É assim que eu me lembro 3 – 10 – Verdade

É assim que eu me lembro 3 – 10 – Verdade

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Eu e Cris chegamos cedo ao trabalho, Táta já estava lá, assim que entrei vi um enorme bouquet de flores na recepção, Táta veio até mim e disse “Tia, são pra você” eu estranhei e fiz uma careta dizendo “De quem são?” Táta pegou um papel e disse “Para a doutora mais linda do mundo, de Fernando” eu arqueei minhas sobrancelhas e soltei um sonoro “hummmm” Christiane me agarrou pela cintura e disse “Aí irmã, arrasando corações ein” e sussurrou em meu ouvido “Quem sabe agora você arruma um marido pra você” e saiu rápido e rindo.

Eu peguei as flores e fui em direção à sala do fundo, as meninas do banho e tosa e da recepção ficaram brincando comigo e fazendo coro de “Tá namorando, Tá namorando” eu ri e saí de fininho. O dia transcorreu normal, até o fim da tarde quando Fernando apareceu, parecia estar maior, vestia uma camisa polo amarela clara, uma calça social preta, sapatos bem lustrados e seu sorriso branco encantador, entrou no consultório com um cachorrinho em uma caixa de transporte, eu perguntei “Está tudo bem com ele?”, Fernando tranquilamente colocou a caixa contendo o cão sob mesa e se virou para mim, colocou as duas mãos na minha cintura e me puxou dizendo “Não parei de pensar em você desde ontem, não consigo dormir” eu empurrei e disse “Senhor Fernando, controle-se, por favor” ele me puxou de novo e disse “Estou apaixonado por você, você é a coisa mais linda que eu já vi na vida” e me olhou nos olhos, não tive nenhuma reação, fiquei olhando de volta, ele se abaixou suavemente em direção a minha, vi cada centímetro de seu rosto se aproximando, seus olhos negros, sua pele morena sem rugas ou marcas, seus dentes brancos e quando percebi, estávamos nos beijando, ele

me apertava contra o próprio corpo, estava bem apertado e gostoso, o beijo então terminou, eu permaneci de olhos fechados nos braços dele, eu fiquei excitada, meu corpo inteiro se arrepiou e senti meu pau dando sinal de vida, e senti uma pressão na minha barriga, devia ser o pau dele, me assustei com esse sentimento e o empurrei assustada, acho que minha cara denunciou o que eu sentia e ele disse “Desculpe, não pude evitar” estávamos ofegantes, comecei a tremer, não sei por  que exatamente, se era por tesão, se por medo dele ter sentido algo enquanto estávamos abraçados ou por outra coisa e eu disse “Não faça isso de novo, estou trabalhando aqui” e ele disse “Desculpe, já disse, não consegui me conter, perto de você eu perco o controle, isso nunca aconteceu antes” me sentei na mesa e falei “O cachorro não tem nada né? Você veio aqui só para me ver?” ele disse “Sim, já deixei a consulta paga” achei fofo, mas tive que endurecer “Não faça isso, se quiser falar comigo vamos sair para conversar, não precisa vir aqui com pretexto” e ele disse “Eu reservei para nós um lugar em um barzinho que eu gosto, você vai adorar” eu perguntei “Quando?” e ele falou “Sexta-feira a noite” imediatamente eu disse “Desculpe, não posso, tenho um compromisso” ele disse “Não posso adiar, se você não for, eu terei que ir sozinho, e não quero ir sozinho” fiquei em silêncio e ele disse “Prometo que vou me comportar” eu disse “Não posso”, ele se aproximou e se ajoelhou, eu estava sentada e ele ficou quase da minha altura, pegou minha mãe e disse “Por favor, se não gostar, prometo não encher mais o seu saco”, eu respirei fundo e disse “Ta bom Fernando, você vai mesmo se comportar?” e ele fez uma cruz com os dedos, na frente do coração “Juro por Deus”, eu fiz que sim com a cabeça e falei “Ta bom” ele sorriu e beijou

