Diário de Rafaela 1 – Capítulo 12 — Assunto duplicado

Diário de Rafaela 1 – Capítulo 12 — Assunto duplicado

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— Rafaela, por que a polícia está me ligando!?

Rafaela olhou para a mãe assustada

 — Dá aqui mãe! — Estendeu a mão pedindo o telefone, Rose entregou a ela

 — Alô!? — Perguntou receosa

 — Rafaela? — O Homem do outro lado da linha perguntou — Está tudo bem?

 — Sim, está tudo bem sim — Ela respondeu falando devagar tentando pensar em algo que fizesse sentido

 — Recebemos um alerta de que você ligou agora para o telefone e dada a situação emergencial uma viatura está indo para o seu local — O homem falou quase robótico

— Não, não precisa — Ela respondeu — Eu estou bem, foi só uma desavença com meu ex-namorado

 — Aguarde no local, mantenha-se em abrigo receba a viatura que ficará em guarda — O homem respondeu — Compreendido?

— Compreendido — Ela respondeu derrotada

— A senhora está em perigo iminente agora? — A pergunta fez Rafaela franzir a testa

— Eu disse que não — Ela respondeu irritada

— Se estiver em segurança diga seu primeiro nome, se estiver em perigo diga seu último nome

Ela respirou

— Rafaela — Ela respondeu sem paciência

— Ok, senhorita Rafaela, aguarda a viatura para esclarecimento, tenha um bom dia.

Poucos minutos depois de desligar o telefone a viatura apareceu, dois policiais, um homem e uma mulher, Rafaela não teve tempo de explicar para a mãe, recebeu os policiais, eles tiveram que preencher uma papelada o que levou cerca de quarenta minutos.

Os policiais voltaram para a viatura e falaram por vários minutos pelo rádio, então, a mulher, mais baixa e corpulenta veio falar com Rafaela

— Há um problema, o agressor da senhora não está onde deveria

— Como assim? Na cadeia? — Rafaela perguntou assustada

— Não, ele saiu na semana passada, mas deveria ficar na casa, uma viatura foi averiguar e ele não é visto a dias — A Policial respondeu sucinta — Precisamos que a senhora compareça na delegacia próxima amanhã até as 12:00.

Eles estavam na garagem da casa, instintivamente Rafaela deu lentos passos para trás até chegar na porta da sala, olhou para fora da casa, parecia um inferno, viu o céu vermelho, pessoas agressivas a olhando querendo matá-la, entrou e foi direto para seu quarto.

Seu irmão chegou alguns minutos depois, ela estava abraçada com o travesseiro olhando para a parede, ele se aproximou e sentou-se na cama

— Estrelinha? — Ele falou acariciando o cabelo dela — Tudo bem aí? a mãe me contou

Rafaela olhou para ele e se ajoelhou, olhou-o nos olhos e depois o abraçou, com muita força o mais forte que pôde, Fábio deixou que ela largasse quando quisesse, o que demorou bastante tempo, até que ela afrouxou

Ela soltou o abraço e se ajoelhou na frente dele novamente, ele observou a irmã, era bonita, mas muito triste.

Pegou a ponta do cabelo, fazia várias curvas

— Gosto do seu cabelo assim “toin oin oin” — Ele falou puxando levemente

Ela pegou o próprio cabelo e respirou fundo

— Preciso cuidar mais dele, ta ensebado — falou cheirando o próprio cabelo.

— Está nada, tá bonito — Fábio falou colocando o cabelo da irmã atrás da orelha — Você vai estar bem para conhecer a minha namorada? Eu queria todo mundo reunido, pra falar com vocês de uma vez só, mas se não estiver, beleza

Rafaela tentou se recompor

— Ela está aqui já? — Olhou na porta e limpou o rosto — Cadê?

— Não, ela teve um atraso, vai vir de taxi, chega em uns quarenta minutos — Ele falou olhando no relógio

— Não deixa ela sozinha na rua, é perigoso, você conhece o taxista? — Rafaela falou num tom quase automático e irracional — Está cheio de doido por aí

— Rafa, Rafa — Fabio a interrompeu — Calma, não é assim, não é perigoso o tempo todo, você tem um retardado apaixonado por você que quer te fazer mal, a July só tem eu de retardado — Ele sorriu

Rafaela também sorriu

— Vou falar todos seus podres pra ela, está fudido! — Falou tentando se animar

Se levantou em seguida, colocou a mão nas costas e soltou o vestido fazendo seus seios aparecerem

Fabio virou o rosto 

— Rafa, me avisa quando for fazer isso — Ele falou reclamando

— Você já viu e já pegou Fábio — Ela falou amarrando o cabelo — Vou tomar banho — Desamarrou o cabelo — Vou lavar o cabelo

Se aproximou do irmão e deu um beijo na bochecha, o abraçou por trás

— Obrigada por ser meu irmão tá — Falou carinhosa enquanto esmagava os seios nas costas do irmão

Ele beijou a mão dela e saiu sem olhar para trás.

