — Falou pensativa — Vai deixar eu pagar mesmo?

Ele riu

— Claro que não né! — Falou sorridente e se levantou, deu a mão para ajudá-la

Assim que ela se ajeitou ele pegou na mão dela, sairam de mãos dadas, aquele gesto simples encantou-a e fez que que ela ficasse inteiramente submissa, pararam na porta do restaurante, vendo a pista na frente com dezenas de carro passando a toda velocidade, Danielle se aninhou nele, sentiu o vento frio

— Frio é? — Ele perguntou — Mesmo com essa blusa aí?

— Um pouco — Ela disse agarrada ao braço forte dele

— É você tá magrinha né — Ele disse

— Magrela? — Ela perguntou 

— Gostosa — Ele disse e pediu um beijo

Ela sorriu e deu o beijo

Ele a puxou pela mão em direção à entrada do prédio

— Onde vamos? — Ela perguntou sabendo onde iriam

— Ao meu apartamento — Ele disse com a voz já mole pela bebida

— Fazer o que? — Ela perguntou — Tá meio tarde, preciso ir pra casa

— Sobe vai, prometo que vou te fazer mal — Ele disse beijando o pescoço dela

Ela sorriu

— Promete é? — Mas só então pensou no que ele disse — Vai me fazer mal? — Perguntou se afastando, curiosa

— É, prometo que vou arrancar sua roupa, beijar seu corpinho lindo, chupar sua língua e comer esse bumbum grandão de cuzinho apertado com minha rola gigante.

Ela respirou fundo e revirou os olhos quando ele beijou o pescoço dela enquanto falava e as mãos escorreram pela cintura de Danielle num tom erotico.

— O que me diz? — Ele perguntou

Ela não respondeu, estava ofegante, olhando-o com curiosidade

Ele a puxou, ela não resistiu, foi em silêncio

Chegaram no apartamento, era grande, colunas bonitas de mármore, ela olhou em volta de novo

— Esse lugar é simplesmente incrível — Ela falou — Acho que vou ter que mudar umas coisas aqui

— Mudar o que? — Ele perguntou curioso

Ela virou-se para ele e o agarrou

— A primeira coisa é tirar esse ar de “Abatedouro” que ele tem — Falou sincera

Ele riu

— Você acha que eu trago muitas garotas aqui? — Ele perguntou

— Eu não sou trouxa, quem você trouxer aqui você come então fica quieto — Danielle disse

Fausto sorriu e fez um gesto de quem tranca a boca

— Preciso deixar uma marca minha aqui pra se alguma mal intencionada chegar já bata e olho e veja “Dona”

— Dona é? — Ele perguntou — Achei que tinha todo um processo e tal

— Sim, tem, mas eu tenho que cuidar das minhas coisas né — Danielle disse explicativa

— Suas coisas? — Ele riu

Ela o empurrou

— Vou tomar um banho! — Falou — Lá em cima o banheiro né? — Ela perguntou

— Sim, vou com você — Ele disse indo atrás dela

Ela não o impediu

Entraram no banheiro e ele a agarrou, em segundos a colocou sentada na pia, beijavam-se de forma apaixonada.

— Saudade desse beijo quente, puta que pariu! — Fausto disse

— Tá gostoso mesmo, sonhei com você — Ela disse carinhosa

— Sonhou o que? — Ele perguntou curioso

— Que você me beijava assim mesmo, igual me beijou naquele dia

Em segundos estavam pelados, Danielle sentada na pia o penis ereto, em seguida Fausto colocou o próprio penis gigante sobre o dela, pesando totalmente

Ela riu

— Cara isso é muito grande — Parou o beijo e passou a mão — Meu pau tá durão de tesão e não aguenta o peso do seu! — Ela falou divertida masturbando-o devagar

Empurrou-o com delicadeza e ficou em pé

Andou sensualmente até o chuveiro, ligou era a gás, regulou até ficar agradável, o jato que saia do chuveiro era forte, ela deixou cair em seus seios, pareciam mãos a coçando suavemente, ela fechou os olhos, sentiu um abraço, Fausto a agarrava por trás e a beijava.