as costas da minha mão, eu não pude evitar o sorriso, me levantei e disse “Vou examinar o seu cão” ele disse “Não precisa, ele está ótimo” pegou o cão e foi saindo da sala, se aproximou para me dar um beijo de despedida e eu dei a bochecha, e se desviou e me deu um selinho, eu finji que tentei me desvencilhar e disse “Comporte-se” ele disse “Pode deixar” e foi embora, sentei-me na cadeira do computador e fiquei sentada olhando para o computador, Christiane entrou “Dani, é esse o cara das flores?” eu disse “É sim” e ela disse “Você ta fazendo algo com ele aqui?” eu respondi rapido e um pouco acima do tom “Não Cris, aqui não, é meu trabalho” e ela disse “Dani, você está usando camisinha né?” eu disse “Credo Christiane, parece a mãe falando, eu não to transando com ninguém, só com o Beto” ela disse “Desculpe, só me preocupo com você” eu disse “Cris, Não se preocupa, ele veio aqui e conversamos, eu disse que aqui no ambiente de trabalho eu não vou fazer nada com ele, ele me chamou para sair na sexta- feira a noite, e eu aceitei” Christiane pensou um pouco e disse “Você não ia sair com o tal da academia?” eu coloquei a mão na testa e disse “É, eu sei, mas ele insistiu, falou que tinha reservado e tal, vou ligar para o Fernando e desmarcar, estou me sentindo uma crápula por isso” Christiane disse “Crápula não Dani, você é uma Vagabunda. Você não queria ser mulher? Bem vinda” e saiu da sala, voltei para o computador e não entrou mais ninguém até a hora de ir embora, dei carona para Táta e voltei direto para casa, Beto já estava lá, ficamos vendo filme e conversando sobre banalidades, adormeci e acordei horas depois quando Cris chegou, tinha ficado para organizar algumas papeladas da clínica.

Olhei no celular e já era o horário que a academia ia fechar,

liguei para o Marcelo e disse que tinha um imprevisto e que não poderia sair com ele na sexta, se ele queria sair na quinta ou no sábado, ele foi super gentil e me perguntou se eu queria mesmo sair com ele, eu confirmei e ele disse que sábado estaria bom, então ficamos para sábado.

A semana passou voando, recebi flores de Fernando todos os dias, não pude ir na academia nenhum dia, Crispediu que eu ficasse na clínica, teríamos que levantar alguns arquivos antigos que não foram digitalizados só Tata foi liberada para, nas palavras da Christiane “Cuidar das coisas do casamento”.

Na sexta-feira, conforme combinado, sai mais cedo, fui para casa, tomei um banho demorado e fiquei pensando em não me exaltar muito com o Fernando, deitei nua na cama e ouvi a porta se abrindo da sala, ouvi passos e depois alguém bateu na porta “Dani, ta ai?” era o Beto e eu disse “Estou, entra querido” puxei uma toalha e cobri a parte debaixo da minha cintura,  com a mão escondi os seios, Beto entrou e disse “Boa noite Afrodite” eu perguntei “Afrodite?” ele disse “É, ta parecendo aquele quadro, que ela cobre os seios com o braço e a buceta com os cabelas” fiquei olhando para ele sem expressão, achei engraçado mas quis constrangê-lo de propósito “Ele disse, ta bom, a piada foi ruim” e eu perguntei “Quer falar comigo?” e ele disse “Nada específico, cheguei agora e vi seu carro na garagem, só queria sabe por que você estava em casa tão  cedo” me afastei na cama, continuei deitada e bati do meu lado para ele se deitar, ele se deitou e falou “Hmmm, que cheirosa” eu disse “Obrigada” ficamos olhando para o teto e ele disse “É hoje que você vai sair né?” eu disse “É sim, você lembrou, que bom” e ele disse “Não pensei em outra coisa hoje, você está tomando cuidado?” eu perguntei “Que tipo?” ele disse “Sei lá,

saber aonde o cara mora, se é violento, se é preconceituoso, aonde vocês vão e etc?” eu não tinha nenhuma das respostas do que ele tinha acabado de falar mas mantive a calma e disse “Meu amor, está tudo bem, confie em mim” ele se virou de lado para mim e disse “Eu confio em você, não confio é nos outros” eu me virei para ele e disse “Ta com ciúmes?” ele respondeu “Claro que estou, mas isso não quer dizer que eu não quero que você saia, se divirta e seja feliz” automaticamente eu sorri, ele é realmente um sonho de pessoa, me aproximei e dei-lhe um abraço bem apertado, ele beijou meu pescoço e eu disse “Eu te amo seu bobinho” e ele disse “Eu sei, todos me amam” eu ri e voltamos à posição original, e vi que sua expressão ficou mais séria que a de costume “Dani…Estive conversando com a Cris e…” ele demorou para terminar a frase e sua face se contorceu e eu disse “E…?” ele falou “Você já reparou que Cris e Dani são anagramas?” eu disse “Como assim” ele disse “É o mesmo nome, só que com letras trocadas” eu troquei mentalmente as letras e disse “É, tem razão” e el completou “Mas não é isso, eu queria dizer, que conversei coma Christiane e estamos preocupados com você” eu disse sorrindo “Não precisam se preocupar, eu estou bem, e vou usar camisinha se é isso que você esta querendo saber” ele disse com o ar um pouco entristecido, creio que o magoei, mas ele se controlou “Não é sobre isso, é sobre a sua sexualidade Dani” eu disse “O que tem?” ele falou “Você já contou para esse cara que você é uma transexual?” fui atingida por uma súbita irritação e me levantei da cama, fui até o armário e abri dizendo em voz alta “Eu sou um travesti, não uma transexual” ele se aproximou e me abraçou por trás dizendo “Não fica brava comigo meu anjo”