Rafaela entrou no banheiro e tomou banho, lavou seu cabelo, se perfumou e foi até o armário, olhou suas roupas, eram curtas, justas, provocantes, mas não queria ser gostosa, não queria ser bonita nem nada.

Colocou uma calcinha de algodão e um sutiã comportado, vestiu um moletom e uma camiseta folgada. Desceu as escadas, os pais conversavam com o irmão e uma garota que estava de costas para a escada

— Ah, olha ela aí — Fabio falou quando viu a irmã

— Filha — Marcel, o pai de Rafaela se aproximou e abraçou a filha, se certificou que ela estava bem.

Algo estava diferente, a relação de Rafaela com a mãe havia mudado, ela apenas se olharam e transmitiram o que pensavam pelo olhar, ela viu que a mãe estava preocupada e que a apoiava, apenas sorriram uma para outra

— Oi, eu sou a July — O sotaque da namorada do irmão era muito forte mesmo nas poucas palavras

Era uma mulher bonita, baixa, aproximadamente 1,60 de altura, pele muito branca, olhos azuis e cabelos loiros lisos até os ombros.

Esticou a mão para cumprimentar Rafaela, mas Rafaela lhe deu um abraço e falou no ouvido dela em inglês

— Aqui no Brasil a gente da abraço, é mais fácil começar assim por que no fim alguém sempre vai te abraçar — falou no ouvido de July arrancando um riso rápido

July se sentiu a vontade com Rafaela, falando em inglês bem rápido

— Uau, você é muito bonita mesmo, seu irmão não mentiu! — July falou olhando para Rafaela

— Você que é, olha esses olhos azuis, demais

July sorriu e agradeceu

— Pronto, já se acharam — Fabio falou para o pai

Conversaram um pouco na mesa e a mãe anunciou o Jantar, comeram e July explicou para eles que a família dela era da Florida e que tinha amigos Brasileiros e que aprendera um pouco de português porque era missionária da igreja Mórmon.

— Pessoal, quero falar algumas coisas para vocês — Fabio falou chamando a atenção da família. — Três coisas na verdade

Apesar de etnicamente bem diferente deles, July se entrosou rápido, Rafaela não era negra, era considerada branca em muitos lugares, mas perto de July o tom escuro ficava evidente.

— Como vocês sabem, minha faculdade termina esse ano, e eu já estou trabalhando — Fabio falou contente

— Vinte anos de curso né! — Marcel falou em tom brincalhão arrancando risos

— Sim pai, muito tempo, a segunda coisa que eu quero falar é que eu vou me mudar para os Estados Unidos com a July

Tanto Rafaela, Marcel e Rosa ficaram mudos, se entreolhando, foi a mãe que falou primeiro

— Mas, mas… é…. Por quê? Já mudar assim? Porque não visitar para ver se você gosta Fábio, não toma uma atitude definitiva assim — A voz de Rose era quase uma súplica.

Fábio sorriu e interrompeu

— E a terceira notícia é que a July está grávida — Ele falou sorridente — E por isso vamos nos mudar

O pai de Rafaela se levantou e agarrou o filho dando parabéns, Rose abraçou July e Rafaela ficou olhando

Ela também estava grávida, teria que ficar lá sem o irmão, com medo, enclausurada em casa, ficou com o olhar distante, notou então que todos olhavam para ela

— Tudo em Rafa? — Fábio perguntou vendo as lágrimas escorrendo do rosto dela — Falei algo errado Rafa?

Ela olhou para o irmão e tentou se conter

Se levantou e disse num tom monótono

— Parabéns para vocês — Assim que terminou de falar se afastou da mesa dando as costas visivelmente entristecida — Preciso ir, desculpem.

Entrou no quarto visivelmente frustrada, sentou-se na escrivaninha e ligou o computador, era grande, branco e barulhento, seu pai havia lhe dado para os estudos e ela usava muito para fazer seus trabalhos da escola e para escrever seus contos de ficção cientifica e fantasia que tanto amava.

Depois de esperar muito, o computador ligou e ela abriu o documento de texto, era uma história de ficção, uma invasão extraterrestre, algo que ela escrevia quando se sentia sozinha, ali ela viajava para uma terra distante, um mundo onde os seres humanos deixavam todas as diferenças de lado, não tinham tempo para o amor e viviam um segundo de cada vez com medo de morrer no segundo seguinte.