Ela se virou e se beijaram, se abraçaram, ela pegou o sabonete e deu banho nele, lavou o peito, o pescoço, o rosto, ensaboou o saco e pegou no pênis, limpando bem, era pesado, grande, ela sentia tesão e medo ao tocá-lo, era um pau poderoso.

Ouviu o som do seu celular ao longe, Fausto a alertou, mas ela não ligou.

Fausto estava com o pau muito duro, então ela se ajoelhou e repousou em seu rosto, beijou o pau dele com carinho, acariciou o saco, mastrubou-o com as duas mãos, não dava para ser diferente, abocanhou o saco e chupou uma das bolas, Fausto deu um gemido, ela chupou a cabeça do pau, estava molhado, salgado, então ela se levantou.

— Agora sai, se seca que eu vou terminar aqui — Ela falou — Me espera lá no quarto

— Deixa eu te dar banho também — Fausto pediu

— Você já deu querido, eu só preciso fazer uma coisa e eu não quero que você veja — Ela disse parecendo preocupada

— Eu sei o que você vai fazer — Ele disse — Eu posso ficar

— Não, eu não quero, não ainda, isso por enquanto é intimidade demais, mas eu agradeço tá, só me espera lá — Ela disse ficando na ponta dos pés e beijando-o nos lábios.

Assim que ele saiu do banheiro ela foi até a porta e trancou, foi em sua bolsa e pegou sua bombinha vermelha, usava-a para se preparar para o sexo anal.

Foi até o chuveiro e encheu-a com água quente, com cuidado enfiou em seu anos e jogou os jatos dentro para se limpar

— Eu odeio isso — Falou encostando a testa na parede enquanto repetia o processo até estar limpa

Socou a parede devagar, pensava o quanto aquilo era degradante, precisava se limpar por que “era imunda”

— Imunda… — Repetiu para si mesma

Fez sua higiene, se preparou para o sexo, chegou na cama, Fausto olhava animada, mas ela estava apagada

— Vixe, o que foi? Desanimou? Foi só me ver que ficou triste? — Ele perguntou

— Não, bobo — Ela disse — Só uma tristezinha, tenho isso às vezes

— Disforia, né? — Ele perguntou curioso

Ela olhou para ele com um sorriso triste

— Desta aqui — Ele a chamou para a cama

Ela se aninhou do lado dele, a cama era macia, o pano grosso e macio, o travesseiro era incrivel, ela nunca tinha sentido aquele tipo de qualidade, mas resolveu não observar, soltou a respiração no colo dele

— Quer conversar? — Fausto perguntou

Ela ficou quieta balançando a perna, pensativa

— Se a gente vai namorar mesmo — Ele disse — É bom gente ter assunto pra falar na cama por que o sexo não dura o tempo todo

Ela deu risada e se virou para ele

— Bobo — Falou sorridente, mas ainda estava triste

— Vai — Ele arrumou o cabelo dela — Conta pra mim quem tá deixando esse anjo triste que eu vou lá quebrar a cara dele

— Eu — Ela falou pensativa — Acho que eu não sou pra você, sou probleminha pra você

— Pronto, lá vem — Ele disse revirando os olhos — Um puta marmanjo igual eu e você acha que sabe mais que eu — As palavras dele foram arrogantes de propósito

— Você não sabe de nada Danielle, me dá o crédito vai, eu sou psicologo — Ele disse

Ela sorriu, era verdade mesmo

— Vai me analisar é? Psicólogo gostosão? — Ela de uma maneira forçada para parecer sexy, queria fugir do assunto

Ele se sentou empurrando ela

— Bora, parar com essa sedução de adolescente e me conta

— Contar o que? — Ela perguntou

— O que ta te deixando triste — Ele falou — É outro homem?

— Nao! — Ela disse

— Ele tem o pinto maior que o meu? — Fausto disse

— Meu Deus, não! — Danielle riu alto — Meu Deus!

— Então me fala — Ele disse sério — Eu quero ouvir

— Quer mesmo? — Ela falou — Não é melhor a gente transar, você dar uma boa gozada?