não pude conter me irritar, esse assunto me deixava extremamente chatiada, queria explodir quando alguém falava disso, eu sempre tentava fugir quando esse assunto vinha a tona e eu disse “Se não quiser me ver brava não fala disso” senti o bafo quente de seu hálito em minha nuca, ele encostou o queixo e meu ombro e ficou quieto, eu disse “Desculpa” ele falou “Você se irrita sempre que toco nesse assunto” me sentei na cama, minha cara deveria estar feia, ele se aproximou e disse “Não fica assim, mas é a realidade meu amor, a gente precisa falar disso” eu disse “Então fala” ele disse “Você falou pra esse cara o que você é de verdade?” eu disse, como se fosse óbvio “Claro que não né caralho, você acha que eu fico anunciando aos quatro cantos que eu sou um travesti?”, me levantei e coloquei um sutiã rendado, preto que eu havia separado para a ocasião ele disse suavemente “E quando você vai falar pra ele?” peguei o vestido e coloquei na frente do corpo, me virei para ele e disse “E por que você acha que eu vou falar pra ele?” e ele disse “Você vai deixar o cara pelado primeiro e depois do boquete você vai dizer ‘Só para constar, eu também tenho um pinto’” fiquei séria e disse “É isso mesmo” ele disse “Você vai levar porrada por isso Dani” e eu o desafiei “E se eu levar, você não tem nada com isso” ele se aproximou e abaixou a cabeça, demorou um pouco para falar e isso já me doeu o coração “Talvez, você ache que eu não tenho nada com isso, mas você é o amor da minha vida, não quero ter que sair caçando ninguém por aí com uma faca depois de ter feito algo com você, não quero chorar de novo e te ver naquela situação” fiquei em silêncio, ele não olhou para mim e ia saindo do quarto, eu o peguei pelo braço e o abracei e falei no seu ouvido “Eu vou contar, estou tomando cuidado, só não vou

falar para esse ainda, por que acho que não vai evoluir, vamos ficar só nisso” sua voz estava entristecida, assim como seu semblante “Apenas seja honesta com você e com quem você gosta”, me beijou no rosto e saiu do quarto, as lágrimas brotaram levemente de meus olhos, eu o havia magoado e isso doía muito em mim, tive raiva de mim mesma por ser tão bocuda.

Coloquei minha proteção e uma calcinha preta pequena, enfiada na bundinha, um vestidinho também preto bem justinho e decotado, me perfumei, peguei uma bolsa e uma blusa, desci para a sala, não havia ninguém, me sentei e meu celular tocou, era o Fernando, sai e fui até a esquina de casa, aonde combinei com ele para me pegar, ele chegou, um carro vermelho, não sei a marca, mas tinha teto solar e parecia pequeno para o tamanho dele, assim que entrei ele  quis me dar um selinho, mas fui mas rápida e ele conseguiu apenas o canto da boca.

Ele disse “Boa noite minha rainha” achei brega o comprimento dele mas respondi com sarcasmo “Boa noite meu rei africano” ele sorriu feliz, creio que não pegou o sarcasmo. Chegamos no local que ele havia dito, era uma casa de pagode, fiquei chocada, incrédula, assim que saímos do carro ele pegou em minha mão e fomos entrando, não consegui disfarçar minha insatisfação ele me perguntou se estava tudo bem e eu dei um sorriso amarelo dizendo que estava. Entramos e o local não estava tão frio como a parte de fora então tirei o casaco, e coloquei na cadeira, Fernando estava sentado ao meu lado quando viu meu decote, apontou e disse “O que é isso?” olhei  e disse “O que?” ele falou “Isso” encostando o dedo em meu peito, acima dos seios e eu disse “A Tatuagem?” e ele disse “É,