Ouviu batidas na porta

— Abre ae — Ouviu a voz do irmão no corredor

— Não, quero ficar sozinha vai embora — Falou chateada

Então Fábio começou a bater na porta de um jeito que Rafaela odiava, uma batida por segundo, devagar, constante

“Toc….Toc… Toc…Toc…” 

Cerca de vinte batidas depois ele disse

— Eu posso fazer isso por horas — A voz parecia entediada

Rafaela se levantou irritada e destrancou a porta, voltando pro computador

Fabio entrou e se sentou no banquinho do lado dela, ficou olhando para o rosto dela esperando-a olhar de volta, Rafaela olhava para a tela, e fingia não se preocupar com a presença dele, mas o silencio dele era irritante, conhecia a irmã, sabia como incomodá-la, a simples presença silenciosa era suficiente.

— Fala o que você quer? — Ela falou olhando pra ele

— Isso é uma espinha? — Apontou para o nariz dela

Rafaela ficou vesga tentando olhar para a ponta do Nariz, Fabio continuou

— Você foi grossa lá embaixo, não gostei, você não é assim, o que aconteceu? — Fabio falou olhando pra ela

Os olhos dela se encheram de lágrima e ele levantou a mão mostrando a palma pra ela

— Sem chorar mano, só fala — Revirou os olhos — fala! — Falou severo

 — Eu não queria ser grossa — Rafaela falou sem voz de choro nem nada

— E por que foi? — Ele perguntou sem entender a resposta

— Eu, eu…. — Ela pensou em algo para dizer — Eu tinha algo pra falar também

— Tinha? E por que não falou? — Fabio perguntou interessado

 — É que eu, é, deixa, é seu momento, parabéns, você vai ser pai né — Rafaela deu um abraço falso no irmão

 Fábio não se mexeu deixando o abraço mais desajeitado ainda, ele colocou a mão no rosto dela e a empurrou

 — Fala logo, para de embaçar! — Ele falou severo — Economiza tempo Rafa

 Ela respirou fundo

 — Eu tô grávida também — Ela falou observando a expressão dele

 Ele pareceu tomar um susto momentâneo, piscou forte e arqueou as sobrancelhas, parecia não acreditar, abriu a boca para falar algo mas desistiu, olhou para ela e depois para a barriga procurando um volume

 — É pouco tempo — Ela escondeu a barriga com as mãos

 — Como isso aconteceu? — Fabio perguntou

— Como engravidei? — Ela perguntou confusa — Não entendi

 — Não Rafaela, como você engravidou, você está namorando? — Fabio perguntou

 — Mais ou menos — Ela respondeu

 — Mais ou menos!? — Ele perguntou num tom de voz mais alto

 — É — Ela respondeu brava — Você também vai ter um filho, por que essa reprovação comigo

 Ele se levantou passando a mão no rosto, visivelmente nervoso

— Caralho Rafa — Ele olhou para ela preocupado — A Mãe e o Pai sabem?

 — A mãe sabe — Rafaela respondeu

 — E o que ela disse? — Fabio perguntou preocupado

 — A gente ainda não teve tempo de conversar, ficou sabendo hoje cedo e — Ela tomou ar — Foi um dia bem confuso pra falar a verdade, tumultuado

 — Caralho mano! — Ele falou massageando a própria nuca — Quem é o pai, você sabe? — Ele perguntou de supetão

 — “Você sabe” — Ela o imitou — Claro que eu sei né porra! — Mentiu

 — Quem é? — Perguntou curioso

 — Não importa, agora… — Foi falar, mas foi interrompida

 — Não importa nada, quem é? — Ele perguntou ciumento

 — Por que quer saber? — Rafaela perguntou disposta a brigar

 — Você é uma menina Rafaela, pelo amor de deus, que merda você fez? — Ele disse transtornado

— Por que eu fiz merda e você recebe aplausos? — Ela perguntou irritada

 — Não mude de assunto! — Ele exigiu

 — É por que eu sou mulher e você é homem né? — Ela falou também elevando o tom

 Ele a encarou transtornado

 — Machista! — Ela falou levantando a mão para dar um tapa no rosto dele

 Mas Fabio foi mais rápido e segurou o pulso dela a empurrando na parede

 — Presta atenção, você é responsabilidade minha, eu te deixo aqui para ir estudar e você vem com essa?

 — Que responsabilidade sua o que! eu não sou de ninguém, vou criar meu filho sozinha, me larga — Ela tentou tirar a mão e o empurrou — Achei que você ia entender, mas nem isso, seu cavalo ignorante!