— Assim você me ofende, eu não sou esse tipo de homem e você vai aprender isso — Ele disse entristecido

— Desculpa, peguei pesado — Ela falou — Não foi a intenção

— Aceito a desculpa se você me contar

— Não é um problema, é só uma coisa que veio na minha mente, coisa do meu passado.

— A pequena Danielle — Fausto disse — Sou todo ouvidos

*** Anos antes (Danielle na Igreja) ***

— Quantos anos você tem Moisés? — O homem perguntou de forma amigável

— Quinze — Moisés respondeu retraído, a mão esquerda estava enfaixada e com o rosto arroxeado.

— Por que você está aqui? — O homem perguntou novamente de forma amigável

— Ele é um atribulado pastor — Tereza, a mãe de Moisés — Estava vestido de mulher, tinha roupas de mulher que sabe-se lá onde ele arrumou

— Roupas de mulher? — O Pastor perguntou coçando a barba e olhando para Moisés, se levantou em seguida — Dona Tereza, me acompanhe por favor — Apontou para Moisés — Só um minuto

Tereza o acompanhou até fora da sala, ficaram um tempo lá e o homem voltou sozinho.

Sentou-se na frente de Moisés

— Pronto, acho que agora a gente consegue conversar mais naturalmente sem a sua mãe certo? — Ele perguntou sorridente

Moisés desviou o olhar

— Vamos recomeçar — O Homem disse tocando na mão de Moisés levemente — Eu sou o Pastor Plínio, sou psicoterapeuta, aqui, nesse espaço — Mostrou com as mãos — Podemos falar sobre tudo, eu tenho uma autorização de Deus para escarafunchar aqui dentro — Colocou o dedo na teste de Moisés

Moisés olhou para ele assustado

— Então — O Pastor continuou — Me fala, o que eram essas roupas, eram suas mesmo?

— Sim, eram minhas — Ele falou preocupado, mas com um ar desafiador

— E para que você as tinha? — O Pastor perguntou, queria entender como aquilo foi parar lá — Digo, ia dar de presente pra alguma mulher?

Moisés não respondeu

— Vamos rapaz, comigo você pode falar, Deus já sabe de tudo, ele está aqui te ouvindo, você só precisa compartilhar comigo e vamos te ajudar.

Moisés respirou fundo, sentiu uma dor no peito quando falava daquele assunto, olhou para as próprias mãos, eram grandes, brancas e com veias azuis feias. Fechou os punhos, suas mãos eram fortes como as de homens jovens.

— Para eu vestir. — Respondeu quase num sussurro enquanto analisava as próprias mãos. — Pastor

— Pode me chamar de Plínio — O Pastor Plínio disse, respirando fundo entendendo que ali teria problemas.

— Pastor Plínio — Moisés sussurrou em resposta

Apenas Antônio, o caminhoneiro, de homem sabia daquelas roupas, apenas para ele que Moisés usava aquilo e quando usava Antônio o chamava de Danielle, tratava-o no feminino e eles se amavam.

Fora ele, sua irmã Léia tinha um leve conhecimento do que Moisés fazia com as roupas, mas ela não se envolvia muito.

— E por que você iria querer vestir roupas de mulher?  — Plinio perguntou

Moisés ficou em silêncio

— Entendo — Pastor Plinio disse, pegou a bolsa e abriu uma barra de chocolate — Preto ou branco?

Moisés olhou desconfiado, viu as duas barras esticadas à sua frente, tocou a barra branca e pegou um pedaço.