eu não tinha visto” mostrei meus braços e disse “Tinha visto essas?” ele olhou incrédulo e disse baixinho “Não” ele ficou pensativo e disse “Você é do rock né?” eu sorri e disse “O que você acha?” ele sorriu e disse “Acho que você não vai gostar daqui, né?” eu apenas sorri solidária, ele se levantou e disse “Vai, vamos pra outro lugar” me levantei e sai com o casaco na mão, as pessoas me olhavam como se eu fosse extraterrestre, voltamos ao carro e ele ficou com as duas mãos no volante olhando para frente e disse “Aonde vamos ein?” eu disse “Pega a marginal, tem um lugar legal pra gente ir” levei ele em um restaurante que tem MPB ao vivo, quando nos sentamos eu disse “Aqui é um lugar neutro para nós dois, nem eu nem você” e ele disse “Eu gosto de MPB” eu falei “Então vamos para outro lugar”, conversamos e comemos, ele começou a se aproximar de mim até ficar quase lado a lado, ele foi se aproximando, se aproximando e eu comecei a pensar no que o Beto havia me dito, para que eu fosse honesta, já estávamos ali a umas duas horas, Fernando se aproximou para me beijar e eu me afastei, ele disse “Que isso gata, to sentindo o gostinho do seu beijo desde aquele dia” se aproximou ao ponto de encostar seus lábios aos meus, me afastei com força e ele disse “O que foi? Só por que eu sou pagodeiro você não vai querer mais nada comigo gata?”, coloquei a mão no rosto e acertei o cabelo falando “Não acredito que vou fazer isso” e ele disse “Isso, entregue-se gata” eu o olhei, ele estava lindo, radiante e sorridente então eu disse “Eu tenho que ser honesta com você, não posso continuar com isso?” e ele disse “Você é casada? Tem namorado? Se for eu não ligo, só quero você” colocou a mão em minha perna e começou a massagear, eu não gostei do tom que ele disse, senti uma falsidade, algo que eu não tinha

pego na personalidade dele até então, olhei bem para ele e  tirei sua mão de minha perna, ele ficou sério e eu falei “Me da atenção, o que eu quero te falar é sério, por favor” ele disse  “Ta bom linda, sou todo ouvidos” eu pensei por um minuto, e pensei que ali seria o lugar ideal, ele não faria nada comigo, haviam muitas pessoas ao meu redor e eu falei de uma só vez “Eu não sou mulher” ele ficou sem expressão e perguntou “Como assim?” eu disse novamente “Eu não sou uma mulher, só pareço uma” ele disse “Você é um transexual?” eu disse “Não, eu sou um homem” ele ficou quieto, olhando para a mesa, para mim, me mediu da cabeça a os pés e disse “Não acredito” peguei minha bolsa e mostrei meu RG, ele olhou por alguns segundos e jogou o RG em cima de mim, se levantou e gritou “Que porra é essa meu irmão?” me levantei e andei de costas para me defender de alguma agressão física, ele veio em minha direção, sua expressão mudou, me deu um empurrão, não consegui me equilibrar e caí no chão, um cara da mesa ao lado o abraçou e o encostou na parede, mais alguns caras o seguraram também e ele gritou “É homem essa porra, deixa eu matar esse viado” todos os olhares estavam em mim, eu tentava me recompor, vi meu RG no chão e peguei,  ele apontou para mim e disse “Seu filho da puta, eu vou te matar, você me fez beijar um homem” eu gritei “Você me agarrou” ele veio para cima de mim de novo, mas foi segurado, o gerente do restaurante colocou a mão em minhas costas e me puxou para o fundo, ouvi sua voz “Vem comigo moça” entramos no quarto dos fundos haviam dois computadores em cima de duas mesas, e ele disse “Fica aqui, fecha a porta por dentro, já volto, não chama a policia”, assim que ele fechou a porta eu saí atrás dele, e voltei para o salão, ouvi ele falando “Senhor, vou ter que