 Ele continuou segurando o pulso dela

 — Está me machucando, me solta! — Ela falou num tom mais alto

 — Quem é o pai Rafaela? — Fabio perguntou num tom baixo — É aquele neguinho que você estava dando?

— Eu não namoro mais com ele, e o nome dele é Cláudio! — Rafaela respondeu puxando a mão com violência — Me solta! — Exigiu

 — Você tá com filho de vagabundo Rafaela é isso!? — Ele perguntou severo

 — Por que vagabundo? Só por que ele é preto? Eu gosto de preto, tem o pau muito mais grosso – Ela se debateu

 Assim que ela falou ele deu um bofetão na cara dela e a soltou, ela segurou a bochecha com a mão assustada

 — É mais grosso que o seu, seu brocha! — Ela começou a chorar — Filho da puta racista, machista, otário de merda, eu te odeio! — Ela falou tentando sair do quarto, mas ele não deixou

 A abraçou e a apertou 

 — Desculpa, desculpa, desculpa — Falou no ouvido dela — Me perdoa, por favor

 Ela não falou nada, aceitou o abraço

 — Quem é o pai Rafa? Por favor — Ele falou no ouvido dela acariciando o cabelo da irmã

 — É o Doutor Carlos — Ela falou sem resistir

 — O Médico da mãe? — Ele perguntou — O Velho?

 — É, ele mesmo — Confirmou

 — Caralho Rafa — Ele a soltou e se encostou na cama — Caralho meu…

 Ela ficou olhando para ele sentindo a bochecha arder

 — Você vai contar para o pai? — Ele perguntou mais calmo

 — Eu ia contar para vocês hoje, mas você contou antes. — Ela respondeu

 Ele fez que sim com a cabeça

 — Tá, então vamos descer lá e contar agora — Fabio falou se dirigindo à porta

 Rafaela ficou imóvel, olhava séria para ele, e Fabio sabia que aquele não era um olhar amigável, era um olhar magoado

 — Desculpe por ser grosso com você — Ele falou se aproximando para dar um beijo na bochecha vermelha dela

 Rafaela se afastou e levantou a mão rápido com o punho fechado dando um soco no rosto dele pegando na maçã do rosto, deslizando e acertando o nariz, fazendo ele recuar assustado, olhou para ela e piscou, colocou a mão no nariz e depois sorriu

 — Tá bom — Deu as costas — É justo. – Sabia que Rafaela não era agressiva, mas ele havia começado, ela estava revidando, ele havia ensinado isso a ela

 Saiu pelo corredor e desceu as escadas, Rafaela foi atrás, quando voltou pra a mesa todos observavam, July estava envergonhada, com os olhos arregalados, não conseguia esconder sua surpresa

 — A Rafaela tem algo importante pra falar — Fabio declarou e se sentou

 Ela se aproximou da mesa

 — Desculpa ser grossa July — Falou em inglês com a garota — Isso não tem nada a ver com você, eu estou grávida também — Falou notando que os pais não entenderam

 July se levantou e deu um abraço nela

 — Parabéns, que bom! vamos criar juntas! — July parecia bem feliz

 Rafaela se virou para os pais

 — Pai, eu tô grávida a mamãe descobriu hoje cedo, o meu filho é do Dr. Carlos, o médico da mamãe — Despejou a informação de uma vez

 Marcel, o pai de Rafaela piscou forte, sem entender direito, olhou para Rafaela e para Rose, um movimento parecido com o de Fabio, parecia não entender

 Ele se aproximou de Rafaela

 — Tá tudo bem? — Ele perguntou delicado surpreendendo-a

 — Tá sim — Ela respondeu esperando violência como a do irmão

 Ele deu um abraço nela

 — Tudo, bem, vai dar tudo certo — Falou acariciando o cabelo da filha

 Aí ela não aguentou, todo o peso daqueles dias de pânico, da briga com a mãe, da revelação do passado, da gravidez, tudo caiu de uma vez só e ela engatou num choro comovente, não esperava ser tratada desse jeito, foi uma reação tão espontânea que ela ficou chocada

 Ele a acudiu por vários minutos até ela se acalmar e se sentar na mesa

 Rose trouxe a sobremesa, um bolo de chocolate com Coco, do jeito que Fabio gostava.

 Não falaram mais sobre aquele assunto no decorrer da noite, se concentraram na viagem de Fabio e July.

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Rafaela Khalil é Brasileira, maior de idade, Casada. Escritora de romances eróticos ferventes, é autora de mais de vinte obras e mais de cem mil leitores ao longo do tempo. São dez livros publicados na Amazon e grupos de apoio. Nesse blog você tem acesso a maioria do conteúdo exclusivo.

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