Plinio mastigou um pedaço da barra de chocolate ao leite

— Acho que não começamos bem, eu disse meu nome e você não disse o seu, qual é seu nome? — Plínio perguntou curioso

— Moisés — Ele respondeu cuidadoso e um tanto irritadiço, já havia falado seu nome, foi a primeira coisa que o Pastor havia perguntado

— Não, esse é o nome que sua mãe disse, o nome que ela te deu, mas pelo que eu to vendo aqui provavelmente você tem outro, um que só contou pra Deus não? — Plínio perguntou 

Moisés olhou para ele assustado, ninguém nunca tinha sido tão direto nisso, não sabia se aquele tipo de coisa lhe traria problemas, Moisés estava curvado na cadeira, quase encostando a cabeça nos joelhos

— Estão te castigando pelo que ouvi, te obrigado a vir na igreja diariamente, te monitorando na escola e tudo isso para quê? — Plínio perguntou, mas sabia

Moiseś não respondeu

— Eu estou pensando aqui num nome feminino para Moisés mas só consigo pensar em Mirian, acertei? — Ele perguntou sorrindo

Moisés sorriu

— Esse é o nome da minha sobrinha — Moisés respondeu

— Entendi, já pegaram esse, me dá uma dica, é um nome bíblico? — Plinio perguntou curioso

— Não — Moisés sorriu ao responder

— Gostei desse sorriso, vi uma garota ai hein! — Falou apontando para Moisés — Ou não?

Moisés se curvou e encolheu mais, desviando o olhar

— Fernanda, Lilian, Maria, Rosana? — Plinio disse

Moisés não respondeu

— Tab bom, vamos, desistio, mas vou recomeçar, eu sou o Plínio, muito prazer, seu nome de verdade é? — Plínio fez um gesto com a mão para Moisés continuar

Moisés olhou para ele, aquilo o irritava, sentiu uma pontada, um pequeno calor, sem se controlar ergueu sua coluna, a postura ereta, cruzou as pernas e apoiou as mãos no joelho, uma pose ensaiada milhões de vezes no seu quarto, feita para parecer uma mulher poderosa, procurou os olhos dele e tomou fôlego.

— Danielle — Moisés falou sentindo um choque por todo o corpo

— Danielle! — Plínio disse sério e apontou para cima — Olha aí — Esperou um pouco — Nada né, não foi difícil e não caiu um raio na sua cabeça né Deus? — Plinio olhou para cima parecendo esperar mais um pouco — É, não caiu

Danielle ficou confusa, mas sorriu pelo gracejo

— Perae — Plínio parecia querer ouvir — Nem chovendo está, não vai ter raio Danielle

Danielle sorriu

— Me fala, você não gosta de ser Moisés e prefere ser Danielle, é isso? — Plínio foi direto

— É — Danielle estava retraída, monossilábica

— Fala cinco bichos, rápido, o que te vier à mente — Plínio disse — Vamos!

— É…. Pinguim, Arara, Girafa, Cachorro e Gato — Danielle disse assustada

— Interessante — Plínio disse anotando algo

— O que isso quer dizer? — Danielle perguntou tentando ler no papel — O que quer dizer esses bichos?

— Na verdade nada, era só pra saber se você conseguia falar mais de cinco palavras ao mesmo tempo

Danielle sorriu

— Olha aí, sorriso bonito, é isso que queremos aqui Danielle — Plínio disse passando confiança

Danielle passou a mão na cabeça, num gesto para arrumar o cabelo, mas sua cabeça estava raspada, sentiu a camurça que se tornou seu couro cabeludo e sua boca entortou em uma careta

— Imagino que não foi você que raspou sua cabeça né? — Plinio disse

— Não — Falou limpando o nariz com a manga do moletom — Foi meu pai

— E ele fez isso por que? — Plinio perguntou atento

— Ele disse que eu tenho que aprender a virar homem — Danielle levantou o queixo e mostrou, estava vermelho — Ele me obriga a fazer a barba todos os dias pela manhã

— Por que? — Plínio disse — Parece que você não tem nada aí

— Ele disse que se eu fizer vai crescer — Danielle disse entristecida

— E você quer que cresça?

— NÃO! — Disse num tom alto — Não quero

— Me explica como é isso Danielle — Plínio disse interessado — Você tem consciência de que você não é uma menina? — Pensou por um segundo — Ou uma mulher?

— Tenho — Danielle respondeu direta — Eu sei.

— E como funciona isso na sua cabeça?

— Eu não quero ser um menino, é ruim, é feio, é fedido, é errado — Danielle falou rápido, parecia um texto decorado — Eu não sou isso.