pedir que o senhor se retire, mas antes pague o prejuízo” pelo ângulo eu não conseguia ver Fernando mas ouvi seu berro “Quem saiu no prejuízo aqui foi eu, chama a polícia que eu vou colocar esse traveco na cadeia” e em seguida bradou “Vocês viram aquela porra que estava comigo? Era um travesti aquilo, aquele lixo” estranhamente não tive nenhum sentimento no momento, nem medo, nem raiva, o mais próximo era pena,  não sei por que, vi quando dois homens grandes de terno se aproximaram e conduziram Fernando para o lado oposto de onde eu estava, o gerente voltou para mim e disse “Ele vai pagar os prejuízos, você quer que eu chame a polícia? Ele te ameaçou moça, vai naquela delegacia da mulher” eu disse  “Não precisa não, obrigada” e ele disse “Ele é seu namorado?” eu disse “Não, só um cara que eu conheci” o gerente disse “A senhora…” e eu disse “Sim, sou um travesti mesmo” ele disse “Não parece” e eu disse “Obrigada, você pode chamar um táxi pra mim?” ele chamou e eu sai, não vi mais Fernando, no táxi eu caí no choro, acho que tudo o que senti descarregou de uma só vez, o taxista disse “Por que uma menina tão bonita assim está chorando?” eu não respondi e ele falou “Se estiver muito caro eu dou um desconto vai, menos 10% para você” eu ri da piada e ele me olhou pelo retrovisor “Assim está melhor, muito mais bonita rindo” eu disse “Muitos problemas tio, muitos problemas” e ele disse “Quem não tem problemas?” fiquei em silêncio e ele disse “Se uma pessoa se livra de todos os problemas ela fica louca, a cada problema que você resolve, outro é criado automaticamente, a vida é assim meu bem” eu disse “É, verdade” chegamos em casa, dei dez reais de caixinha para o taxista bonzinho.

Não havia ninguém em casa, entrei e estava tudo escuro,

procurei e não achei ninguém, peguei meu carro e saí, dei algumas voltas no quarteirão para esfriar a cabeça e sem pensar peguei o celular e liguei para o Marcelo, tocou três vezes “Alô?” eu disse “Má?” e ele disse “Oi Dani” eu não consegui conter minha voz de choro e disse “Oi” ele perguntou “Ta tudo bem? Aonde você tá?” eu disse “Desculpa te ligar” e desliguei o telefone, não sei por que liguei para ele, não estava pensando em nada, estava muito triste, e meu celular tocou, olhei e era o Marcelo, parei o carro e atendi “Alô” ele disse “Dani, onde você está?” e eu disse “Na rua, no meu carro” ele perguntou “O que aconteceu? Ta tudo bem?” eu disse “Não ta nada bem” ele perguntou e senti a preocupação real em sua voz “Você está machucada?” e eu disse “Não” ele disse “Fica aí, que eu estou indo, me da o endereço de onde você está” mas eu disse “Não, me da o endereço da sua casa, vou passar aí pra te pegar e a gente conversa” ele me deu o endereço, ativei o GPS e fui, era um pouco longe dali, longe mesmo da academia, cheguei no endereço, era um prédio, ele estava na frente, vestia um moletom cinza de exercícios físicos, quando viu meu carro acenou, parei e eu disse “Entra” ele entrou no carro e eu dirigi sem falar nada, e ele então disse “Você está muito bonita”, olhei para ele e ainda estava confusa, falei “Se você soubesse o monstro que eu sou você sequer chegava perto de mim” ele disse “É agora que você joga o carro contra o muro e mata nós dois?” eu sorri e disse “Não sou psicopata,  antes fosse esse meu problema” ele disse “Nossa, é tão sério assim?” eu fiz que sim com a cabeça, e continuei andando com o carro  a esmo, e ele falou “Bem, então me fala” fiquei quieta e ele disse, obviamente tentando puxar assunto “Peguei uma folga finalmente, semana que vem eu vou ficar só em casa, to

pensando em fazer alguma viagem, to sem ideia” eu continuei quieta e ele também se calou e eu disse “Vá viajar” ele disse “Ela se comunica!” brincando e eu falei “Claro que me comunico seu bobo” e ele falou “Ta Dani, para o carro, vamos conversar” parei em um lugar que só haviam casas residenciais, não havia ninguém por perto desliguei o motor e me virei para ele, ele pegou minha mão e começou a massagear e disse “Se eu apertar os pontos certos da sua mão você relaxa e posso até te fazer desmaiar” eu sorri e disse “E por que você iria querer isso?” ele disse “Costumo fazer isso com minhas vítimas antes de joga-las no mar” eu ri e disse “Você não é psicopata vai” ele disse “Não, mas poderia ser” conversamos um pouco e rimos, então ele me perguntou “Você saiu com alguém hoje né?” eu me envergonhei da resposta que veio a minha mente, mas lembrei que estava tentando ser honesta e eu disse “Sim, me desculpe, desmarquei com você para sair com outra pessoa, sou uma vagabunda mesmo” coloquei minhas duas mãos no rosto e meu cabelo caiu sobre meu rosto, Marcelo passou a mão em minha testa tirando meu cabelo e disse “Não precisa se desculpar, não temos nada sério” olhei para ele e disse “Eu não tenho muitos amigos, você é um dos poucos” ele disse “Não quero ser seu amigo Dani, quer ser seu namorado” eu disse “Eu sei, Má, desculpe, só deixe eu continuar” ele disse “Continue” eu falei “Então, você gosta de mim né?” ele disse “Sim, gosto muito, achei que isso estivesse claro” eu sorri e disse “Claro que está, eu também gosto de você, tenho um pouco de medo de relacionamentos mas quero te conhecer mais” ele sorriu e disse “Que bom” e eu falei “Agora, eu quero que você seja sincero comigo” ele disse “Sim” e eu falei “De verdade do fundo do seu coração, eu não vou te recriminar, te

