É assim que eu me lembro 3 – 13 – Epílogo

É assim que eu me lembro 3 – 13 – Epílogo

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Três anos depois-

Eu e Marcelo estávamos indo para o cemitério, faziam  três anos que aquela viajem se tornara frequente, amo todas as pessoas que mantenho à minha volta e mesmo aquelas que já se foram teimam em deixar em meu coração um sentimento de saudade, de amor inigualável, não costumo ir em velórios pois gosto de lembrar da pessoa da maneira exata de como ela era comigo, sorridente, sincera, viva, não uma estátua parada.

Chegamos ao cemitério e vi Christiane ao Longe, também Rosana, Ana Paula, Roberto com sua esposa, Táta com seu marido, Paulo. Eu disse para Marcelo “Amor, para ali ó” ele estacionou, eu peguei as flores e fui em direção ao túmulo rotineiro, me aproximei Ana Paula estava lá, quieta, com os olhos vermelhos, imagino que sinta algum tipo de culpa em seu coração, as pessoas esperam demais para dizer algo para seus entes queridos e quando essas pessoas se vão, as frases não ditas se acumulam e se tornam mágoas e dores.

Assim que ela me viu disse de forma amarga “Bom dia” se levantou e saiu limpando as lágrimas, Marcelo saiu de perto de mim e eu me ajoelhei, coloquei as flores no túmulo e tirei uns capins que cresciam no Jazido, fui tomada de um sentimento  de saudade gigantesco e então comecei a chorar, tirei um lenço da bolsa e limpei meu rosto, sabia que iria chorar e não coloquei nem maquiagem, ouvi então uma voz fininha me chamar “Tiaaaa” me virei e vi meu sobrinho de três anos de idade abri os braços e disse “Vem querido” ele veio correndo e me abraçou “Oi tia, que saudades” eu o apertei e disse “Também tive saudades sua meu gostoso” ele disse “Tá cheirosa” e eu perguntei “Você gosta?” ele disse que sim com a cabeça, eu perguntei “Cadê sua mãe?” ele apontou “Tá alí ó” Christiane nos viu e veio em nossa direção, estava longe, eu perguntei “Ta tudo bem com você meu amor?” ele disse “Tá sim tia, eu ganhei um trator” e eu perguntei “Um trator? Quem te deu?” ele disse “A tia Rosana” e eu disse “Me mostra ele depois?” ele disse “Mostro, ta lá em casa, a senhora brinca comigo?” e eu disse “Claro meu amor” abracei-o e fiz cócegas em seu pescoço, ele riu e se encolheu, apontou para a lápide e perguntou “Tia, o que é isso?” e eu disse “É um túmulo meu anjo” e ele disse “O que é um tumalo?” e eu disse “Tú-mu-lo, é aonde as pessoas descansam depois da vida” e ele disse “Ai embaixo?” e eu disse “Sim, aí embaixo?” ele ficou pensativo e perguntou “Não voltam mais?” e eu disse “Não querido” ele ficou quieto e eu disse “Mas não pense nisso, por que eu vou te mordeeer” e mordi o pescocinho dele, ele se encolheu e riu, Christiane se aproximou e disse “Oi Dani”, ela se abaixou, eu disse “Oi Cris” ela me perguntou “Tudo bem?” eu disse “Sempre fico ruim quando venho aqui” Cris abraçou seu filho e disse “E por que vem?” senti as lágrimas saírem de meus olhos “Sei lá, saudades”, Christiane disse “Por que você quis trazer o túmulo do pai pra cá?” e eu disse “Ah, aqui é tão bonito, tão verde, acho que ele ia gostar desse lugar, e é melhor a família toda ficar aqui, um lugar pra gente centralizar daqui pra frente”

“DANIEL!”

Ouvi uma voz grave chamar e um característico som de passos com uma bengala de madeira apoiando, o sorriso veio aos meus lábios inconciêntemente, Daniel, que estava sendo abraçado por Christiane levantou a cabeça e disse “Tô aqui papai” e a voz grave disse novamente “Tem algodão doce e cachorro quente, você vai querer o que?” eu sussurrei “Cachorro quente pra mim” e Daniel disse “Eu quero dois cachorro quente”. Daniel saiu correndo com dificuldade e Christiane disse “Você e o Marcelo vem almoçar conosco hoje né?” e eu disse “Não sei Cris, tem que ver se ele vai fazer algo com o Steve, eles ficam se falando por internet e telefone, quando o Steve volta é relatório atrás de relatório que o Má tem que fazer” Christiane brincou, ele já é careca Dani, não vai perder nada. Christiane se levantou e eu olhei novamente para o túmulo de meu pai, sentia saudades, sentia medo de ter que senti aquelas saudades de novo, pensava se ele iria aprovar o que me tornei ou se ia ser contra, ouvi passos e a bengala novamente, o som era inconfundível, as lágrimas desciam devagar, senti ele se aproximar, ele abaixou com dificuldade e me abraçou por trás, senti sua barba grossa roçar com delicadeza e cuidado meu pescoço e ele disse “Eu te amo” peguei sua cabeça e acariciei seu cabelo “Eu também te amo Beto”

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Rafaela Khalil é Brasileira, maior de idade, Casada. Escritora de romances eróticos ferventes, é autora de mais de vinte obras e mais de cem mil leitores ao longo do tempo. São dez livros publicados na Amazon e grupos de apoio. Nesse blog você tem acesso a maioria do conteúdo exclusivo.

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