Plínio deu um sorriso

— É fedido é? — Perguntou de forma divertida

Danielle ficou envergonhada

— Eu não gosto — Ela reafirmou — Não era para eu nascer assim, eu nasci errado!

— Entendi, o que você acha que aconteceu, digo, para você pensar assim, pensar que não é pra você nascer assim, o que houve? — Plínio perguntava de maneira direta, interessada, isso chamou a atenção de Danielle

— Deus errou comigo, na hora de colocar as almas e os corpos ele se confundiu — Ela disse com os olhos cheios de lágrimas — Ou fez isso de maldade mesmo.

Danielle colocou os dois pés na cadeira e abraçou os joelhos, fazendo pequenos movimentos de balanço para frente e para trás.

Plinio observou paciente, fez uma anotação breve no caderno

— Você acha mesmo Deus fez isso de maldade com você? — Plínio perguntou curioso

Ela enfiou a cabeça no meio das pernas e sacudiu de forma negativa

— Olha pra mim, eu preciso que você confie em mim vai, não se esconde — Plínio disse paciente

Danielle olhou para ele, os olhos vermelhos, lágrimas brotando, o rosto vermelho trêmulo

Plínio pegou dois lenços de papel e deu para ela

— Não precisa chorar tá, só quero entender o que está acontecendo com você para poder te ajudar, pra gente resolver essa confusão aí — Plínio disse

— Eu não tô confusa — Danielle se tratou no feminino, a voz embargada — Eu só quero que eles parem

Plínio não demonstrou, mas ficou levemente chocado

— Eu sou uma menina, eu nasci no corpo errado, não era pra eu ter essa porcaria aqui — Danielle falou e bateu com força no meio das pernas três vezes

Plínio se levantou e segurou a mão dela

— Ei ei, não faça isso, você vai se machucar — Plínio disse — Não fazemos isso aqui — Ele falou soltando as mãos dela devagar — Você acredita em Deus mesmo?

— Acredito — Danielle respondeu — Acho

— Você sabe quais são as três coisas que definem Deus? — Plínio perguntou

Danielle era inteligente, muito boa de memória

— Onisciência, Onipotência e Onipresença — Respondeu

Plinio piscou forte

— Acho que você deve ser uma das poucas pessoas que eu conheço que sabem disso — Plínio falou admirado — E sabe o que essas três coisas significam?

— Sabe de tudo, pode fazer tudo e está em todos os lugares — Danielle respondeu certeira

— Parabéns! — Plínio disse — Então quem errou, você ou ele?

— Eu não me fiz! — Danielle disse — Eu fui feita!

— Você acredita em Deus, sabe que ele sabe de tudo e pode tudo, mas você acha que está certa e Deus está errado? — Plínio a tratava no feminino para ter empatia — Ou ele esta certo em tudo no universo, mas só errou com você?

Danielle ficou quieta

— Vai, você é esperta e racional, tenho certeza que já pensou nisso, me fala, estou aberto ao que você tiver aí na cachola — Plínio apontou — Você é bem interessante!

— Sou? — Danielle perguntou curiosa — Por que?

— Você sabe o que é, sabe como as coisas funcionam e tem resposta pra tudo, está escondendo de mim, quero saber — Plínio disse em um tom sereno

Ela respirou fundo

— Ele não errou comigo — Danielle disse

— E o que isso quer dizer? — Plínio se interessou — Você está errada em achar que não deveria ser um garoto e sim ser uma garota?

— Também não — Ela disse colocando o queixo nos joelhos

— Não dá para os dois estarem certos, ou você ou Deus está certo e eu tenho um palpite de quem está certo e de quem está errado — Plínio

— Eu estou errada? — Danielle perguntou

— Está — Plínio disse — Você é um garoto e seu nome não é Danielle

Danielle olhou ao longe por alguns segundos, Plínio ia falar algo mas ela falou primeiro

— Eu nasci um garoto, mas eu vou me transformar em uma mulher, Deus não errou comigo, ele me fez assim por que ele quis, por que eu tenho que ser assim, por que eu tenho que passar por isso