odiar, nem nada” ele franziu a testa “O que foi Dani?” eu disse “Eu tenho um segredo e quero contar ele para você, eu gosto de você, quero que você se torne alguém importante na minha vida.” Ele perguntou “Está me assustando Dani, fale logo” fechei os olhos e disse “Não importa a sua posição à meu respeito, eu não vou te odiar” ele me interrompeu “Dani, fala,  o que aconteceu?” eu disse “Não aconteceu nada, o problema sou eu, é o que eu sou” ele me olhou nos olhos, voltei a fechar os olhos e disse “Eu sou um homem” ouvi ele engasgando e limpando a garganta em seguida e eu continuei “Pelo menos, nasci um homem” ele ficou em silencio, continuei de olhos fechados, não sabia o que esperar, palavrões, ofensas, ou  quem sabe alguma agressão física, eu estava pronta.

Abri meus olhos e vi Marcelo encostado do lado oposto do carro, estava pensativo, triste e eu disse “Tudo bem?” sua voz saiu baixa, rouca e ele disse “Você poderia ter dito simplesmente que não queria nada comigo, não precisava inventar algo desse tipo” eu não pude evitar e dei um sorriso, eu estava completamente nervosa e disse “Não Má, não faz isso, eu não estou te dispensando” ele me olhou confuso, eu peguei minha bolsa e dei minha cartada final, mostrei minha identidade para ele, nela constam meu nome e meu sexo verdadeiro ele olhou e seu semblante não se alterou, ficou aproximadamente cinco minutos analisando a identidade, creio que procurava algum sinal de falsificação, então ele rompeu o silêncio “Isso é mesmo de verdade?” e eu disse “É sim” ele estendeu a mão e me devolveu a identidade, olhou para baixo e ficou pensando, deixei-o assim, o tempo foi longe, cerca de vinte minutos, deixei ele respirar, ele não tinha nenhuma reação, nem positiva nem negativa e eu disse “Má?” ele

levantou a cabeça e disse “Você pode me levar em casa, por favor?” eu liguei o carro e fui em direção à casa dele, ele não disse nenhuma palavra, assim que parei em frente ao seu prédio ele abriu a porta do carro, e eu disse “Tchau” ele me olhou, e vi seus olhos cheios de lágrimas, estava entristecido, de coração partido, ele desceu do carro sem dizer uma única palavra, entrou na portaria do prédio e do hall do elevador eu consegui vê-lo, me olhando.

Arranquei com o carro, eu estava arrasada, meu peito doía e eu tinha vontade de chorar, me sentia aliviada e por esse sentimento eu me sentia culpada, a cara de mágoa dele me fez sentir mais culpada, ele não teve reação alguma, sempre achei ele muito reprimido, tive medo que isso o tornasse mais reprimido ainda, coloquei na minha cabeça que eu já o tinha perdido então nem alimentei mais sentimentos sobre isso.

Apenas fui para casa e lá encontrei Christiane dormindo em um sofá e Alberto, quando Beto me viu ele disse “Oi branquela, já chegou” ele olhou para mim e percebeu que minha cara não estava boa, ele se sentou e esticou o braço para mim “O que foi amor? Vem cá” peguei na mão dele, e ele me puxou para seu colo, abracei-o e enfiei a cara em seu pescoço e desabei a chorar, ele me abraçou forte.

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Rafaela Khalil é Brasileira, maior de idade, Casada. Escritora de romances eróticos ferventes, é autora de mais de vinte obras e mais de cem mil leitores ao longo do tempo. São dez livros publicados na Amazon e grupos de apoio. Nesse blog você tem acesso a maioria do conteúdo exclusivo.

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