Plínio franziu a testa

— Você chegou a essa conclusão sozinho? — Plínio perguntou curioso

— Sózinha? — Danielle reforçou seu gênero questionando

— Desculpe, Sozinha? — Plinio perguntou — Ou quem te disse isso foi Deus? — Plínio perguntou curioso

Ela respirou fundo e tirou os pés da cadeira, se endireitou novamente

— Jesus veio a mim — Falou olhando para ele, aguardando a reação, esperava que ele risse ou fizesse uma cara incrédula, mas ele parecia observa, esperando ela completar a frase

— Prossiga — Ele disse

— Quando meu pai me viu de Danielle, a duas semanas atrás ele fez isso — Mostrou a mão enfaixada

— E o que é isso? — Plinio perguntou interessado

— Ele me deu um soco e eu me defendi

— Ele te deu um soco onde? — Plinio perguntou calmo

— No rosto, ele já fez antes, já quebrou meu Nariz uma vez, dessa vez eu tava esperta, aí ele eu coloquei a mão na frente e ele quebrou meus dedos

— E depois? — Plinio perguntou

— Ele me deu um soco na cara — Danielle disse — E eu apaguei

— Entendi — Ele disse — Sinto muito por isso, eu vou falar com seu pai

— Não! — Danielle disse parecendo em pânico — Deixa isso pra lá

Plínio ficou surpreso

— Tudo bem — Sacudiu a cabeça levemente — Mas o que tem a ver com Jesus isso?

— Quando meu pai me bateu eu desmaiei, vi um clarão de luz e… — E em um tom mais baixo falou envergonhada — Tocou uma música

— Que música? — Plinio perguntou curioso

— Dont Stop Believe do Journey — Ela falou retraída

Ele deu risada

— Vou procurar saber qual é! — Ele disse anotando no caderno — Jesus estava cantando?

— Não! — Ela disse nervosa

— Estou brincando, pode falar — Plínio se recompôs sorrindo — Continue

— Jesus apareceu para mim, essa música tava tocando.

— E como foi isso?

— Eu estava sentada num balanço, mas não tinha chão, e eu tava morrendo de medo — Ela falou — Aí um homem veio andando e eu sabia que era ele, mas não parecia com as figuras que a gente vê, ele era diferente, mas eu sabia que era ele! — Danielle exclamou — O calor, a paz, a luz — Ela sorriu quando falou, parecia olhar através de Plínio

— Diferente como? — Plinio perguntou curioso

— Ele era preto! — Danielle disse

— Preto? Igual eu assim? — Plinio perguntou

— Mais, cabelo curtinho, muito forte, usando um terno e o terno tava tão apertado que parecia que iria arrebentar os botões, era lindo!

Plínio ficou sério

— Aí ele perguntou se podia sentar do meu lado e eu falei que sim — Danielle disse animada — E ele me chamou de Dani e disse que era para eu não me preocupar porque ia ser assim mesmo, era para eu aguentar firme por que as coisas iam melhorar, mas eu ia ter que passar por mais dor, fisica e psicologica, eu devia tomar cuidado para não quebrar.

— Ele falou que você ia sentir dor? — Plinio perguntou — Jesus não impõe dor pra ninguém

— Mas foi isso que eu disse, pro que tinha que doer, ele disse que eu tinha aceitado isso, mas que só ia entender depois e que minha missão era ensinar aos irmãos a tolerância pelo meu amor e eles iriam reagir com violência — Ela disse sensata

Plinio piscou forte, precisava digerir aquilo, parecia algo lúcido, algo que não dava para ser inventado, dessa vez ele se calou

E Danielle continuou

— Ele encostou no meu meu braço com o dedo e disse “Você não é uma aberração” — Danielle disse explicativa — Aí eu senti uma picada dolorida no braço

— Uma picada? — Plinio perguntou

— É — Ela respondeu — Aí eu acordei e tava no hospital, deitada na maca, tava passando algo numa TV e tava tocando a música que te falei

— Aaahhh — Ele disse parecendo entender algo. — Dont Stop Believe — Ele repetiu pensando — Não pare de acreditar?

— Sim! — Ela disse animada

— Você então sabe que Deus não errou com você — Ele perguntou

— Sim — Danielle disse

— E por que disse que ele errou? — Plinio disse

— Por que eu não sei se foi uma alucinação causada pela pancada na cabeça ou se eu vi Jesus mesmo — Danielle disse com as lágrimas voltando a brotar — Não sei se eu sou louca ou se a porrada foi forte demais e eu misturei realidade com loucura da minha cabeça

— A mensagem de Jesus chega diferente para cada um de nós, acho que você deve se perguntar se foi real ou se foi uma alucinação — Ele disse

— Vocẽ se acha uma aberração? — Ele perguntou

— Acho — Ela respondeu

— Mas ele não disse que você não era uma aberração? — Plinio perguntou confuso

— Disse, com palavras, mas quando ele me tocou ele se referia no futuro, não agora, agora eu não sou nada, mas no futuro eu vou ser uma mulher poderosa e linda! — Danielle falou sorridente

Plínio se impressionou

Ouviu quando bateram à porta e se levantou

— Danielle — Ele disse soltando o ar dos pulmões — Vamos conversar de novo, por hora acho melhor você fingir que é Moisés, o que acha?

— Ta bom — Ela respondeu se retraindo na cadeira

Plínio se aproximou e pegou no queixo dela

— Não, você recebeu uma mensagem de Jesus, custe que custar você tem que ouvir Jesus e seu coração

— E se foi uma alucinação? — Ela disse preocupada

— E se for uma alucinação? Seria a maneira de Deus fazer você ter uma visão dessa, já que você é realista demais, pé no chão demais. — Ele deu as costas — A música falou pra você, presta atenção nos sinais

Ela olhou para ele com interesse.

— Sinais?

Tereza, a mãe de Moisés entrou na sala

— Conversou com ele Dr? — Tereza olhava aflita

— Sim, tenho que procurar essa música aqui — Apontou para Moisés — Dont Stop Believe certo?

Ele sorriu

*** Dias atuais ***

— E aí, ele te ajudou mais que isso? — Fausto perguntou curioso

— Sim, ele me ajudou a me esconder, a gente conversava muito, era muito legal, eu contei tudo pra ele e ele me falava muita coisa

— Vamos animar vai, não quero mais ficar triste, acho que falar me aliviou — Ela disse animada

— Olha só, eu não sou tão ruim assim — Fausto disse animado

Ela caminhou de joelhos até ele e o abraçou, ambos nus, ele sentiu o calor do corpo dela

— Quer fazer amor? — Ela perguntou no ouvido dele

— Quero tudo com você — Ele disse acariciando as costas e a cintura dela, descendo para o bumbum

— Tem musica aqui? — Ela perguntou

— Alexa — Ele disse — Toca um rock’n roll aí

A voz robótica ecoou “Tocando músicas curtidas de Fausto, ordem aleatória”

O Celular de Danielle vibrou novamente

A música começava baixa, Danielle não prestou atenção

— Mas acho que tem alguém te chamando hein — Fausto disse — Melhor olhar, você tava no banheiro ele não parou de vibrar

Ela engatinhou até a bolsa no criado muro na beira da cama e pegou, era o grupo da igreja, havia uma foto do Pastor Plínio, ele havia falecido.

Enquanto ela lia ouviu a música

“Don’t stop, believin’”

Olhou para Fausto e colocou a mão na boca ouvindo a música e digerindo a informação, era muita coincidência tocar aquela música, justamente aquela

Danielle chorou, não sabia por que, mas chorou pela lembrança daquele homem que a havia ajudado, Fausto a acolheu e dormiram juntos.

A música ecoava:

Don’t stop believin’ [Não pare de acreditar]

Hold on to that feelin’ [Segure esse sentimento]

Danielle sentiu seu coração se aquecer.

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Rafaela Khalil é Brasileira, maior de idade, Casada. Escritora de romances eróticos ferventes, é autora de mais de vinte obras e mais de cem mil leitores ao longo do tempo. São dez livros publicados na Amazon e grupos de apoio. Nesse blog você tem acesso a maioria do conteúdo exclusivo.

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